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Cid diz que general Mario Fernandes tinha postura radical e influenciava militares

Segundo depoente, ex-assessor de Bolsonaro espalhava mensagens em grupos de generais e defendia ações mais enérgicas do Exército

Mauro Cid

Durante audiência no Supremo Tribunal Federal (STF) nesta segunda-feira (14), o tenente-coronel Mauro Cid afirmou que o general da reserva Mario Fernandes atuava de forma ostensiva e radical nos bastidores do pós-eleição e que suas opiniões influenciavam outros integrantes das Forças Armadas.

Cid descreveu Fernandes como alguém que buscava contato direto com o então presidente Jair Bolsonaro, levando propostas mais duras diante do resultado das urnas. “Ele procurava o presidente sempre com uma visão mais radical das ações”, afirmou o ex-ajudante de ordens, que presta depoimento como informante do juízo, após acordo de delação.

De acordo com Cid, as manifestações de Fernandes não se restringiam ao ambiente presidencial. Ele teria enviado mensagens a grupos de WhatsApp com outros generais, defendendo medidas de ruptura institucional.

“Ele estava bem ostensivo, bem acintoso nas ideias dele, escrevendo no WhatsApp, mandando mensagens para generais. Isso reverberava nos grupos.”Fernandes é réu no processo que apura o núcleo 2 da suposta trama golpista, apontado como o grupo que organizava e operacionalizava ações da tentativa de golpe. Ele é autor do documento apelidado de “Punhal Verde e Amarelo”, que, segundo as investigações, continha planos de assassinato do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva e do vice Geraldo Alckmin. A defesa de Fernandes não nega a autoria, mas afirma que o texto nunca foi levado adiante nem apresentado a outras pessoas.

Questionado pelo advogado Marcos Vinícius Figueiredo, defensor de Fernandes, se o general participou de reuniões com teor golpista, Cid reforçou que o militar “incentivava ações mais radicais” dentro da cúpula das Forças Armadas. “Ele defendia que os comandantes deveriam tomar uma atitude mais firme, como assinar um documento, um decreto, algo que poderia partir das Forças ou do presidente.”

O advogado tentou ainda perguntar se Fernandes exercia influência dentro do Exército. O ministro Alexandre de Moraes barrou a pergunta e respondeu de forma categórica:

“Nem o senhor, nem eu somos militares. Não será um tenente-coronel quem vai dizer a importância de um general em relação a outro general.”

Aline Pessanha é jornalista, com Pós-graduação em Marketing e Comunicação Integrada pela FACHA - RJ. Possui passagem pelo Grupo Bandeirantes de Comunicação, como repórter de TV e de rádio, além de ter sido repórter na Inter TV, afiliada da Rede Globo.