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Estudo brasileiro indica que espermatozoides têm comportamento parecido com o de células do sistema imunológico

Com base na descoberta, cientistas já querem fazer a recomendação de que homens com covid aguardem pelo menos seis meses antes de prosseguir com técnica de reprodução assistida

Estudo brasileiro faz descoberta sobre função do espermatozoide

Um estudo brasileiro descobriu uma função inédita do espermatozoide, diferentemente daquela conhecida nos mamíferos, a de reprodução.

Segundo a pesquisa, gametas masculinos infectados pelo vírus da Covid podem apresentar resposta imunológica semelhante ao mecanismo de defesa celular observado em células do sistema imunológico em resposta a infecções.

O professor Jorge Hallak, da Faculdade de Medicina da USP e do Grupo de Saúde Masculina do Instituto de Estudos Avançados (IEA), que também encabeçou a pesquisa, está otimista com as perspectivas de novas descobertas: “Estamos estudando abrir uma nova linha de pesquisa gigantesca. Nós não sabemos se isso aqui só foi visto agora na covid, provavelmente deve existir em outras doenças e nunca foi relatado”.

Uma descoberta inédita

Enquanto trabalhava no Hospital das Clínicas no auge da pandemia, Jorge Hallak começou a estudar a relação entre os testículos e o coronavírus. Algumas descobertas interessantes foram feitas: “Dentre elas, nós vimos, por exemplo, que os pacientes que faleceram tinham o vírus presente em todas as células do testículo. Ou seja, como se uma casa estivesse inteira com cupim (em analogia ao vírus): subsolo, janela, teto, telhado, tudo. Então, achamos isso muito impactante”. Mais curioso ainda foi o achado posterior: apesar de vir de um órgão repleto de vírus, o sêmen ejaculado não apresentava carga viral de covid.

Após aprofundar a pesquisa, eles identificaram que os graus de lesões em alguns espermatozoides, ainda dentro do testículo, eram altíssimos e não correspondiam com o restante do órgão. “É como se você jogasse uma bombinha de São João e fizesse um buraco de um metro no solo”, resume ele a situação observada. “Então, tinha alguma coisa que não estava batendo.”

Nem só de sexo vive o esperma

O que foi descoberto era que o espermatozoide lançava o próprio DNA para capturar vários vírus, de forma semelhante a como se lança uma rede de pesca. A célula do espermatozoide morria no processo, mas levava consigo centenas ou milhares de vírus. Essa ação nunca tinha sido documentada antes. “É a primeira vez na literatura científica mundial que numa célula reprodutiva é demonstrada uma outra função”, afirma o médico, sendo essa nova função a primeira que não tem nada de relação com a reprodução sexual.

Tem, isso sim, muito mais semelhança com um trabalho de imunidade: “Nós fizemos um paralelismo com o que acontece com as células de defesa do organismo. Essas células de defesa entram em ação, sequestram o inimigo e se suicidam, matando o vírus. É assim que a gente se defende de infecções”. Segundo Hallak, essa função foi observada em cerca de 80% dos pacientes infectados analisados.

A hipótese – ainda não comprovada – do professor é de que essa característica seja de uma época muito antiga da evolução, “quando as células eram mais indiferenciadas e não tinha tanta célula no organismo primitivo para poder cada uma ter uma função diferenciada. Ou seja, uma célula tinha múltiplas funções. É como se um jogador de futebol fosse goleiro, atacante, centroavante, defesa e meio de campo”. Assim, funções sexuais e imunológicas se intercalavam numa mesma célula.

Impactos desde já

Essa descoberta levantou também, além de uma animação científica, problemas inéditos. “A nossa preocupação muito grande mesmo é com a reprodução assistida, onde justamente houve um grande aumento do número de inseminações in vitro no Brasil durante a pandemia e até agora. O que acontece é que, na hora que a clínica do laboratório vai escolher esse espermatozoide, o olho humano não tem o poder de um microscópio eletrônico para identificar as células que estão infectadas”, conta o médico.

A consequência é que “possivelmente está havendo uma injeção dessas células com vírus ou dentro dos óvulos”. Sobre isso, eles já querem fazer a recomendação de que homens com covid façam uma quarentena de pelo menos seis a nove meses antes de prosseguir com técnica de reprodução assistida, “porque esse vírus dentro do embrião não é algo interessante. Já têm estudos em ratos que demonstram a transmissibilidade do vírus covid para os embriões, uma vez que o espermatozoide esteja infectado”. Isso, segundo ele, “deve estar resultando em uma maior quantidade de abortos e falhas de gravidez”.

Jornal da USP

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