Caso Alice: ‘Dívida de R$ 22 foi estopim, mas motivação é transfóbica’, diz delegada

Alice Martins Alves foi espancada na Savassi, na Região Centro-sul de Belo Horizonte por funcionários de pastelaria de BH e morreu duas semanas depois

Alice Martins Alves, mulher trans de 33 anos, morta após complicações de agressões

A Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) informou, nesta quinta-feira (4), que concluiu o inquérito que apurou a morte de Alice Martins Alves. Os detalhes da investigação serão apresentados em coletiva de imprensa, realizada no Departamento Estadual de Investigação de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), a partir das 16h.

Alice morreu aos 33 anos. Ela foi espancada na Savassi, na Região Centro-sul de Belo Horizonte, na madrugada de 23 de outubro e faleceu duas semanas depois por complicações dos ferimentos.

Dívida de R$ 22 foi estopim, mas motivação é transfóbica

Em coletiva de imprensa, a delegada Iara Franca, responsável pela investigação, revelou que, embora o estopim das agressões tenha sido uma dívida de R$ 22 de Alice com a lanchonete Rei do Pastel, a motivação real por trás da brutalidade foi a transfobia.

“Hoje nós podemos afirmar, com clareza, que o estopim das agressões foi a dívida dela de R$ 22. Mas não foi de fato essa motivação, teve ainda a motivação transfóbica de pano de fundo para que isso ocorresse de forma mais brutal”, afirmou a delegada.

Os principais suspeitos são dois funcionários do estabelecimento, um garçom de 27 anos e um coautor de 20 anos, que foram identificados e ouvidos no Departamento Estadual de Investigação de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).

Agressões brutais e cerceamento da liberdade

A delegada Franca detalhou que os autores “perseguiram ela, cercearam a liberdade dela em torno de 200 metros do Rei do Pastel”. A ação violenta só cessou com a chegada de um motoboy que passava pelo local, que escutou os “vários gritos de socorro da Alice” e a encontrou ensanguentada, com o nariz quebrado.

O motoboy relatou ter sido ameaçado pelo suspeito de 27 anos, que agiu de forma mais ativa no comando da ação. Segundo a delegada, a atitude transfóbica foi confirmada quando o agressor se dirigiu ao motoboy e, referindo-se a Alice, usou o pronome masculino e a chamou de “ladrão”.

“O garçom de 27 anos ameaçou o motoqueiro, pediu para ele sair, e chamou Alice pelo pronome ‘ele’, chamando de ladrão. Isso já dava para entender a motivação pela identidade de gênero, comportamento transfóbico,” ressaltou a delegada Iara Franca.

A PCMG esclareceu que não há indício de participação de qualquer outro funcionário, gerente ou proprietário da lanchonete, sendo a agressão uma “prática autônoma dos funcionários” que se revoltaram por deixarem de receber R$ 2,10 referente aos 10% de gorjeta.

Apesar da conclusão da investigação, os suspeitos não foram presos, pois a Justiça negou os mandados de prisão sob a justificativa de ausência de nexo causal entre as lesões e o óbito no momento da solicitação.

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Formada em jornalismo pelo Centro Universitário de Belo Horizonte (UniBH), Giullia Gurgel é repórter multimídia da Itatiaia. Atualmente escreve para as editorias de cidades, agro e saúde

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