Em 1986, o então capitão do 8º Grupo de Artilharia de Campanha, ficou preso por 15 dias em um quartel no Rio de Janeiro. O motivo: um artigo publicado na seção “Ponto de Vista”, da revista Veja, em que cobrava um aumento para os militares.
Sob o título de “O salário está baixo”, Bolsonaro argumentava no texto que a maioria dos cadetes havia deixado o Exército em razão da “crise financeira” que atingia “as massas dos oficiais e os sargentos” da Força.
“A situação é dramática. Os oficiais estão abandonando o Exército. (...) É hora de parar. Chega de cortes, chega de justificativas econômicas. Não se admite mais que um profissional que passou por uma rígida formação e que corre o risco de perder a vida em defesa da Pátria seja tratado com tamanho descaso. O Exército é uma instituição nacional e sua crise reflete diretamente na formação da juventude, na moral dos quartéis e na autoestima do cidadão brasileiro. Urge, pois, que o governo federal olhe com respeito para seus militares. Um Exército desprestigiado é um país vulnerável. E o Brasil, com sua dimensão continental, não pode ser um país vulnerável”, escreveu o então oficial.
Bolsonaro ainda concluiu o texto com o lema dos paraquedistas do Exército, que viria a se tornar parte do seu slogan de campanha em 2018: “Brasil acima de tudo”.
O artigo causou uma grande mobilização na caserna e chegou a Brasília. O ministro do Exército, general Leônidas Pires Gonçalves, considerou a publicação como um “ato de indisciplina inadmissível”. Como resultado, o então capitão foi punido disciplinarmente com 15 dias de prisão em um quartel no Rio de Janeiro, por “ter ferido a ética, gerando clima de inquietação na organização militar”.
Mas em outubro de 1987, Bolsonaro teve um novo problema na Justiça militar e, outra vez, envolvendo a Veja.
A revista denunciou em uma reportagem a chamada “Operação Beco Sem Saída”, um plano arquitetado pelo capitão e um outro colega que previa a explosão de bombas de baixa potência em banheiros da Vila Militar, da Academia Militar das Agulhas Negras, em Resende (RJ) e outros quartéis. Um explosivo também seria colocado na adutora do Guandu, que abastece o município fluminense.
O objetivo: mais uma vez protestar contra os salários dos militares e pressionar o general Leônidas. Após quatro meses de investigação, o ministro concluiu que a revista estava certa e que os oficiais envolvidos na trama tinham mentido ao dizer que a reportagem havia publicado acusações fraudulentas.
Por unanimidade, em 19 de abril de 1988, o Conselho de Justificação Militar (CJM), órgão disciplinar instaurado para analisar o caso, considerou Bolsonaro culpado e determinou fosse “declarada sua incompatibilidade para o oficialato e consequente perda do posto e patente”.
O então capitão recorreu ao Superior Tribunal Militar (STM), que, em junho do mesmo ano, o absolveu, por 8 votos a 3, por considerar as provas apresentadas no processo como insuficientes.
Mais tarde, Bolsonaro passou à reserva do Exército e iniciou sua carreira política, tendo sido eleito vereador do Rio de Janeiro, em novembro de 1988.
Réus (“núcleo crucial”)
O julgamento que começa nesta terça-feira (2) envolve oito réus considerados núcleo essencial da trama, conforme denúncia da PGR:
1. Jair Bolsonaro — ex-presidente da República
2. Alexandre Ramagem — deputado federal e ex-diretor-geral da Abin (responde por três crimes, devido à imunidade parlamentar)
3. Almir Garnier Santos — almirante e ex-comandante da Marinha
4. Anderson Torres — ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança do DF
5. Augusto Heleno — general da reserva e ex-ministro do GSI
6. Paulo Sérgio Nogueira — general da reserva e ex-ministro da Defesa
7. Walter Braga Netto — general da reserva, ex-ministro e candidato a vice em 2022
8. Mauro Cid — tenente-coronel, ex-ajudante de ordens e delator no processo