O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou neste domingo (3), durante encontro nacional do PT em Brasília (DF), que o Brasil não é mais tão dependente dos Estados Unidos como em outros tempos. Lula disse que o país não pode continuar “subordinado ao dólar” e declarou que está aberto a negociar sobre as tarifas, mas que os interesses brasileiros devem ser considerados. Além disso, afirmou que os EUA já ajudaram a dar um golpe no Brasil, em referência a 1964.
“O Brasil hoje não é tão dependente como já foi dos Estados Unidos. O Brasil tem uma relação comercial muito ampla com o mundo inteiro. Estamos muito mais tranquilos do ponto de vista econômico. Mas, obviamente, eu não vou deixar de reconhecer a importância da relação diplomática com os Estados Unidos, que já dura 201 anos. Não vou esquecer que eles também já deram um golpe aqui — ajudaram a dar o golpe de 1964. Mas o que me interessa é daqui para frente. E daqui para frente, eles têm que saber que temos o que negociar. Temos tamanho, temos postura, temos interesses econômicos e políticos. Não vou abrir mão da ideia de que precisamos construir uma moeda alternativa para negociar com outros países. Não preciso ficar subordinado ao dólar. E não estou falando isso agora. Em 2004, fizemos isso com a Argentina”, declarou Lula. O presidente destacou ainda que a negociação com os Estados Unidos sobre a taxação de produtos brasileiros — medida anunciada pelo ex-presidente Donald Trump — deve ocorrer em condições de igualdade.
“Os Estados Unidos são um país muito grande, o mais bélico do mundo, o mais tecnológico, o maior economicamente. Tudo isso é importante, mas queremos ser respeitados pelo nosso tamanho. Temos interesses econômicos, temos interesses estratégicos, queremos crescer e não somos uma republiqueta. Tentar impor uma questão política para nos penalizar economicamente é inaceitável”, afirmou. Lula também criticou o recente decreto de Trump, que estabelece uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, e disse que o republicano está atacando o sistema multilateral de comércio.
“Acho que um presidente da República pode taxar o que quiser aqui no Brasil. É importante vocês saberem que, de vez em quando, me reúno com o Alckmin e com o Haddad para discutir aumento de tarifas sobre produtos importados. Mas aumentamos, no máximo, dentro do limite que a OMC (Organização Mundial do Comércio) permite — 35%. Agora ele (Trump) extrapolou todos os limites, porque quer acabar com o multilateralismo”, criticou. Segundo Lula, a tentativa de negociação direta, país a país, favorece nações mais poderosas e prejudica países em desenvolvimento.
“Ele quer voltar à negociação bilateral, país com país. Ou seja, um país pequeno negociando com os Estados Unidos é como um trabalhador de uma fábrica com 80 mil empregados tentar negociar sozinho com o patrão. O acordo é leonino, não ganha nada. A verdade é a seguinte: estamos trabalhando, vamos apoiar nossas empresas, defender nossos trabalhadores e dizer: ‘quando quiser negociar, as propostas estão na mesa’. Aliás, já foram apresentadas pelo Alckmin (vice-presidente) e pelo Mauro Vieira (ministro das Relações Exteriores)”, completou o presidente.
Tarifa de Trump
Na última quarta-feira (30), o ex-presidente Donald Trump assinou um decreto executivo que oficializa uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros. A medida entrará em vigor na próxima quarta-feira (6).
No documento, Trump afirma que a ordem é justificada por uma ‘emergência nacional’, motivada por políticas e ações “incomuns” e “extraordinárias” do governo brasileiro. Segundo ele, essas ações prejudicam empresas americanas, os direitos de liberdade de expressão dos cidadãos dos EUA, além de afetarem negativamente a política externa e a economia do país.
Trump também justificou a medida citando o que considera ser uma “perseguição, intimidação, assédio, censura e processo politicamente motivado” contra o ex-presidente Jair Bolsonaro.