Especialista aponta problemas no uso indiscriminado de canetas emagrecedoras

Canetas emagrecedoras estão em alta no momento

Canetas emagrecedoras

A chegada das canetas emagrecedoras, como Ozempic e Mounjaro, ao Brasil causou uma “febre” no uso desses medicamentos. Apesar de exigirem receita médica para a compra, há diversas maneiras de adquiri-los “por fora”, o que pode levar ao uso indiscriminado dos remédios.

Para a médica Eliana Teixeira, pós-graduada em endocrinologia e nutrologia e especialista em emagrecimento, menopausa e saúde da mulher, o problema não está nos medicamentos, mas sim no uso sem critério, avaliação e orientação médica.

“O grande problema do uso indiscriminado dessas medicações é que o paciente olha apenas o peso total na balança e acredita que está indo bem. Mas esse ‘peso perdido’ pode ser, na verdade, massa muscular, o que cria uma falsa sensação de progresso. A perda acelerada de massa magra reduz o metabolismo, compromete força, piora a composição corporal e ainda pode acelerar a perda óssea, aumentando o risco de osteopenia e osteoporose a médio e longo prazo”, explicou.

“Quando não há acompanhamento médico, também vemos efeitos gastrointestinais muito mais intensos náuseas importantes, vômitos, constipação severa, diarreia intensa, dor abdominal, refluxo, desidratação e até distúrbios eletrolíticos justamente porque a dose não foi ajustada e o paciente não recebeu orientações de manejo”, acrescentou.

“Existe ainda um ponto crítico e pouco falado: essas medicações alteram o esvaziamento gástrico, o que pode interferir na absorção de outros medicamentos. Isso não é teórico já tivemos caso recente de um paciente em uso de anticoagulantes que desenvolveu uma trombose extensa porque o remédio não foi absorvido de forma adequada durante o uso da caneta sem acompanhamento médico. Ou seja, o risco pode ser real e pode colocar a vida em perigo”, disse a médica.

O uso sem acompanhamento também pode acarretar o reganho de peso.

Atualmente, há estudos que comprovam a segurança das canetas — caso sejam usadas de forma correta e com acompanhamento —, inclusive a longo prazo. “A obesidade é uma doença crônica, então o uso prolongado não é visto como um risco, mas como parte do tratamento assim como acontece com hipertensão ou diabetes”, afirmou.

“Até agora, não há evidências de danos tardios importantes; ao contrário, vemos melhora do risco cardiometabólico, do fígado e do controle glicêmico”, acrescentou.

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Vendas ‘por fora’

É possível encontrar, em muitos lugares, a venda de doses de Mounjaro e Ozempic fora das farmácias e fora das caixas. Para a médica, é extremamente perigoso adquirir essas medicações, já que não há garantia de origem, dose, lote, validade nem de armazenamento adequado.

“Já identificamos produtos falsificados, contaminados ou com substâncias que não correspondem ao original — e tivemos recentemente o caso de uma jovem que faleceu por hipoglicemia grave após usar um produto comprado dessa forma, sem qualquer controle. Nesses esquemas ilegais, há risco de diluição indevida, contaminação, hipoglicemias severas, infecções e até falha na absorção de outros medicamentos essenciais”, explicou.

“Por isso reforçamos tanto que o uso deve ser feito apenas com produto autenticado, armazenado corretamente e administrado sob supervisão médica”, alertou.

Formada pela PUC Minas, é repórter da editoria de Mundo na Itatiaia. Antes, passou pelo portal R7, da Record.

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