Relator de processo de cassação mobiliza aliados para tentar manter mandato de Zambelli

Relator do processo diz que cassação criaria “precedente sem provas”

Segundo denúncia, Carla Zambelli teria falsificado assinatura de um suposto prestador de serviço para justificar gastos de campanha

O relator do processo de cassação da deputada Carla Zambelli (PL-SP), Diego Garcia (Republicanos-PR), apresentou um novo relatório na CCJ, mas continuou com a prerrogativa de defender o mandato da parlamentar. O texto, que será debatido ainda hoje, traz ajustes pontuais, mas preserva integralmente a conclusão de que a Câmara não deve cassar Zambelli.

Garcia afirmou que a atualização do parecer responde a críticas feitas por parlamentares do PT, PSOL e PDT na última reunião da comissão. Segundo ele, o objetivo foi reforçar pontos que já estavam no voto, como a prerrogativa exclusiva da Câmara para decidir sobre perda de mandato em casos de condenação criminal transitada em julgado.

Ele rebateu especialmente o voto em separado do deputado Rubens Júnior (PDT), que questionava o rito aplicado. Garcia disse ter reiterado no novo parecer que o procedimento seguido pela CCJ está de acordo com a Constituição e com o regimento interno, e que a deputada teve direito pleno à defesa. Para ele, o mandado de segurança apresentado pelo deputado Lindbergh Farias (PT), pedindo a suspensão de todo o processo, é “inaceitável”, porque ignora que a Câmara seguiu exatamente o rito previsto.

O relator também defendeu a decisão do presidente da CCJ, Hugo Motta, de não transformar a deliberação da Casa em um ato apenas declaratório. Garcia afirmou que a palavra final deve ser do plenário, que votará o caso ainda hoje.

Diego Garcia enfatizou que teve acesso, a pedido da CCJ, ao material sigiloso do inquérito que embasa a condenação da deputada. Ele afirmou que não encontrou, nos autos, elementos que justificassem a perda do mandato. Segundo ele, a acusação se sustenta principalmente no depoimento do hacker Walter Delgatti, que, de acordo com o próprio relatório policial, seria um “mentiroso compulsivo” e teria modificado sua versão várias vezes.

O relator argumenta que cassar um mandato com base em um conjunto de provas mantidas em sigilo seria abrir um precedente perigoso. Ele defendeu que o sigilo fosse suspenso para que imprensa e sociedade pudessem avaliar o conteúdo do inquérito.

Garcia disse que a decisão da Câmara terá impacto direto em casos futuros: se Zambelli for cassada, outros parlamentares poderão ser julgados pelo mesmo rito, ainda segundo ele, um rito marcado por acesso restrito às provas, limitações à defesa e ausência de transparência.

O relator afirmou ter mantido conversas com deputados e líderes desde a semana passada, inclusive com parlamentares que não estiveram presentes na primeira discussão da CCJ. Ele disse perceber apoio crescente ao parecer e citou o caso da União Brasil, que trocou praticamente todos os seus integrantes na comissão antes da votação, movimento que, na avaliação dele, indica alinhamento à manutenção do mandato.

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Garcia reforçou que seu relatório é “técnico” e que nenhum outro parlamentar examinou tão de perto as provas e os autos do processo. Ele disse esperar que o plenário, “soberano”, rejeite a cassação.

O deputado afirmou que não há possibilidade de novo pedido de vista. A CCJ parte agora para discussão e votação, e, na sequência, o caso segue imediatamente ao plenário da Câmara.

A deputada deixou o Brasil em maio, às vésperas da decisão sobre seu caso, viajando para a Itália, onde tem cidadania. Lá, acabou presa e segue detida aguardando decisão sobre pedido de extradição apresentado pelo governo brasileiro. Ela foi condenada em ação criminal no Supremo Tribunal Federal, o que motivou o processo de perda de mandato.

Aline Pessanha é jornalista, com Pós-graduação em Marketing e Comunicação Integrada pela FACHA - RJ. Possui passagem pelo Grupo Bandeirantes de Comunicação, como repórter de TV e de rádio, além de ter sido repórter na Inter TV, afiliada da Rede Globo.

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