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Febre maculosa na Grande BH: especialista fala sobre como se proteger da doença

Após duas mortes confirmadas em Caeté, a Itatiaia entrevistou o médico infectologista Carlos Starling

Febre maculosa na Grande BH: especialista fala sobre como se proteger da doença

Na última quinta-feira (18), a Prefeitura de Caeté, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, confirmou que duas pessoas morreram após serem contaminadas com a febre maculosa.

A cidade decretou, na sexta-feira (19), estado de emergência em saúde pública para evitar novos casos e novos agravamentos da doença. A medida é “preventiva”, segundo Rosana Arruda, secretária de Saúde do município.

Para tirar todas as dúvidas sobre a doença, a Itatiaia entrevistou o médico infectologista Carlos Starling, que deu dicas para a população se proteger. Abaixo, confira e entrevista na íntegra.

O que é a febre maculosa e como ela é transmitida?

Carlos Starling: A febre maculosa (no Brasil geralmente causada por Rickettsia rickettsii) é uma doença bacteriana transmitida pela picada de carrapatos infectados, sobretudo o chamado carrapato-estrela (Amblyomma sculptum / A. cajennense complex).

Quais são os principais sintomas da doença?

Carlos Starling: Febre alta, dor de cabeça intensa, dor muscular, mal-estar, náusea/vômito, perda de apetite; nos dias seguintes pode surgir exantema (manchas/erupção na pele) que pode progredir; confusão, insuficiência respiratória, insuficiência renal e choque em casos graves.

Em quanto tempo, em média, eles aparecem após a picada do carrapato?

Carlos Starling: Período de incubação geralmente 2–14 dias; o mais comum é 2–7 dias após a picada.

Qual é o risco de letalidade da febre maculosa?

Carlos Starling: Variável: sem tratamento, a letalidade é alta (pode chegar a 20–40% ou mais). Com diagnóstico e tratamento precoce com doxiciclina a mortalidade cai muito (geralmente <5–10% em boas condições de manejo), mas ainda há risco em casos tardios ou complicados.

Como a população pode se proteger do carrapato-estrela?

Carlos Starling: Usar roupas compridas e claras, botas, calças por dentro da meia; repelentes na pele (DEET) e acaricidas em roupas/permetrina em tecidos; evitar andar em capinzais ou matas sem proteção; inspeção corporal e banho logo após atividades ao ar livre; cuidar da higiene de animais domésticos e aplicar produtos acaricidas neles; reduzir hospedeiros próximos (capivaras, cães) e manter áreas públicas aparadas.

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Quais áreas são consideradas de maior risco?

Carlos Starling: Áreas periurbanas e rurais com presença de carrapatos e hospedeiros (capivaras, cavalos, cães), pastagens, matas de galeria, parques e áreas verdes com vegetação alta. Regiões endêmicas no Sudeste e Centro-Oeste do Brasil têm risco maior.

Quais animais podem ser hospedeiros do carrapato-estrela?

Carlos Starling: Capivaras, cães, cavalos, bovinos, equinos, cervídeos e outros mamíferos silvestres e domésticos; também pequenos mamíferos e aves podem ajudar a manter populações de carrapatos.

O que fazer ao encontrar um carrapato no corpo? Como retirar corretamente o carrapato para reduzir riscos?

Carlos Starling: Remover logo com pinça de ponta fina/aparelho de remoção: agarrar o mais próximo possível da pele e puxar firme e contínuo, perpendicular à pele, sem espremer o corpo do carrapato, sem torcer. Não use óleo, álcool, fósforo ou calor. Após remoção, limpar local com álcool ou antisséptico e lavar as mãos. Conservar o carrapato em frasco fechado (se possível) para identificação, e anotar data da picada.

Quando procurar atendimento médico?

Carlos Starling: Procurar imediatamente se ocorrer febre, dor de cabeça ou mal-estar nos 2–14 dias após picada; também procurar se o carrapato estiver preso por período longo, houver sinais locais de infecção, ou sintomas graves (confusão, falta de ar, vômitos persistentes). Médico deve avaliar e, se houver suspeita, iniciar doxiciclina empiricamente — o tratamento precoce reduz muito a gravidade.

Os dois casos de mortes em Caeté acendem um alerta? O que precisa ser feito?

Carlos Starling: Sim — mortes indicam circulação ativa do agente e precisam ser alerta epidemiológico. Medidas: investigação rápida de casos e contatos, vigilância entomológica (mapeamento de carrapatos e hospedeiros), intensificar orientação à população e profissionais de saúde, controle de hospedeiros (ex.: manejo de capivaras), acaricidas em animais/domínios, e garantia de diagnóstico laboratorial e tratamento precoce.

Há 10 anos, BH enfrentava problemas com a doença. Quais medidas foram bem-sucedidas?

Carlos Starling: Medidas eficazes relatadas em experiências similares: monitoramento e vigilância ativa; educação pública sobre prevenção e inspeção corporal; controle populacional e manejo de capivaras; aplicação de acaricidas em áreas críticas e em animais domésticos/selvagens quando viável; qualificação de serviços de saúde para diagnóstico precoce e tratamento empírico com doxiciclina; manutenção da vegetação aparada em áreas urbanas. Essas ações integradas reduziram casos em áreas onde foram aplicadas de forma contínua.

Formou-se em jornalismo pela PUC Minas e trabalhou como repórter do caderno de Gerais do jornal Estado de Minas. Na Itatiaia, cobre principalmente Cidades, Brasil e Mundo.
Jornalista formado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Na Itatiaia, escreve para Cidades, Brasil e Mundo. Apaixonado por boas histórias e música brasileira.