BH 128 anos: a história da loja mais antiga da capital e um conselho a novos empresários

Atual administrador da Casa Salles, fundada em 1881, conta como a história da empresa se relaciona com o desenvolvimento de Belo Horizonte

BH 128 anos: o conselho do dono da loja mais antiga da capital aos novos empreendedores

Um dos principais pilares da economia de Belo Horizonte, o comércio contribuiu para o desenvolvimento da cidade. Uma das empresas que ajudam a contar a história de BH é a Casa Salles, que foi fundada em 1881 em Ouro Preto e se transferiu para a nova capital em 1904. Atualmente, o estabelecimento é considerado o mais antigo em atividade no município.

Na semana do aniversário de 128 anos de Belo Horizonte, celebrado no dia 12 de dezembro, a Itatiaia veicula a série ‘Capital dos extremos: a BH de 128 anos repleta de história e desafios’. Serão cinco reportagens que vão mostrar fatos históricos, curiosidades e obstáculos para a cidade que abriga mais de 2,3 milhões de pessoas.

Instalada desde o início na esquina das ruas São Paulo e dos Caetés, no Centro, o estabelecimento passou por cinco gerações da família Salles e se reinventou diversas vezes para continuar relevante.

A Itatiaia conversou com Guilherme Salles, de 44 anos, atual administrador da empresa. O comerciante contou que a Casa Salles foi criada por conta de uma história de amor.

João de Salles, tataravô de Guilherme, era caixeiro viajante e se apaixonou por uma moradora de Ouro Preto. A partir daí, ele decidiu fixar residência na antiga capital de Minas Gerais e começou a trabalhar em um comércio. A Casa Salles foi fundada após o empresário receber uma carta de recomendação do então imperador Dom Pedro II em reconhecimento a uma ação de honestidade.

A partir da fundação da nova capital, em 1897, os funcionários públicos exigiram bons comércios e empregos para os seus parentes, o que incentivou a transferência de empreendimentos mineiros bem-sucedidos para Belo Horizonte.

Num primeiro momento, João de Salles bateu o pé e não quis se mudar de Ouro Preto. No entanto, em 1904, sete anos após a inauguração de BH, o fundador da loja resolveu levar a Casa Salles para a nova capital.

A Casa Salles e o comércio de Belo Horizonte

Marcos Inneco, vice-presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL/BH), conta que a antiga Curral del-Rei era um ponto de passagem de tropeiros, o que ajudou no surgimento dos primeiros comércios.

À medida que Belo Horizonte cresceu, o comércio acompanhou. “O comércio existe e vive para atender a necessidade das pessoas. E essas necessidades existem onde há pessoas, onde elas estão”, explicou Inneco.

Nos primeiros anos de Belo Horizonte, a Rua dos Caetés se estabeleceu como a principal área comercial e social da nova capital. Foi por ali que a Casa Salles se transferiu e se mantém há mais de um século.

A loja começou como um “secos e molhados” e funcionava como uma mercearia que vendia um grande variedade de itens essenciais, o que se manteve até a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

Durante o conflito, a Casa Salles precisou se reinventar por conta da escassez de produtos e passou a comercializar mais artigos de aventura e cutelaria, mas continuou a tradição de vender o que as pessoas precisavam.

A nova geração da Casa Salles

Da quinta geração da família, Guilherme assumiu oficialmente o cargo de quarto administrador da Casa Salles em 2025. Nesse ano, a empresa abriu um empório, instalado ao lado da loja principal, com o objetivo de voltar às origens.

O empresário está estudando sobre estratégias para potencializar os canais digitais. “Quem não estudar e não participar do digital, vai morrer”, alertou.

Victor Mota, analista da Unidade de Indústria, Comércio e Serviços do Sebrae Minas, afirma que a modernização e a inserção digital são as maiores dificuldades das empresas familiares geracionais.

“É um público que está acostumado a esperar o cliente entrar na loja. Só que, hoje em dia, o cliente está na internet. Então, a gente precisa ensinar esses estabelecimentos a vender por meio dos canais digitais e amplificar os seus negócios”, analisou.

Perguntado sobre conselhos para os novos empreendedores da capital mineira, Guilherme Salles diz: “Faz com coração, porque não é fácil. Não é um desafio comum. Se você fizer com amor, com carinho e com muita responsabilidade, principalmente com o seu cliente, dá certo.”

As perspectivas para os novos empreendedores

Marcos Inneco, vice-presidente da CDL/BH, analisa que os novos empreendedores podem aprender com lojas tradicionais de Belo Horizonte, como a Casa Salles, a tratar o comércio como um local de interações e experiências.

“Tem que oferecer uma experiência muito positiva para os visitantes. Uma experiência que não se tem na internet, onde há imagem, preço e conveniência, mas faltam a textura, os aromas e a possibilidade de se relacionar com a mercadoria, com as pessoas e o ambiente”, afirmou.

Na avaliação de Victor Mota, analista do Sebrae Minas, empresas que oferecem boas experiências e criam conexão emocional com os clientes têm um “diferencial competitivo excepcional”.

Mota analisa que um dos principais desafios para os novos empreendedores de Belo Horizonte é conhecer bem o cliente e compreender o que ele espera do produto ou serviço oferecido. Segundo ele, é fundamental conseguir agregar valor ao público.

Além disso, o analista afirma que um dos caminhos para o sucesso de quem está começando é agir diferente da concorrência: “Quem faz diferente, quem faz bem feito, sempre vai ter espaço”.

“Empreender é gratificante e dá muito resultado, mas faça isso com consciência e com um planejamento bem feito. Entendendo muito bem os seus clientes, o valor que você vai entregar e quais são os seus diferenciais em relação a quem já está instalado para você ser bem-sucedido, porque ir de ‘qualquer jeito’ é um uma receita para o fracasso”, analisou Victor Mota.

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Jornalista formado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Na Itatiaia, escreve para Cidades, Brasil e Mundo. Apaixonado por boas histórias e música brasileira.

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