Ouvindo...

Médicos denunciam cancelamento de cirurgias com fechamento do Hospital Maria Amélia Lins

Com o fechamento do centro cirúrgico, pacientes da unidade foram transferidos para atendimento no Hospital de Pronto Socorro João XXIII

Centro cirúrgico do Hospital Maria Amélia Lins foi fechado por determinação do governo de Minas

Médicos que trabalham no Hospital de Pronto Socorro João XXIII (HPS) e no Hospital Maria Amélia Lins (HMAL), ambos em Belo Horizonte, relatam à Itatiaia desmarcações de cirurgias, pacientes aguardando há meses com ossos quebrados e queda na qualidade do atendimento e acompanhamento de pacientes ortopédicos.

Como a Itatiaia já denunciou, pacientes têm relatado superlotação no João XXIII, referência no atendimento a traumas em Minas Gerais. Com o fechamento do centro cirúrgico do Maria Amélia Lins, que aconteceu após determinação do governo do estado, através da Fundação Hospitalar de Minas Gerais (Fhemig), pacientes que antes eram atendidos na unidade de saúde, para realização de cirurgias eletivas, foram transferidos para atendimento no João XXIII.

Porém, médicos que atuavam no Maria Amélia Lins e que agora estão no João XXIII explicaram à reportagem que marcações de cirurgias estão “desaparecendo” da agenda, pois a preferência de atendimento do HPS são situações de urgência e emergência.

Um dos profissionais que conversou com a reportagem, e que pediu para não ser identificado, conta que um dos seus pacientes espera há quatro meses por uma cirurgia complexa no braço, após sofrer uma queda de cavalo.

O ortopedista relata que o paciente enfrenta remarcações desde janeiro, ou seja, logo após o fechamento temporário do bloco cirúrgico do Maria Amélia Lins, onde ele seria atendido e já era acompanhado. Desde então, foram cinco cancelamentos que, segundo o médico, teriam sido injustificados.

“Desde que o bloco cirúrgico do Amélia foi fechado, eu acredito que não tenha tido nem um dia que não tenha havido algum cancelamento, principalmente de casos eletivos, pois a prioridade do João XXIII são as urgências. Tenho um paciente com remarcações desde janeiro. Ele já fez tratamento previamente, mas sofreu um novo acidente no mesmo braço. Está aguardando desde janeiro, foi cancelado cinco vezes. Todo dia esse tipo de caso vem acontecendo. Já nem está mais imobilizado, pois, mesmo fraturado, ele precisou voltar a trabalhar. As situações são tão absurdas que parecem mentira”, finalizou o médico.

Ainda segundo ele, quando há alguma desmarcação ou cancelamento, os pacientes acabam descobrindo apenas ao chegarem no hospital no dia da cirurgia. Os médicos também estariam ficando desinformados.

“Existem casos eletivos que são agendados durante as consultas. Esses casos ficam agendados em uma agenda. Caso existam muitas urgências, e sempre há, eles simplesmente não aparecem na escala no dia agendado. Portanto, não impactam nos indicadores. Nem os pacientes, nem os médicos são avisados da desmarcação. Os pacientes comparecem e ficam sabendo que o procedimento foi cancelado, mas os nomes nem constam na escala do dia”.

Ele conclui o relato explicando que os atendimentos complexos de ortopedia, que eram feitos no Hospital Maria Amélia Lins, passaram a acontecer com menos espaço e menos profissionais no Hospital João XXIII.

“O Maria Amélia Lins tratava casos agudos, mas também as sequelas e os tratamentos complementares. Não há espaço nem equipe no João XXIII para isso, assim como o Maria Amélia Lins não tem espaço para atendimento primário. Sem contar que o Maria Amélia Lins servia como referência para os casos complexos da ortopedia de toda rede Fhemig. Nem os hospitais do interior estão conseguindo manter o fluxo normal para o Maria Amélia Lins.”

Fechamento do Centro Cirúrgico do Hospital Maria Amélia Lins

O bloco cirúrgico do Hospital Maria Amélia Lins foi fechado pelo governo do estado no final do ano passado, sob justificativa de reformas. Na ocasião, sindicatos e trabalhadores do local denunciavam que o espaço vinha passando por um processo de ‘desmonte’, com interrupção do funcionamento de alguns setores, como enfermaria, por exemplo.

Enquanto as operações do hospital foram passadas para o João XXIII, a Fhemig publicou que o Consórcio Instituição de Cooperação Intermunicipal do Médio Paraopeba (Icismep), formado por municípios da Região Metropolitana de Belo Horizonte, iria gerir o hospital através de uma concessão.

Na Justiça, diversas tentativas de reverter a decisão da Fhemig aconteceram. Porém, o espaço segue não funcionando e os profissionais do Maria Amélia Lins atuam no João XXIII, atendendo casos de urgência e casos eletivos.

Sobre as reclamações nesta reportagem, procuramos a Secretaria Estadual de Saúde e a Fhemig, responsável pelos dois hospitais e pelas cirurgias eletivas, e ainda aguardamos retorno.

O que diz a Fhemig sobre o caso

Por meio de nota, a Fhemig informou que o João XXIII "é capaz de absorver as cirurgias anteriormente realizadas no Hospital Maria Amélia Lins (HMAL) e ainda aumentar o número de procedimentos ao longo deste ano”.

Ainda de acordo com o comunicado, o novo projeto do Maria Amélia Lins tem como objetivo “oferecer 500 procedimentos a mais todos os meses para BH e região, reduzindo assim a fila de espera”.

Leia a nota da Fhemig na íntegra

A Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig) esclarece que o Hospital João XXIII (HJXXIII) possui ao todo 10 salas cirúrgicas (sendo duas para tratamento intensivo de queimados), mais de 100 leitos de terapia intensiva, com vocação consolidada como um dos maiores hospitais de trauma do país. É o maior hospital da rede Fhemig em número de leitos, especialidades ofertadas, profissionais e atendimentos, somando mais de 12 mil internações e cerca de 9.800 procedimentos cirúrgicos no ano de 2024.

Os dados mostram que o Hospital João XXIII é capaz de absorver as cirurgias anteriormente realizadas no Hospital Maria Amélia Lins (HMAL) e ainda aumentar o número de procedimentos ao longo deste ano.

O projeto do novo HMAL tem por objetivo transformar o prédio do hospital em uma unidade totalmente voltada para a realização de cirurgias eletivas de toda rede SUS, e não mais apenas de pacientes egressos do João XXIII. O objetivo é oferecer 500 procedimentos a mais todos os meses para BH e região, reduzindo assim a fila de espera.

Leia também

Jornalista graduado pela PUC Minas; atua como apresentador, repórter e produtor na Rádio Itatiaia em Belo Horizonte desde 2019; repórter setorista da Câmara Municipal de Belo Horizonte.