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Defesa de Zambelli fala em perseguição e acusa hacker de mentir à CCJ

Advogado diz que Delgatti apresentou versões conflitantes, que provas contra a deputada não existem e que extradição seria fruto de pressão política

Audiência na CCJ da deputada federal Carla Zambelli

Detida em Roma desde julho, a deputada federal licenciada Carla Zambelli (PL-SP) participou nesta quarta-feira (10) de uma audiência inédita na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados. A sessão marcou o início da análise de seu processo de cassação e contou também com o depoimento do hacker Walter Delgatti, condenado junto com a parlamentar por invasão ao sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

A audiência, realizada de forma remota, foi marcada por confrontos diretos entre a deputada e o hacker. Enquanto Delgatti reafirmou que Zambelli teria comandado os crimes cibernéticos, a defesa reagiu de forma dura, classificando seu depoimento como cheio de contradições e sem consistência. Para o advogado da deputada, Fábio Pagnozzi, a sessão foi positiva e clara quanto a verdade sobre o caso.

Defesa tenta descredibilizar hacker

Durante entrevista após a audiência, o Fábio Pagnozzi afirmou que o hacker apresentou versões incompatíveis com depoimentos anteriores, inclusive sobre onde teria se hospedado em Brasília. Em 2023, na CPMI das Fake News, Delgatti declarou nunca ter dormido no apartamento da deputada. Já na CCJ, disse que morou no local por até 30 dias.

Outro ponto levantado foi a alegação de que Delgatti teria apagado diariamente mensagens de seu celular e mantido um “backup secreto” de conversas, nunca apresentado às autoridades. Para a defesa, o suposto esvaziamento do aparelho, somado ao material apreendido em seu computador, minaria de vez sua credibilidade. “Diversas coisas que perguntaram sobre mensagens não estavam no celular dele, e ele disse que apagava todas as noites, fazia um backup. Nada tinha no celular dele, mas no computador foi apreendido material com pornografia infantil e 40 mil documentos de RG, CPF, comprovantes de residência, usados para fraudar sites de grandes lojas e de aplicativos de entrega. O processo da Carla Zambelli é nada mais nada menos que uma perseguição política e jurídica.”, completou a defesa que diante desse histórico, sustenta que o hacker não poderia sequer ser ouvido como testemunha, já que estaria envolvido em outros crimes graves e sem provas consistentes para sustentar acusações contra Zambelli.

Apoio político e reação emocionada

Zambelli, que participou da audiência da penitenciária feminina de Rebibbia, em Roma, chorou ao ouvir mensagens de solidariedade de colegas parlamentares. Deputados aliados, como Bia Kicis (PL-DF), Marcel Van Hattem (NOVO-RS) e Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), enviaram recados de apoio à colega, que está há mais de dois meses sob custódia na Itália. “Ela chorou muito na audiência, principalmente nas palavras de clamor da Bia Kicis, dos deputados Marcel Van Hattem e do Sóstenes. Isso a comoveu e também encheu de esperança, porque, imagina, ela está custodiada em outro país, sem poder ter acesso à rede social ou a qualquer outro tipo de comunicação, ouvindo palavras de ajuda dos seus pares aqui na Câmara.”, comentou a defesa.

Bia Kicis, que integra a base de apoio à deputada, reforçou críticas ao Supremo Tribunal Federal e questionou o peso dado ao depoimento de Delgatti: “Quem é esse Walter Delgado, que é a única pessoa que acusou a Carla Zambelli de ter sido mandante do crime que ele cometeu? Nenhuma outra prova, apenas a palavra de um mentiroso contumaz. É nessa pessoa que a justiça acreditou? Sim, acreditaram porque queriam perseguir e condenar a deputada Carla Zambelli, cujos processos andaram numa velocidade meteórica, enquanto processos de corruptos ficam mofando no STF.”

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Próximos passos no processo

A CCJ marcou para a próxima quarta-feira (17) a continuidade da análise do caso. Nessa data, Carla Zambelli deverá prestar depoimento, ao lado de outras testemunhas ligadas à defesa. Entre os nomes estão o perito judicial Eduardo Tagliaferro e o blogueiro Oswaldo Eustáquio, ambos com histórico de investigações e processos judiciais no Brasil. A expectativa é de que a sessão seja novamente realizada por videoconferência, em razão da detenção da parlamentar na Itália.

O relator Diego Garcia (Republicanos-PR) e o presidente da CCJ, Paulo Azi (União-BA), ainda definem as regras do depoimento remoto, incluindo o formato das perguntas e os limites para manifestações. O caso é considerado inédito: trata-se do primeiro processo de cassação envolvendo uma deputada em exercício que se encontra presa em outro país.

Extradição e pressão política

Paralelamente ao processo no Brasil, Zambelli aguarda o desfecho de seu pedido de extradição, em análise na Justiça italiana. Segundo o advogado, há indícios de que parlamentares italianos estariam sendo pressionados por autoridades brasileiras para facilitar o retorno da deputada ao país. Ele sustenta que, do ponto de vista jurídico, a extradição não deveria ocorrer, já que os crimes atribuídos a Zambelli “não existem” e não há provas que a liguem diretamente à invasão dos sistemas do CNJ. Para a defesa, apenas uma “justiça imparcial” poderá evitar a extradição. O advogado citou ainda que o processo contra a deputada corre em velocidade “anormal”, enquanto casos de corrupção permanecem sem solução no Supremo Tribunal Federal.

Contexto do caso

Carla Zambelli foi condenada em maio a 10 anos de prisão por participação em uma invasão hacker ao CNJ. Dias após a decisão, deixou o Brasil por terra, cruzou a fronteira com a Argentina e, posteriormente, seguiu para os Estados Unidos antes de se estabelecer na Itália.

Incluída na difusão vermelha da Interpol, foi presa em julho em Roma e permanece sob custódia desde então. Com o processo de extradição em andamento e a cassação de mandato em análise, a deputada enfrenta simultaneamente batalhas jurídicas no Brasil e na Europa.

Aline Pessanha é jornalista, com Pós-graduação em Marketing e Comunicação Integrada pela FACHA - RJ. Possui passagem pelo Grupo Bandeirantes de Comunicação, como repórter de TV e de rádio, além de ter sido repórter na Inter TV, afiliada da Rede Globo.