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Damião anuncia judicialização da greve dos professores e cortes nos salários

Prefeitura de Belo Horizonte vai acionar a justiça contra a paralisação dos professores, que já passa de duas semanas

Álvaro Damião (União Brasil), prefeito de Belo Horizonte.

O prefeito de Belo Horizonte, Álvaro Damião, anunciou nesta sexta-feira (27) que a Prefeitura vai judicializar a greve dos professores da rede municipal, que já dura mais de duas semanas. Ele também determinou o corte de ponto dos profissionais que aderiram à paralisação.

“Semana que vem já é dia de passar as folhas de ponto para todos os professores e professoras. Eles já terão acesso e lá vão perceber que todos os dias em greve foram cortados. Não existe a possibilidade de pagar uma pessoa que não foi trabalhar. Eu não posso fazer isso, a lei não me permite fazer isso”, afirmou o prefeito, em coletiva.

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A decisão foi comunicada um dia após os professores da rede municipal votarem pela continuidade da greve por tempo indeterminado. A paralisação começou em 9 de junho, com a categoria reivindicando um reajuste salarial superior aos 2,49% propostos pela Prefeitura, além de outras demandas, como a contratação imediata de professores, especialmente nas EMEIs, reestruturação da carreira, redução de alunos por sala, ampliação do tempo de planejamento e paridade nos reajustes dos aposentados.

Segundo Álvaro Damião, a proposta apresentada pelo município garante ganhos acima da inflação acumulada nos primeiros meses de 2024, e está alinhada ao que foi oferecido a outras 13 categorias de servidores, que aceitaram o acordo.

“O que nós propomos está dentro do que a Prefeitura já vinha fazendo com todas as outras categorias. Todas aceitaram. Apenas o sindicato dos professores não aceitou”, declarou.

O prefeito reforçou que Belo Horizonte já paga salários acima do piso nacional da educação. De acordo com ele, os 2,49% oferecidos agora se referem apenas ao período de janeiro a abril, antes da nova data-base implementada pela atual gestão.

“A partir de maio, juntando com o próximo ano, a gente faz toda a recomposição do ano. E, assim como fizemos ano passado, nós não só pagamos a inflação, como demos ganho real”, disse.

Damião também criticou os índices pedidos por parte da categoria: “Querem seis, querem sete, um chegou a falar em 20%. Nós temos que ter responsabilidade com o dinheiro que temos para administrar”, afirmou.

Durante o anúncio, o prefeito afirmou ainda que as escolas municipais seguirão abertas para atender alunos em situação de vulnerabilidade. “A partir de amanhã (sábado, 28), mesmo sendo sábado, todas as escolas estarão abertas para receber as crianças que precisam se alimentar. Muitas delas vão à escola pra isso”, disse.

Atualmente, das 324 escolas da rede, 291 estão parcial ou totalmente afetadas pela greve. Apenas 33 unidades funcionam normalmente.

O sindicato afirma que até o momento não foi comunicado de uma judicialização e que, se ela ocorrer, avalia a medida como “autoritária”. “A greve é um direito legal, tudo o que fizemos está dentro das previsões legais, não há motivo para temermos a judicialização”, destaca.

Leia a nota na íntegra

1- O prefeito disse que irá judicializar a greve.

Até o momento o sindicato não tem nenhuma informação sobre o tema. Se isso acontecer de fato, essa nos parece uma medida autoritária, não é a melhor forma de resolver o impasse. A greve é um direito legal, tudo que fizemos está dentro das previsões legais, não há motivo para temermos a judicialização. Se for necessário faremos as defesas necessárias junto ao judiciário. O que pode de fato colocar fim a greve é a negociação.

2 - Irá proceder o corte de ponto dos dias paralisados.

O ponto dos dias relativos à greve só poderá ser cortado no salário que receberemos em agosto. Nossa perspectiva é que o impasse se resolva muito antes disso.

3- Que a prefeitura paga o piso.

O piso é o menor salário a ser pago para um professor de nível médio que todas as cidades e estados do país devem seguir. A prefeitura paga o piso proporcional à jornada, ou seja quase metade do valor integral do piso. A quarta cidade mais rica do país não pode pagar o mesmo salário que a cidade mais pobre do país. Quando o piso foi instituído o professor no primeiro nível da carreira de BH recebia o valor completo do piso. A defasagem do nosso salário em relação aos reajustes do piso chegam a quase 200%. Apenas de 2017 até 2025 (governo kalil para cá) os reajustes no nosso salário foram 47% menores que o do piso.

4- 2,49% é a inflação de Janeiro a Abril e que fechamos 2024 sem perdas salariais inflacionárias.

Considerando o índice inflacionário temos uma perda acumulada de quase 40% que a prefeitura desconhece. De 2018 a 2024 a arrecadação da prefeitura cresceu mais de 80%, pelo menos 3 vezes mais que a inflação. Este crescimento também se deu nos recursos do FUNDEB, recurso específico da educação. O problema tem sido o mau uso do p

dinheiro da educação. Existe uma investigação de contratos realizados pelo último secretário de educação na ordem de 150 milhões. O ex secretário Bruno Barral foi afastado do cargo por uma ação da polícia federal, investigação que já existia quando o mesmo assumiu a secretaria de educação de BH. Importante lembrar que tratou-se de uma indicação do União Brasil, partido do atual prefeito e principal financiador da campanha Fuad/Damião nas eleições de 2024.

5- Sobre abrir a escola para servir comida as crianças que não tem como.se alimentar.

Achamos lamentável o prefeito admitir a existência deste grau de insegurança alimentar em Belo Horizonte e que não existe política pública com relação a isso. Para realizar tal ação o prefeito não pode desrespeitar no entanto os direitos trabalhistas dos trabalhadores terceirizados e precisa garantir a estrutura para que isso se dê. Portanto para amanhã isso é impossível. Além do mais a escola não abre aos sábados para servir comida às crianças. Não existe justificativa para fazê-lo porque estamos em greve.

6- Sobre as supostas 33 reuniões realizadas com a entidade sindical.

Tivemos 2 reuniões específicas para tratar de itens da pauta que tem impacto financeiro, a primeira delas após 20 dias de greve. As supostas 33 reuniões foram para resolver questões caso a caso de diretores de escolas que foram eleitos e que possuem cargos em outra rede e que não conseguiram a cessão que é comum acontecer. Como a prefeitura não se moveu para resolver o problema, que era responsabilidade dela, o sindicato teve de se envolver. Essas reuniões não trataram de questões da pauta salarial.

Comando de Greve dos trabalhadores em educação da Rede Municipal de Educação de Belo Horizonte

Graduado em jornalismo e pós graduado em Ciência Política. Foi produtor e chefe de redação na Alvorada FM, além de repórter, âncora e apresentador na Bandnews FM. Finalista dos prêmios de jornalismo CDL e Sebrae.