O barco encontrado à deriva com corpos em decomposição, na região de Bragança, no litoral paraense, ainda é um mistério. A Marinha Brasileira afirma que a embarcação de 13 metros de comprimento não tinha qualquer motor ou sistema de propulsão. A Polícia Federal investiga se o equipamento foi furtado por pescadores na costa brasileira ou se o barco chegou ao país por meio de correntes marítimas.
A embarcação
Para o arquiteto naval e professor de projetos de embarcação da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), Sérgio Feitosa, o barco não tinha qualquer preparação para enfrentar longas viagens.
“Para fazer uma travessia longa como essa, é preciso estar bem preparado. Os tripulantes devem estar equipados com GPS e cartas náuticas, por exemplo. Essa embarcação (encontrada no Pará) não é para esse tipo de viagem. Ela é feita para uma navegação costeira, voltada para a pesca. Provavelmente esse barco foi preparado para fazer uma travessia só até as Ilhas Canárias”, afirma.
Embarcação não aguenta 25 pessoas, diz especialista
Inicialmente a
O professor explica que o número de ocupantes era maior que a capacidade do barco. “Uma embarcação de 13 metros de comprimento não consegue levar 25 passageiros. Você não sai com essa quantidade de pessoas para pescar, nem passear. Foi uma forçação de barra colocar 25 pessoas ali. É uma situação degradante, extremamente desconfortável”, comenta.
Uma fonte da PF informou à Itatiaia que, agora, a corporação
Teste de resistência
Segundo Feitosa, o barco é feito de madeira revestida com fibra de vidro. A composição, feita de forma artesanal, se mostrou resistente ao chegar intacta na costa brasileira.
“O barco passou por uma prova incrível. Foram quase cinco mil quilômetro à deriva. Ele passou no teste de flutuabilidade e resistência. Esses barcos costumam ser feitos de forma artesanal. Na África, por exemplo, esse conhecimento é adquirido ao longo de muitos anos, passa de geração em geração, de pai para filho. Não é porque é feito de forma artesanal que é feito sem cuidado”, ressalta o arquiteto naval.
Segundo a PF, o barco tinha uma espécie de porão, onde alguns corpos foram encontrados. O especialista explica que para quê servem essas estruturas: “Os jangadeiros, por exemplo, usam os porões para dormir. Ele é usado para descanso e para guardar alguns mantimentos. Então, cabe sim uma pessoa ali, mas é um espaço muito pequeno”.
Especialista acredita que barco estava sendo rebocado
Uma das coisas que mais chamaram a atenção dos especialistas foi o fato da embarcação ter sido encontrada sem qualquer motor ou sistema de propulsão. A falta de um sistema de navegação mínimo intrigou as autoridades.
Na tarde desta quarta-feira (17), a Polícia Federal realizou diligências para investigar uma denúncia de que
Na opinião do professor da Uerj, essa hipótese dificilmente irá se confirmar. “Acho pouco provável que pescadores tenham furtado o motor. Para isso é preciso ter ferramentas. Os pescadores mais precavidos até andam com algumas para o caso de algum reparo de urgência, mas não é comum. Além disso, teria que tirar o reversor, hélice e eixo propulsor”, explica.
Feitosa acredita que a embarcação estivesse sendo rebocada por um outro barco maior, antes de ficar à deriva.
“Pode ser que essa embarcação estivesse sendo rebocada, por isso já chegou no mar sem nenhum motor. Nesses casos, eles levam o barco até próximo à arrebentação das ondas e soltam (as ondas acabam levando a embarcação até a faixa de areia). Pode ter acontecido algum problema no meio do caminho e decidiram abandonar esse barco. Se ele tivesse mesmo um motor, seria necessário muito combustível para levar 25 pessoas”, opina.