As descobertas
Os pesquisadores Fred Ramsdell, Mary Brunkow e Shimon Sakaguchi foram premiados por descobertas relacionadas à
Ao premiar as pesquisas, o júri do Nobel ponderou que as descobertas abriram um novo campo de estudos e incentivaram o desenvolvimento de tratamentos para câncer e doenças autoimunes. O médico e pesquisador do IDOR Ciência Pioneira e Fiocruz/BA, Bruno Solano, explicou que o sistema imunológico é “altamente específico”.
“Precisa reconhecer e atacar agentes estranhos, como vírus e bactérias, sem reagir contra o próprio organismo. Parte desse controle ocorre na chamada tolerância central, dentro do timo e da medula óssea, onde células que poderiam causar autoimunidade são eliminadas”, ressaltou.
De acordo com Bruno Solano, outro mecanismo igualmente essencial acontece fora desses órgãos, justamente na tolerância imunológica periférica. O pesquisador relatou que as descobertas reconhecidas internacionalmente solucionaram esse processo, com a identificação das células T regulatórias e do papel do gene FOXP3.
Segundo Solano, essas células reguladoras atuam como um freio para impedir respostas autoimunes. “Esses achados explicam como o corpo mantém o equilíbrio imunológico e abrem caminho para terapias mais seguras em doenças autoimunes, câncer e transplantes”, afirmou.
Tolerância operacional
O imunologista e membro titular da Academia Brasileira de Ciências e da Academia Nacional de Medicina, Jorge Kalil, explicou, em entrevista à Itatiaia, que sempre houve muita controvérsia sobre como o sistema imune era regulado. Kalil detalhou como a descoberta da tolerância imunológica periférica pode propiciar a regulação da resposta aos transplantes.
“Se eu pudesse desenvolver células reguladoras que permitissem uma tolerância a um órgão transplantado, isso seria muito importante. Na tolerância imunológica, e se nós pensarmos ainda no futuro na possibilidade da tolerância de xenotransplante, ou seja, de transplantes feitos a partir de órgãos animais, ainda seria um sonho do ponto de vista terapêutico humano”, reforçou o imunologista.
O especialista ainda ressaltou um exemplo de estudo com as células reguladoras relacionadas à tolerância operacional. De acordo com Jorge Kalil, em alguns casos, indivíduos transplantados param de tomar a medicação por alguma razão, o que leva a maior parte deles a rejeitar o transplante.
No entanto, algumas pessoas, em eventos raros, não rejeitam o órgão, em casos que são chamados de tolerância operacional. “Nós há muitos anos estudamos esse tipo de paciente que é muito importante para compreender como as células reguladoras podem controlar a rejeição desses transplantes”, lembrou Kaliu.
(Sob supervisão de Fabrício Lima)