SP registra primeiro caso no mundo de trigêmeos nascidos de útero transplantado

A mãe dos recém nascidos recebeu um útero transplantado da irmã, sendo o primeiro transplante entre mulheres vivas na América Latina

Uma criança foi gerada fora do útero da mãe, no abdômen, e nasceu saudável.

Foi registrado, na cidade de São Paulo, o primeiro caso de trigêmeos nascidos de útero transplantado no mundo. O caso foi registrado no Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina (FM) da USP. As irmãs passaram pelo primeiro transplante de útero, entre mulheres vivas, na América Latina.

“Nós realizamos o primeiro transplante uterino com doadora falecida no mundo em 2016. E esse caso agora é o primeiro de sucesso na América Latina, com doadora viva, feito em 2024 e que nasceu em agosto de 2025”, conta o professor Dani Ejzenberg, da FMUSP, supervisor do Centro de Reprodução Humana do HC, membro da equipe que realizou o transplante.

Segundo ele, a paciente a mãe dos trigêmeos havia nascido sem o útero, isso acontece mais ou menos em uma em cada 4 mil mulheres, e é chamado síndrome de Rokitansky. A irmã dela, que já tinha dois filhos de parto normal, tinha interesse de doar o útero para que ela pudesse gerar.”

Riscos do procedimento

O professor Wellington Andraus, coordenador médico da Divisão de Transplantes de Fígado e Órgãos do Aparelho Digestivo do Hospital das Clínicas, explica sobre a possibilidade de rejeição, visto que não se tem muito conhecimento sobre o procedimento. “Aparentemente, o útero não rejeita muito, mas existem alguns casos. Contudo, é possível controlar com uma quantidade intermediária de remédios e imunossupressores. Neste caso de agora, não houve esse problema”, explicou.

A implantação do embrião, anteriormente, demorava um ano após a cirurgia, entretanto, o tempo foi reduzido para seis meses.

“Em seis meses, consideramos que o útero já está cicatrizado, a imunossupressão já está controlada”, em seguida ele explica que os médicos analisam se o endométrio está bem, e só então fazem o implante.

A transferência do embrião

O transplante do útero ocorreu em 2024, após o período de análise de rejeição, em janeiro, foi feita a transferência de apenas um embrião, justamente para evitar a gestação de gêmeos. “Entretanto, o embrião não se dividiu uma vez, se dividiu duas, o que é muito raro, cerca de 0,04% de chance de ocorrer”, afirma Ejzenberg.

Por ser um caso de gestação múltipla e de útero implantado, a gravidez da mãe das trigêmeas precisou ser altamente monitorada por diversos especialistas. “Os três bebês nasceram prematuros, após sete meses, mas já receberam alta e se desenvolveram muito bem”, conta Ejzenberg.

Por ser um parto de trigêmeos já era esperado que nasceriam prematuros, mas segundo os médicos, o útero transplantado se mostrou viável para suportar uma gravidez gemelar. “Além disso, os embriões estavam congelados desde 2014, mas foram viáveis, mostrando a viabilidade do embrião que ficou congelado por muitos anos”, fala Andraus.

Ejzenberg comenta que a principal surpresa do caso foi a capacidade de realizar a gestação com o útero de uma doadora viva e que, no futuro, isso abrirá portas para diversas mulheres que querem e não conseguem engravidar. Por fim, Andraus afirma a importância do Brasil nesse procedimento e na gravidez, tornando-se um pioneiro e uma referência dessa modalidade de transplantes para o restante do mundo.

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Estudante de jornalismo pela PUC Minas. Trabalhou como repórter do caderno de Gerais do jornal Estado de Minas. Na Itatiaia, cobre Cidades, Brasil e Mundo.

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