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PGR revela esquema com ‘provas sólidas’ e cobra condenação de Bolsonaro e grupo

Documentos, gravações e planos detalhados revelam articulação criminosa para romper a ordem democrática; procuradoria pede condenação dos oito acusados por golpe, organização criminosa e danos ao patrimônio público

Paulo Gonet

A Procuradoria-Geral da República afirmou que a tentativa de golpe de Estado articulada após as eleições de 2022 deixou um volume inédito de provas materiais, suficientes para comprovar a existência de uma organização criminosa com objetivo de romper a ordem democrática no Brasil.

Nas alegações finais entregues ao Supremo Tribunal Federal nesta segunda-feira (14), o procurador-geral da República, Paulo Gonet, declarou que os próprios integrantes da trama golpista documentaram suas ações em detalhes, com gravações, manuscritos, arquivos digitais, planilhas e mensagens eletrônicas, o que, segundo ele, torna “ainda mais evidente a materialidade dos crimes”.

As manifestações se referem ao processo que investiga o núcleo central da tentativa de ruptura institucional, composto por oito acusados, incluindo o ex-presidente Jair Bolsonaro e alguns de seus aliados mais próximos.

“Não há como negar fatos praticados publicamente, planos apreendidos, diálogos registrados e bens públicos deteriorados”, diz um trecho do parecer da PGR.

Provas que sustentam a acusação

Entre os principais elementos reunidos pelo Ministério Público, estão:

  • Live de Bolsonaro em 2021 atacando, sem provas, o sistema eleitoral;
  • Reunião com embaixadores em 2022, transmitida ao vivo, com novas acusações às urnas eletrônicas;
  • Manuscritos e arquivos digitais com estratégias para desacreditar a Justiça Eleitoral;
  • Mensagens e planilhas com registros de reuniões que envolveram o uso indevido da Polícia Rodoviária Federal no segundo turno das eleições;
  • Troca de mensagens que indicam tentativa de manipular o relatório das Forças Armadas sobre as urnas;
  • Convocação de oficiais do Exército para debater a possibilidade de medidas golpistas;
  • Representação do PL ao TSE, com acusações infundadas para inflamar a base bolsonarista;
  • Planos militares, como o “Punhal Verde-Amarelo”, localizados no Planalto;
  • Imagens e laudos que comprovam a destruição dos prédios dos Três Poderes em 8 de janeiro de 2023.

PGR: tentativa de golpe é inegável

Para a PGR, as evidências apontam de forma irrefutável que a organização criminosa atuou com o objetivo de deslegitimar o processo eleitoral, mobilizar setores armados do Estado e interferir na vontade soberana dos eleitores.

“A organização desacreditou o sistema eletrônico de votação, mobilizou o braço armado do Estado e atuou para prejudicar a livre manifestação da vontade popular”, destaca Gonet.O documento afirma ainda que houve incitação à violência contra o Judiciário, com ameaças públicas, ataques virtuais e até planos concretos de ações armadas. Medidas de intervenção institucional teriam sido levadas ao Alto Comando do Exército.

Dano ao patrimônio e organização criminosa

A Procuradoria também confirma que os crimes de dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado ficaram evidentes nas imagens da destruição das sedes dos Três Poderes. Os prejuízos foram atestados por laudos do STF, Senado e Câmara.

Além disso, o Ministério Público vê uma estrutura estável e hierarquizada, com divisão de tarefas e influência dentro do próprio aparato estatal, o que caracterizaria uma organização criminosa armada.

“Trata-se de um projeto autoritário de poder, com integrantes enraizados na estrutura do Estado e apoio de setores militares”, afirma o parecer.

Quem são os denunciados

O núcleo central da tentativa de golpe, segundo a PGR, é composto por:

  • Jair Bolsonaro – ex-presidente da República
  • Alexandre Ramagem – deputado federal e ex-diretor da Abin
  • Almir Garnier – ex-comandante da Marinha
  • Anderson Torres – ex-ministro da Justiça
  • Augusto Heleno – ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional
  • Mauro Cid – ex-ajudante de ordens da Presidência
  • Paulo Sérgio Nogueira – ex-ministro da Defesa
  • Walter Braga Netto – ex-ministro da Casa Civil

Crimes atribuídos aos acusados

A Procuradoria pede que todos sejam condenados pelos seguintes crimes:

  • Formação de organização criminosa armada
  • Tentativa de golpe de Estado
  • Tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito
  • Dano qualificado ao patrimônio público
  • Deterioração de patrimônio tombado

A entrega das alegações finais encerra a fase de instrução e abre caminho para que o Supremo Tribunal Federal marque o julgamento do caso.

Aline Pessanha é jornalista, com Pós-graduação em Marketing e Comunicação Integrada pela FACHA - RJ. Possui passagem pelo Grupo Bandeirantes de Comunicação, como repórter de TV e de rádio, além de ter sido repórter na Inter TV, afiliada da Rede Globo.