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Pesquisa premiada com Nobel da Medicina pode transformar tratamento de câncer

A tolerância imunológica periférica é um mecanismo do corpo responsável por manter equilíbrio do sistema imunológico

Os pesquisadores Fred Ramsdell, Mary Brunkow e Shimon Sakaguchi foram premiados por descobertas relacionadas à tolerância imunológica periférica

As descobertas reconhecidas com o Prêmio Nobel de Medicina 2025, nesta segunda-feira (6), podem revolucionar o tratamento de câncer, das doenças autoimunes e respostas aos transplantes. É o que explica o médico e pesquisador do IDOR Ciência Pioneira e Fiocruz/BA, Bruno Solano, e o imunologista e membro titular da Academia Brasileira de Ciências e da Academia Nacional de Medicina, Jorge Kalil.

Os pesquisadores Fred Ramsdell, Mary Brunkow e Shimon Sakaguchi foram premiados por descobertas relacionadas à tolerância imunológica periférica. O mecanismo é responsável por manter o equilíbrio do sistema imunológico e permite que as células de defesa ataquem agentes estranhos, como vírus, bactérias e células tumorais, sem agredir as próprias do organismo.

Ao premiar as pesquisas, o júri do Nobel ponderou que as descobertas abriram um novo campo de estudos e incentivaram o desenvolvimento de tratamentos para câncer e doenças autoimunes. O médico e pesquisador do IDOR Ciência Pioneira e Fiocruz/BA, Bruno Solano, explicou que o sistema imunológico é “altamente específico”.

“Precisa reconhecer e atacar agentes estranhos, como vírus e bactérias, sem reagir contra o próprio organismo. Parte desse controle ocorre na chamada tolerância central, dentro do timo e da medula óssea, onde células que poderiam causar autoimunidade são eliminadas”, ressaltou.

De acordo com Bruno Solano, outro mecanismo igualmente essencial acontece fora desses órgãos, justamente na tolerância imunológica periférica. O pesquisador relatou que as descobertas reconhecidas internacionalmente solucionaram esse processo, com a identificação das células T regulatórias e do papel do gene FOXP3.

Segundo Solano, essas células reguladoras atuam como um freio para impedir respostas autoimunes. “Esses achados explicam como o corpo mantém o equilíbrio imunológico e abrem caminho para terapias mais seguras em doenças autoimunes, câncer e transplantes”, afirmou.

Tolerância operacional

O imunologista e membro titular da Academia Brasileira de Ciências e da Academia Nacional de Medicina, Jorge Kalil, explicou, em entrevista à Itatiaia, que sempre houve muita controvérsia sobre como o sistema imune era regulado. Kalil detalhou como a descoberta da tolerância imunológica periférica pode propiciar a regulação da resposta aos transplantes.

“Se eu pudesse desenvolver células reguladoras que permitissem uma tolerância a um órgão transplantado, isso seria muito importante. Na tolerância imunológica, e se nós pensarmos ainda no futuro na possibilidade da tolerância de xenotransplante, ou seja, de transplantes feitos a partir de órgãos animais, ainda seria um sonho do ponto de vista terapêutico humano”, reforçou o imunologista.

O especialista ainda ressaltou um exemplo de estudo com as células reguladoras relacionadas à tolerância operacional. De acordo com Jorge Kalil, em alguns casos, indivíduos transplantados param de tomar a medicação por alguma razão, o que leva a maior parte deles a rejeitar o transplante.

No entanto, algumas pessoas, em eventos raros, não rejeitam o órgão, em casos que são chamados de tolerância operacional. “Nós há muitos anos estudamos esse tipo de paciente que é muito importante para compreender como as células reguladoras podem controlar a rejeição desses transplantes”, lembrou Kaliu.

(Sob supervisão de Fabrício Lima)

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Rebeca Nicholls é estagiária do digital da Itatiaia com foco nas editorias de Cidades, Brasil e Mundo. É estudante de jornalismo pelo Centro Universitário de Belo Horizonte (UNIBH). Tem passagem pelo Laboratório de Comunicação e Audiovisual do UniBH (CACAU), pela Federação de Agricultura e Pecuária de Minas Gerais (Faemg) e pelo jornal Estado de Minas
Izabella Gomes é estudante de Jornalismo na PUC Minas e estagiária na Itatiaia. Atua como repórter no jornalismo digital, com foco nas editorias de Cidades, Brasil e Mundo.
Formada em jornalismo pelo Centro Universitário de Belo Horizonte (UniBH), já trabalhou na Record TV e na Rede Minas. Atualmente é repórter multimídia e apresenta o ‘Tá Sabendo’ no Instagram da Itatiaia.