Caso Alice: ‘Agressores usaram força física bruta por acreditarem que vítima era homem’

Durante espancamento, principal agressor xingou a mulher trans de ‘ladrão’ e ‘safado’

Alice Alves tinha 33 anos e era esteticista

A Polícia Civil revelou, em entrevista coletiva realizada na tarde desta quinta-feira (4), detalhes sobre a conclusão do inquérito que apurou a morte de Alice Martins Alves, mulher trans de 33 anos, brutalmente espancada no dia 23 de outubro, na Savassi, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte. Segundo a delegada Iara França, os agressores empregaram enorme força bruta nos golpes por acreditarem que a vítima possuía resistência de um homem.

“Sabemos, por todos os elementos coletados, que eles empreenderam uma força física mais bruta, superior, por acreditarem que Alice era um homem e que um homem, teoricamente, ‘aguenta mais porrada’, como eles disseram, que uma mulher. Então, sabemos que essa força física colocada contra a Alice também foi um fato transfóbico”, apontou a delegada.

Mesmo com os indícios, França contou que os suspeitos negaram ser transfóbicos, alegando que 80% dos clientes do Rei do Pastel são LGBTs. Porém, gravações mostraram que eles se referiram a Alice utilizando pronomes masculinos.

“Nas próprias gravações dos áudios captados no ambiente, nós percebemos que um deles, que é a pessoa que comanda as agressões, se refere a Alice em três ou mais ocasiões como ‘ele’. E também, quando o motociclista se aproxima, ele se refere a Alice como um homem e fala ‘ladrão, safado’, ‘você não vai defender esse safado’, diversas injúrias. Ele mesmo se dirige a Alice como se homem ela fosse”, explicou Iara França.

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O crime

As agressões aconteceram na noite de 23 de outubro, quando Alice foi acusada pelos autores de ter deixado a pastelaria sem pagar uma conta de R$ 22, algo negado por ela no dia do ocorrido. Ainda assim, segundo a polícia, esse tipo de situação já havia ocorrido antes, tanto com ela quanto com outros clientes, sem gerar conflitos, já que os consumidores costumavam voltar posteriormente para quitar o valor.

Mesmo assim, dois funcionários decidiram persegui-la. Neste momento, ela foi agredida por homens que trabalhavam na pastelaria, e socorrida posteriormente em uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) e liberada.

A investigação aponta que a vítima era conhecida no local e relatava sofrer olhares preconceituosos.

Após voltar a sentir dores, foi internada em um hospital particular em Contagem, na Grande BH, no dia 26 de outubro, onde constatou costelas quebradas e lesões graves.

No dia 8 de novembro, uma nova internação identificou uma perfuração no intestino, causada pelas agressões. Alice morreu no dia seguinte, em um hospital particular de Betim, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, por conta de uma infecção generalizada.

O caso ganhou repercussão nacional após desabafo emocionado de Edson Alves, pai de Alice, no velório da mulher trans.

Nota Rei do Pastel

Em nota publicada nas redes sociais no dia 14 de novembro, o Rei do Pastel se manifestou e disse estar à disposição das autoridades competentes desde o início das investigações.

“Ressaltamos a nossa solidariedade incondicional aos familiares e amigos da Alice, e destacamos que não compactuamos, em hipótese alguma, com ações discriminatórias referente a identidade de gênero, orientação sexual, raça ou qualquer outra natureza”, afirmou o estabelecimento.

Maic Costa é jornalista, formado pela UFOP em 2019 e um filho do interior de Minas Gerais. Atuou em diversos veículos, especialmente nas editorias de cidades e esportes, mas com trabalhos também em política, alimentação, cultura e entretenimento. Agraciado com o Prêmio Amagis de Jornalismo, em 2022. Atualmente é repórter de cidades na Itatiaia.

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