Apesar de ser utilizado há séculos devido à sua ação em prol do intestino, o psyllium tem aparecido em várias publicações nas redes sociais como responsável por efeitos “emagrecedores”. A atuação tem sido comparada, inclusive, com remédios usados para emagrecer, como Ozempic e Mounjaro. Entretanto, não há comprovação científica de que haja consequências diretas entre o consumo dos grãos e a perda de peso.
O grão oferece pequenas quantidades de proteínas, sais minerais, entre outros nutrientes, mas seu maior tesouro está na casca. “Ela contém fibras solúveis”, diz a nutricionista Deborah Masquio, professora do Centro Universitário São Camilo, em São Paulo.
Devido a essa característica, o alimento já era empregado na antiguidade, por chineses e indianos, para combater males intestinais. No século XVI, segundo relatos históricos, foi disseminado na Europa pelas mesmas atribuições.
A partir da década de 1970, estudos envolvendo o psyllium começaram a aparecer na literatura científica. “Além da atuação no intestino, há evidências de impactos positivos no equilíbrio dos níveis de colesterol, no controle da glicemia e na saciedade”, enumera Masquio.
Mas, ainda que existam evidências de que o psyllium possa ajudar a prolongar a saciedade, há uma grande discrepância entre seus efeitos e os resultados obtidos via medicação. “As pessoas querem um milagre”, comenta o nutrólogo Celso Cukier, do Hospital Israelita Albert Einstein.
Assim, muita gente acaba consumindo a fibra por conta própria. Só que o excesso tende a desencadear desconfortos abdominais, gases e até mesmo a prisão de ventre. Bem indicado, contudo, o psyllium pode ser um aliado. “É utilizado na prática clínica, como suplemento nutricional, para melhorar a constipação intestinal”, diz Cukier.
O poder das fibras
Por trás desses efeitos estão as aclamadas fibras solúveis. Essas fibras se dissolvem em água, formando uma espécie de gel no trato digestivo. “Elas têm a capacidade de aumentar o bolo fecal”, explica o nutrólogo.
Melhoram o trânsito intestinal e estimulam a contratilidade, o que movimenta a musculatura da região. Daí os efeitos contra a constipação. Sem uma boa hidratação, no entanto, nada funciona a contento. “Beber água ao longo do dia é uma estratégia essencial”, recomenda Cukier.
Ainda sobre a saúde do intestino, as fibras são fermentadas pelas bactérias benéficas da microbiota, em um mecanismo que aumenta a produção de ácidos graxos de cadeia curta (AGCC), caso do butirato e propionato. Os AGCC são excelentes fontes de energia para os colonócitos, que são as células do intestino grosso, colaborando para a integridade da mucosa na região.
Também há indícios de que fibras como as do psyllium contribuam para o equilíbrio dos micro-organismos que habitam o cólon. Essa harmonia, como se sabe, favorece não somente o intestino, mas o sistema imune e até o humor.
Atualmente, boa parte da popularidade do psyllium se dá pela possível atuação no controle do apetite. “A formação dos géis, proveniente do contato das fibras com a água, interfere no esvaziamento gástrico”, explica Masquio. Assim, sinais são enviados ao cérebro, em um processo que ajuda a prolongar a saciedade.
O gel também tem relação com a proteção cardiovascular. Isso porque ele pode se ligar aos ácidos biliares — compostos envolvidos na digestão das gorduras —, arrastando-os pelas fezes. Com essa eliminação, há uma necessidade do organismo de repor os tais ácidos, resultando na retirada do colesterol da circulação e reduzindo, portanto, seus níveis no sangue.
Esses efeitos, entretanto, não são exclusivos das fibras do psyllium: alimentos como a aveia e a maçã também contam com as solúveis e apresentam as mesmas funções.
E não custa lembrar o de sempre: para garantir que não faltem fibras no dia a dia, o ideal é apostar em um cardápio variado e recheado de vegetais, priorizando frutas, hortaliças, grãos integrais, leguminosas (feijões, lentilhas, ervilhas...) e oleaginosas, ou seja, castanhas, amêndoas, nozes e afins.
Para recorrer ao psyllium, seja em cascas (husk) ou mesmo na versão em pó, o ideal é buscar orientação médica e de nutricionista, que devem recomendar sobre as dosagens, de acordo com o perfil.