BH 128 anos: os mercados que, entre tradição e reinvenção, contam a história da capital

Antes um ‘elefante branco’ e hoje um local turístico, Mercado Novo foi planejado para substituir o então Mercado Municipal, atual Mercado Central

Cozinha Tupis, no Mercado Novo, em Belo Horizonte

Entre os principais símbolos de Belo Horizonte estão os tradicionais mercados, como o Mercado Central e o Mercado Novo. Esses espaços foram fundamentais para o desenvolvimento da cidade e permanecem como grandes atrativos da capital mineira.

  • Na semana do aniversário de 128 anos de Belo Horizonte, celebrado em 12 de dezembro, a Itatiaia veicula a série “Capital dos extremos: a BH de 128 anos repleta de história e desafios” com reportagens que mostram fatos históricos, curiosidades e desafios da cidade que abriga mais de 2,3 milhões de pessoas.

Lays Silva de Souza, historiadora e mestre em história social da cultura pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), analisa que a primeira função dos mercados foi abastecer a capital mineira com alimentos.

“Por meio dos produtos que circulam nos mercados é possível perceber a diversidade na cultura alimentar mineira, das cachaças, aos queijos, doces, carnes, frutos e frutas. Nos mercados de Belo Horizonte são comercializados gêneros provenientes das diferentes regiões de nosso estado”, afirmou.

A historiadora diz que os mercados tradicionais marcaram gerações de comerciantes e clientes. Além disso, consolidaram-se porque se adequaram às necessidades de Belo Horizonte ao longo das décadas.

Entre os espaços que contribuíram para o desenvolvimento da cidade, Lays cita o Mercado Central, o Mercado Distrital do Cruzeiro, a Feira Coberta do Padre Eustáquio e a Feira dos Produtores, no bairro Cidade Nova.

Mercado Novo: de ‘elefante branco’ a polo de economia criativa

Luana de Abreu, jornalista e pesquisadora, estuda a história do Mercado Novo. Ela conta que o espaço foi construído nos anos 1960 para substituir o antigo Mercado Municipal, atual Mercado Central, e tornar-se o maior centro comercial da América Latina.

“Queriam transferir a feira ao ar livre que era o Mercado Municipal para esse novo prédio. Acabou que os feirantes não permitiram que isso acontecesse, se organizaram em uma associação e compraram o terreno. Ali, o espaço se tornou o que hoje conhecemos como Mercado Central”, explicou.

No entanto, a construtora Sobrado, responsável pelas obras do novo espaço, entrou em falência, e a construção “virou um ‘elefante branco’ no Centro de BH”, recordou Luana.

Com o passar do tempo, o Mercado Novo começou a ser ocupado por públicos diversos. No primeiro andar, mestres de ofício de diferentes áreas se instalaram. Foi formado, então, o maior parque gráfico de Minas Gerais.

O segundo e o terceiro andares continuaram abandonados, com centenas de lojas fechadas até os anos 2010. A partir daí, o cenário mudou quando o movimento do Mercado das Borboletas utilizou o espaço para festas. Em 2017, a Cozinha Tupis e Distribuidora Goitacazes se instalou em um projeto de reocupação encabeçado pelo designer Rafael Quick.

“Pouco a pouco, o Mercado Novo reacendeu como o maior polo de economia criativa do estado e, hoje, é parada obrigatória para qualquer um que vier visitar Belo Horizonte”, disse Luana.

Mercados como atrativos de Belo Horizonte

Além de contribuir para o crescimento e atuar no abastecimento alimentar de Belo Horizonte, os mercados tradicionais também têm importância turística.

“Quem vem a Belo Horizonte precisa passar pela experiência de conhecer seus mercados e provar seus sabores, aromas e a beleza das produções artesanais de Minas Gerais”, disse Lays Silva de Souza.

Luana de Abreu analisa que o Mercado Novo complementa a experiência oferecida pelos outros espaços, pois apresenta aos visitantes uma combinação de empreendimentos jovens nos andares superiores e mantém a tradição que há décadas caracteriza a feira livre.

“O mais rico do Mercado Novo é sua diversidade. É um retrato de BH, é um lugar que bato no peito com orgulho para dizer que é nosso e recomendo para todos conhecerem um pedacinho do que somos. Sinto que esse movimento todo recuperou, também, nossa autoestima enquanto belo-horizontinos. Passamos a nos ver na medida em que fomos vistos”, afirmou a jornalista.

Capital dos extremos: a BH de 128 anos repleta de história e desafios

Leia também

Jornalista formado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Na Itatiaia, escreve para Cidades, Brasil e Mundo. Apaixonado por boas histórias e música brasileira.

Ouvindo...