A delação de Mauro Cid, tornada pública pelo ministro Alexandre de Moraes nesta quarta-feira (19), além de abordar a suposta trama golpista do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e seu entorno mais próximo, trata também sobre o caso da venda das joias da Arábia Saudita nos Estados Unidos.
De acordo com o depoimento de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, o ex-presidente determinou a venda dos presentes de alto valor patrimonial recebidos durante uma visita na Arábia Saudita.
Bolsonaro teria recebido quatro entregas de dinheiro totalizando U$ 78 mil, conforme Cid:
- 18 mil dólares entregues por Cid a Bolsonaro, entre 13 e 15 de junho de 2022, após a venda de joias na Seybold Jewerly Building, em Miami;
- 30 mil dólares: entregues por Mauro Cesar Lourena Cid a Mauro Cid em nome de Bolsonaro, em Nova York;
- 10 mil dólares: entregues por Lourena Cid a Mauro Cid, para Bolsonaro, durante evento da Apex em Brasília em setembro de 2022;
- 20 mil dólares: entregues em mãos por Lourena Cid ao assessor Osmar Crivellatti, que acompanhava Jair Bolsonaro, em Miami, no fim de fevereiro de 2023
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Leia o trecho:
“Indagado sobre os elementos que têm conhecimento em relação aos referidos fatos investigados, respondeu que basicamente o recebimento de presente pelo então Presidente da República passava pela Ajudância de Ordens; que a missão de receber os presentes era da Ajudância de Ordens, conforme Decreto; que em seguida, direcionava os presentes ao Gabinete Adjunto de Documentação histórica - (GADH), para análise e definição de destinação ao acervo público ou privado; que o chefe do GADH era o comandante Marcelo; que o presidente Jair Bolsonaro recebeu um kit de joias em ouro branco e relógio ROLEX quando da viagem oficial em 2019 a Arábia Saudita; que o kit foi encaminhado ao GADH, para ser analisado e definido sua destinação se o presente iria para o acervo público ou privado; que o GADH definiu que as joias recebidas de presente deveriam ser encaminhadas ao acervo privado do ex-presidente; que a maioria dos presente foi destinada ao acervo privado do Presidente; que no final do ano de 2021, o ex-presidente Jair apresentou ao colaborador (Mauro Cid) o relógio PATEK PHILIPPE solicitando que realizasse uma pesquisa de preço; que o relógio PATEK PHILIPPE foi um presente recebido pelo ex-presidente de autoridades estrangeiras em viagem ao Oriente Médio”, diz a peça da Polícia Federal.
Ainda de acordo com o relato de Cid aos investigadores, ele entregou US$ 18 mil em dinheiro para Bolsonaro, depois de vender as joias em Miami, nos Estados Unidos, “descontando apenas os custos com passagem aérea e aluguel de veículo”.
Cid afirmou também que seu pai, Mauro Cesar Lourena Cid, também entregou valores em espécie ao ex-presidente Bolsonaro.
O inquérito que trata da venda das jóias da Arábia Saudita não faz parte da denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) na noite de terça-feira (18). O chefe da PGR, Paulo Gonet, decidiu dividir as investigações envolvendo o ex-presidente Bolsonaro em três partes: o plano golpista, a venda de jóias e a vacinação ilegal.
O Supremo Tribunal Federal (STF) vai analisar a partir de agora a denúncia envolvendo o caso de um suposto plano golpista que teria Bolsonaro como um de seus articuladores. Já os casos das jóias e da vacinação ainda devem ser alvo de novas denúncias da PGR.