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Bebidas adulteradas: médico explica antídotos da intoxicação por metanol

O etanol farmacêutico é o principal antídoto disponível no Brasil para intoxicação por metanol; contaminação pode ocorrer por ingestão, inalação e absorção cutânea

Intoxicação por metanol pode ocorrer por ingestão, inalação e absorção cutânea

O Brasil está em alerta para intoxicação por metanol relacionado ao consumo de bebidas adulteradas. Apenas em São Paulo, 25 casos suspeitos foram notificados pela Secretária Estadual de Saúde. O metanol é um solvente altamente tóxico, utilizado em produtos industriais, mas também pode estar presente em álcool combustível adulterado e em bebidas clandestinas.

De acordo com o médico especialista em clínica médica Último Libânio da Costa, a intoxicação pode ocorrer por ingestão, inalação e absorção cutânea. “O metanol é metabolizado pelo fígado em formaldeído e em seguida em ácido fórmico. A intoxicação ocorre pela biotransformação do metanol em ácido fórmico”, explicou.

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A contaminação pelo composto pode gerar quadros graves, que levam a alterações metabólicas e neurológicas, à cegueira e ao óbito. Diante do quadro de intoxicação (classificado pela concentração de metanol no sangue de 25mg/mL), um antídoto deve ser aplicado. No Brasil, apenas o etanol farmacêutico está disponível para aquisição.

“O metanol é biotransformado pela mesma via do etanol. Por isso, o etanol é utilizado como antídoto, pois ele compete com a via metabólica do metanol e com isso previne a formação dos produtos tóxicos decorrentes do metabolismo do metanol. Assim, o metanol será eliminado pelos rins na forma inalterada”, ressaltou o médico.

Conforme explicou Libânio, a administração do etanol farmacêutico é feita por via endovenosa, mas essa alternativa não é largamente disponível. Apesar de não ser o ideal, o médico apontou que a administração do antídoto por via oral ou por sonda pode ser uma alternativa. “Em casos graves, pode ser necessário hemodiálise”, detalhou.

Além do etanol farmacêutico, o Fomepizol é outro antídoto para a intoxicação, mas que ainda não está disponível no Brasil. Segundo o médico, a administração do ácido fólico endovenoso, quando disponível, pode ser utilizada pois ajuda na diminuição dos níveis de ácido fórmico no sangue.

Sintomas da contaminação

Uma das suspeitas relacionadas à intoxicação por metanol é quando ele apresenta persistência ou piora, após 12 horas de ingestão, de sintomas compatíveis com embriaguez, dor de cabeça e confusão mental.

O médico especialista em clínica médica Último Libânio da Costa explica que a presença de taquicardia e queda de pressão, além de sintomas gastrointestinais como desconforto gástrico, náuseas, vômitos, dor abdominal também podem estar relacionados.

Outro alerta são os sintomas relacionados à visão, como visão turva, borrada, escotomas, fotofobia (aumento da sensibilidade à luz), alteração na acuidade visual, visão dupla, alterações de cores.

São consideradas manifestações graves:

  • Rebaixamento da consciência com possível evolução para coma;
  • Crises convulsivas;
  • Alterações visuais persistentes que podem culminar em cegueira irreversível;
  • Acidose metabólica, ou seja, o sangue fica ácido. O pH normal do sangue é entre 7,35 e 7,45. Nesta situação, o pH fica abaixo de 7,30. Bicarbonato no sangue abaixo de 20mEq/L (o normal é entre 22 e 26);
  • Arritmias cardíacas que podem ser desencadeadas pela queda da concentração de magnésio, potássio e fosfato no sangue;
  • Insuficiência renal;
  • Dosagem de metanol no sangue positiva.

(Sob supervisão de Edu Oliveira)

Rebeca Nicholls é estagiária do digital da Itatiaia com foco nas editorias de Cidades, Brasil e Mundo. É estudante de jornalismo pelo Centro Universitário de Belo Horizonte (UNIBH). Tem passagem pelo Laboratório de Comunicação e Audiovisual do UniBH (CACAU), pela Federação de Agricultura e Pecuária de Minas Gerais (Faemg) e pelo jornal Estado de Minas