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Curiosidade: conheça o arroz IR que tem gosto de batata inglesa, misturado com pipoca

Variedade de várzea veio das Filipinas há 50 anos e caiu no gosto de municípios do Vale do Rio Doce. No entanto, perdeu espaço para novas cultivares mais produtivas

Variedade foi importada das Filipinas há 50 anos

Você já ouviu falar no IR 841? Trata-se de uma variedade de arroz de várzea (cultivado embaixo d’água), importada das Filipinas há 50 anos, testada e recomendada pela Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) em 1975.

Por ser aromático e ter um sabor diferente que lembra a batata inglesa, o grão caiu no gosto popular e se adaptou muito bem no Vale do Rio Doce, graças às condições favoráveis da região (clima quente e com fartura de várzeas alagáveis) e também por uma questão cultural. “As pessoas da região gostam muito do sabor dele e têm se esforçado para preservar o cultivo, ao longo de todos esses anos. Podemos dizer que o IR 841 integrou a cultura local”, contou o ex- pesquisador da Epamig, Plínio Soares, durante uma palestra técnica no município de Pocrane.

No entanto, a partir dos anos 90, seu cultivo diminuiu consideravelmente. Plínio explicou que isso aconteceu em função do surgimento de novas cultivares. “Só a Epamig lançou outras 16 cultivares de arroz de várzea, com melhores condições de cultivo, maior produtividade, resistência a doenças e melhor qualidade do grão”, disse o ex-pesquisador.

O engenheiro agrônomo (e gastrônomo nas horas vagas) Walter Ribeiro esteve no Vale do Rio Doce essa semana e experimentou o arroz pela primeira vez. “Eu gostei bastante. Ele cozinha rápido, tem um ‘perfume’ que enche a casa e um gosto que lembra pipoca”, contou. A variedade fez tanto sucesso em Pocrane, também no Vale do Rio Doce, que as autoridades locais inseriram seu nome no pórtico de entrada da cidade, onde lê-se: “Terra do Arroz IR”.

Trabalho de purificação foi iniciado em 2017

Foi no Campo Experimental de Leopoldina, em 2017, que a Epamig iniciou um trabalho para a purificação da cultivar do IR 841. A demanda surgiu dos próprios produtores da microrregião que abrange os municípios de Pocrane, Mutum, Ipanema, Lajinha, Aimorés e Resplendor, onde o plantio existe há décadas, sem renovação das fontes de sementes, o que compromete a pureza e a sanidade dos grãos.

De la pra cá, tem sido possível preservar a variedade. Em 2020, a Epamig distribuiu, gratuitamente, cerca de 800 kg de sementes da IR 841 purificadas genética e sanitariamente aos produtores de Pocrane. Só no município são mais de 50 produtores dedicados ao cultivo.

Variedade é resistente à Brusone e responde bem à adubação nitrogenada

De acordo com o pesquisador, os grãos ficam soltos e macios após o cozimento. Outras vantagens são a resistência moderada à praga brusone e a boa resposta à adubação nitrogenada.

Minas Gerais possui, atualmente, 12 mil hectares de área cultivada de arroz (sequeiro, várzea úmida e irrigado), com produtividade média de 2,5 mil quilos por hectare.

As lavouras de várzeas são mais encontradas no Sul de Minas, nas microrregiões de Pouso Alegre, Heliodora, Cristina e Perdões; no Centro-Oeste, nos municípios de Arcos, Iguatama e Pains, e no Vale do Rio Doce, em Pocrane, Mutum, Ipanema, Lajinha e Aimorés.

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Maria Teresa Leal é jornalista, pós-graduada em Gestão Estratégica da Comunicação pela PUC Minas. Trabalhou nos jornais ‘Hoje em Dia’ e ‘O Tempo’ e foi analista de comunicação na Federação da Agricultura e Pecuária de MG.