O deputado estadual Eduardo Suplicy (PT-SP), de 82 anos, trata o Parkinson desde setembro do ano passado com o canabidiol, substância natural extraída da planta conhecida como maconha (cannabis sativa). O petista foi diagnosticado com a doença no estágio inicial e afirma que após tomar a substância apresentou melhoras nos sintomas. Atualmente, o político toma nove gotas da substância, três vezes ao dia, sempre após as refeições.
Segundo o Ministério da Saúde, o Parkinson é uma doença neurológica que afeta os movimentos de uma pessoa, causando tremores, lentidão de movimentos, rigidez muscular, desequilíbrio, além de alterações na fala e na escrita.
O Parkinson não tem cura, mas o tratamento pode aliviar os sintomas e retardar a evolução da doença. A cannabis e seus canabinoides são uma das opções terapêuticas que podem contribuir para a melhora da qualidade de vida de pessoas com Parkinson.
O psicólogo da Associação Brasileira de Pacientes de Cannabis Medicinal (AMA+ME) e conselheiro do Conselho Regional de Psicologia de Minas Gerais (CRP-MG), Anderson Matos, explica que o uso da cannabis afeta um sistema do corpo chamado endocanabinoide, responsável pela regulação e equilíbrio de uma série de processos fisiológicos do corpo humano.
“Esse sistema controla todos os outros sistemas do corpo. Por isso, a cannabis recobre um número gigantesco de doenças. No caso do Parkinson, ela melhora os tremores, o equilíbrio, e, até mesmo, o humor do paciente”, esclarece o psicólogo.
Matos avalia que a cannabis pode ser ainda mais eficaz na melhoria dos sintomas do que os medicamentos convencionais. “Como a cannabis equilibra um sistema que a gente já tem [o endocanabinoide], ela é mais eficaz do que os medicamentos comuns. Além disso, muitas vezes os remédios convencionais têm efeitos colaterais, o que quase não acontece com a cannabis”, diz o psicólogo.
Deputado sentiu melhora nos sintomas
Em entrevista ao canal Viva Bem, do UOL, publicada nesta terça-feira (4), o deputado contou que sentiu a melhora dos sintomas, especialmente em relação às dores musculares na perna. Segundo o petista, elas “sumiram”. “Também passei a andar com maior firmeza, e eu faço isso, sempre fui um bom esportista”, disse.
Suplicy conta que após ser diagnosticado com a doença, ele começou a acompanhar associações que travam seus pacientes com a cannabis medicinal e que viu de perto a melhora deles. Impressionado com os benefícios da cannabis, o deputado escreveu uma carta à Agência Nacional de Saúde (Anvisa) contando sobre os benefícios da substância - a Anvisa é a principal reguladora e fiscalizadora do uso da planta no país.
Suplicy toma a substância três vezes ao dia
O deputado disse que começou a tomar o medicamento após conhecer a Associação Flor da Vida, em Franca, interior de São Paulo. No lugar, pacientes com dores crônicas ou síndromes raras, especialmente crianças, são tratados com a cannabis medicinal.
Após iniciar a medicação, Suplicy conta que foi ajustando a dose aos poucos e a aumentando com o tempo. “O primeiro óleo tinha uma cor diferente, porque era em doses da Cannabis medicinal infantil. Fui tomando pouco a pouco: cinco gotas por dia”, explicou.
A dose foi aumentando gradativamente e, recentemente, o político começou a tomar a substância para adultos. Agora, Suplicy toma nove gotas, três vezes ao dia, sempre após as refeições.
A cannabis medicinal é permitida no Brasil?
Inicialmente, os pacientes que tinham indicação médica de uso da cannabis precisavam de uma decisão judicial para importar a substância. Hoje o acesso está mais simples.
Os pacientes podem solicitar a importação do medicamento junto à Anvisa, nos postos do órgão (nos aeroportos e áreas de fronteiras). Para isso, basta apresentar a receita médica, indicando a quantidade a ser importada. Caso a solicitação seja aceita pela Anvisa, uma autorização, válida por dois anos, será emitida para a importação dos produtos derivados da Cannabis.
Além da substância importada, algumas associações de pacientes de cannabis medicinal brasileiras têm autorização para plantar a maconha e produzir os medicamentos em território nacional. “Hoje, o Brasil conta com mais de 50 associações de pacientes. Elas têm condição de atender todos as pessoas que precisam da cannabis medicinal no país. Não faz mais sentido importar, a não ser que seja uma composição muito específica”, explica o psicólogo da AMA+ME.
Para ter acesso ao medicamento nacional é obrigatório integrar uma associação. As regras para se juntar a uma delas são residir no Brasil, ser maior de 18 anos ou menor representado(a) pelo(a) responsável legal, e portador de doença passível de tratamento complementar com cannabis medicinal.
O medicamento ainda não é oferecido no Sistema Único de Saúde em âmbito federal. Mas, alguns estados e municípios têm legislações que garantem o acesso à cannabis gratuitamente.