Um dos principais pilares da economia de
Na semana do aniversário de 128 anos de Belo Horizonte, celebrado no dia 12 de dezembro, a Itatiaia veicula a série ‘Capital dos extremos: a BH de 128 anos repleta de história e desafios’. Serão cinco reportagens que vão mostrar fatos históricos, curiosidades e obstáculos para a cidade que abriga mais de 2,3 milhões de pessoas.
Instalada desde o início na esquina das ruas São Paulo e dos Caetés, no Centro, o estabelecimento passou por cinco gerações da família Salles e se reinventou diversas vezes para continuar relevante.
A Itatiaia conversou com Guilherme Salles, de 44 anos, atual administrador da empresa. O comerciante contou que a Casa Salles foi criada por conta de uma história de amor.
João de Salles, tataravô de Guilherme, era caixeiro viajante e se apaixonou por uma moradora de Ouro Preto. A partir daí, ele decidiu fixar residência na antiga capital de Minas Gerais e começou a trabalhar em um comércio. A Casa Salles foi fundada após o empresário receber uma carta de recomendação do então imperador Dom Pedro II em reconhecimento a uma ação de honestidade.
A partir da fundação da nova capital, em 1897, os funcionários públicos exigiram bons comércios e empregos para os seus parentes, o que incentivou a transferência de empreendimentos mineiros bem-sucedidos para Belo Horizonte.
Num primeiro momento, João de Salles bateu o pé e não quis se mudar de Ouro Preto. No entanto, em 1904, sete anos após a inauguração de BH, o fundador da loja resolveu levar a Casa Salles para a nova capital.
A Casa Salles e o comércio de Belo Horizonte
Marcos Inneco, vice-presidente da
À medida que Belo Horizonte cresceu, o comércio acompanhou. “O comércio existe e vive para atender a necessidade das pessoas. E essas necessidades existem onde há pessoas, onde elas estão”, explicou Inneco.
Nos primeiros anos de Belo Horizonte, a Rua dos Caetés se estabeleceu como a principal área comercial e social da nova capital. Foi por ali que a Casa Salles se transferiu e se mantém há mais de um século.
A loja começou como um “secos e molhados” e funcionava como uma mercearia que vendia um grande variedade de itens essenciais, o que se manteve até a
Durante o conflito, a Casa Salles precisou se reinventar por conta da escassez de produtos e passou a comercializar mais artigos de aventura e cutelaria, mas continuou a tradição de vender o que as pessoas precisavam.
A nova geração da Casa Salles
Da quinta geração da família, Guilherme assumiu oficialmente o cargo de quarto administrador da Casa Salles em 2025. Nesse ano, a empresa abriu um empório, instalado ao lado da loja principal, com o objetivo de voltar às origens.
O empresário está estudando sobre estratégias para potencializar os canais digitais. “Quem não estudar e não participar do digital, vai morrer”, alertou.
Victor Mota, analista da Unidade de Indústria, Comércio e Serviços do
“É um público que está acostumado a esperar o cliente entrar na loja. Só que, hoje em dia, o cliente está na internet. Então, a gente precisa ensinar esses estabelecimentos a vender por meio dos canais digitais e amplificar os seus negócios”, analisou.
Perguntado sobre conselhos para os novos empreendedores da capital mineira, Guilherme Salles diz: “Faz com coração, porque não é fácil. Não é um desafio comum. Se você fizer com amor, com carinho e com muita responsabilidade, principalmente com o seu cliente, dá certo.”
As perspectivas para os novos empreendedores
Marcos Inneco, vice-presidente da CDL/BH, analisa que os novos empreendedores podem aprender com lojas tradicionais de Belo Horizonte, como a Casa Salles, a tratar o comércio como um local de interações e experiências.
“Tem que oferecer uma experiência muito positiva para os visitantes. Uma experiência que não se tem na internet, onde há imagem, preço e conveniência, mas faltam a textura, os aromas e a possibilidade de se relacionar com a mercadoria, com as pessoas e o ambiente”, afirmou.
Na avaliação de Victor Mota, analista do Sebrae Minas, empresas que oferecem boas experiências e criam conexão emocional com os clientes têm um “diferencial competitivo excepcional”.
Mota analisa que um dos principais desafios para os novos empreendedores de Belo Horizonte é conhecer bem o cliente e compreender o que ele espera do produto ou serviço oferecido. Segundo ele, é fundamental conseguir agregar valor ao público.
Além disso, o analista afirma que um dos caminhos para o sucesso de quem está começando é agir diferente da concorrência: “Quem faz diferente, quem faz bem feito, sempre vai ter espaço”.
“Empreender é gratificante e dá muito resultado, mas faça isso com consciência e com um planejamento bem feito. Entendendo muito bem os seus clientes, o valor que você vai entregar e quais são os seus diferenciais em relação a quem já está instalado para você ser bem-sucedido, porque ir de ‘qualquer jeito’ é um uma receita para o fracasso”, analisou Victor Mota.