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Este ‘mau’ hábito pode ajudar você a perder peso, sugere novo estudo

Realizar seus desejos pode ser a chave para perder peso — e mantê-lo

Imagem ilustrativa

Se você quer perder peso, uma das primeiras estratégias adotadas é a dieta, mas nem sempre é fácil seguir à risca um cardápio restrito e lidar com os “desejos”.

Embora possamos pensar nos desejos como algo que está “na nossa cabeça”, isso não é exatamente verdade. Os desejos são um fenômeno biológico real, definidos como desejos fortes e intensos ou impulsos subjetivamente irresistíveis de consumir um alimento ou tipo de alimento específico, que muitas vezes prejudicam os esforços para manter as mudanças alimentares.

Portanto, ter desejos ou ceder a eles não é sinal de fraqueza. É a maneira do seu cérebro e corpo lhe dizerem algo. E os desejos podem ser medidos até certo ponto.

Com isso em mente, pesquisadores da Universidade de Illinois, nos Estados Unidos, decidiram examinar os desejos por comida e verificar se eles poderiam realmente ajudar você a perder peso.

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Como este estudo foi conduzido?

O objetivo do estudo foi determinar a mudança nos desejos alimentares e sua relação com os resultados da perda de peso durante um programa de um ano, seguido por mais um ano de manutenção do peso. A meta era que os participantes perdessem 5% do peso corporal.

Os pesquisadores recrutaram 30 participantes com idade média de 53 anos; cerca de 77% eram mulheres. O IMC médio no início do estudo era 36 — o que indica obesidade (IMC acima de 30). Para equilibrar essa medida, também foram avaliadas as circunferências da cintura e do quadril, assim como a composição corporal, que considera a proporção entre massa magra e massa gorda.

Os desejos por comida foram medidos com duas escalas validadas no início do estudo e após 12, 18 e 24 meses. No começo, 54% dos participantes relataram desejos variando de ocasional a diário no último mês; os 46% restantes disseram que raramente tiveram desejos nesse período.

Durante os primeiros 12 meses, os participantes receberam sessões online de educação nutricional, além de três sessões individuais e e-mails semanais com feedback de coaches nutricionais. O objetivo era ensinar os princípios básicos da nutrição para que tomassem decisões informadas, incentivando maior consumo de proteínas e fibras e criando um pequeno déficit calórico para estimular a perda de peso.

Eles também aprenderam estratégias para controlar os desejos, como armazenar alimentos frequentemente desejados em locais menos acessíveis, usar distrações (como caminhar) e estabelecer um padrão alimentar diário consistente. A estratégia de inclusão, que permite pequenas porções dos alimentos favoritos dentro de uma refeição balanceada, também foi incentivada, em vez de evitar completamente certos alimentos.

Cada participante recebeu uma balança com Wi-Fi que transmitia informações para os pesquisadores via aplicativo. Eles foram instruídos a se pesar diariamente antes do café da manhã. No período de manutenção, o contato foi mínimo, exceto por uma consulta nutricional a cada 15 meses. Ao final do estudo (24 meses), os pesquisadores dividiram os participantes em dois grupos: quem perdeu mais de 5% do peso corporal e quem perdeu menos.

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O que este estudo mostrou?

Vinte dos 30 participantes completaram os 24 meses, número suficiente para análise estatística.

No início, não houve diferenças nos desejos entre os grupos. Porém, quem perdeu pelo menos 5% do peso apresentou melhora consistente nos desejos durante os primeiros 12 meses, mantida até os 24 meses. O outro grupo não teve mudanças significativas nas pontuações dos desejos.

Os participantes que aplicaram a estratégia de inclusão perderam mais peso e tiveram redução maior nos desejos, especialmente por doces, carboidratos e alimentos gordurosos, em comparação com os que não a usaram.

Pesquisas anteriores sugeriam que os desejos surgem como resultado da perda de peso e do esvaziamento das células de gordura, desencadeando a vontade de reabastecer essas células. Mas esta nova pesquisa desafia essa teoria.

“Isso desmascara a teoria da célula de gordura faminta, que dizia que as células ficam sem energia e geram desejos que levam à recuperação do peso”, afirma Manabu Nakamura, principal autor da pesquisa. “Contanto que você mantenha um peso saudável, seus desejos permanecerão baixos”, completa.

Também foi observado que quem mantinha um padrão alimentar regular perdeu mais peso. “O mito é que é preciso muita força de vontade para resistir à tentação, mas flutuações nos horários e quantidades das refeições também provocam desejos. É preciso consistência”, explica Nakamura.

Limitações do estudo

Este estudo não pode afirmar causalidade, apenas correlação entre estratégias e resultados. Além disso, não considera outros fatores como atividade física, sono e estresse. Com apenas 20 participantes concluindo o programa, o estudo tem limitações para generalizar os resultados.

Como isso se aplica à vida real?

O estudo reforça a filosofia da EatingWell: todos os alimentos podem fazer parte de uma dieta variada e equilibrada, mesmo na perda de peso. Alimentar-se de forma consistente evita picos e quedas bruscas de açúcar no sangue, prevenindo fome intensa e irritabilidade.

Outras pesquisas recentes mostram que práticas como o jejum podem aumentar desejos e compulsão alimentar. Desejos são sinais do corpo indicando necessidade de nutrientes, não falta de força de vontade.

Garantir combustível adequado ao cérebro — como glicose presente em grãos integrais, frutas, verduras, nozes e leguminosas — ajuda a controlar os desejos. Incluir pequenas porções de alimentos favoritos pode reduzir desejos e ajudar na perda de peso.

Além disso, é fundamental cuidar da saúde de forma integral, evitando restrições extremas que podem causar perda de massa muscular e óssea, ansiedade e estresse, prejudicando o sono e os relacionamentos.

Consultar um nutricionista pode ajudar a personalizar a abordagem. Também há planos de refeições elaborados por especialistas para auxiliar nesse processo.

O resultado final

O estudo sugere que estratégias simples, como incluir pequenas porções dos alimentos favoritos em refeições equilibradas e manter horários regulares, podem facilitar a perda de peso e reduzir desejos. Evitar restrições extremas e focar apenas em calorias não costuma ser eficaz.

Adote um estilo de vida saudável com atividade física regular, controle do estresse, sono adequado e conexões sociais. Esses hábitos promovem saúde, prevenção de doenças e longevidade — o que é mais importante que o número na balança.

Jornalista pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Atualmente, é repórter multimídia no Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG). Antes passou pela TV Alterosa. Escreve, em colaboração com a Itatiaia, nas editorias de entretenimento e variedades.