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30 anos após ser eleito governador, Eduardo Azeredo avalia momento do PSDB e fala de aprendizados na prisão

Ex-governador de Minas e prefeito de BH ressalta importância histórica do PSDB, partido que ajudou a fundar, e cita aprendizado no período em que ficou preso

Eduardo Azeredo diz que enfraquecimento o PSDB é motivo de tristeza

Ex-governador de Minas Gerais, prefeito de Belo Horizonte, senador e deputado, Eduardo Azeredo reconheceu, em entrevista à Itatiaia, que o PSDB não tem a mesma força de antes e que a política vive tempos difíceis em razão da polarização.

Nesta sexta-feira (15), a eleição dele para o cargo de governador completa 30 anos, período no qual Azeredo, atualmente com 76 anos, viveu extremos, incluindo a condenação por envolvimento no chamado ‘mensalão mineiro’. Ele ficou um ano e seis meses preso no batalhão do Corpo de Bombeiros do bairro Funcionários, lado Centro-Sul da capital.

Fundador do PSDB em Minas, Eduardo reconhece que a sigla perdeu muito espaço, mas ressalta que continua firme no partido.

“Não deixa de ser (motivo de tristeza), porque o PSDB nasceu com uma ideia muito boa, de um partido realmente que tem preocupações sociais e, ao mesmo tempo, é um partido que está no mundo moderno. E aí nós perdemos espaço, sim. O PSDB perdeu muito espaço, mas eu continuo do PSDB, como seu fundador. Continuo acreditando que é melhor ter um partido orgânico, um partido com história, do que alguns partidos que a gente nem sabe o nome”, destaca.

‘Justiça reconheceu erro’

Sobre o período preso, Azeredo avalia que aprendeu a não confiar muito nas pessoas. “Aprendi a ser um pouco mais desconfiado. Eu acho que um dos erros, que talvez tenha cometido, foi realmente confiar muito nas pessoas. Mas veja bem: aquilo me mostrou também como que é perigoso você ter decisões da Justiça que são perenes, porque acabou que a Justiça reconheceu que processo estava errado, estava anulado. Hoje, passados cinco anos, estou livre e vou a qualquer lugar que eu queira e sou muito bem recebido, graças a Deus”, diz Azeredo, que faz referência ao papel importante da família durante o período.

“Não aguenta (ficar preso sem o apoio da família). É muito difícil. Só de você saber que não posso passar dali, naquele lugar, já é muito duro. E você fica numa situação anormal e, é claro, que sempre todo mundo vai sempre dizer que não teve culpa, mas no meu caso era a coisa política mesmo. Claramente política, como todos os outros reconhecem”.

De técnico a governador

Apesar dos percalços, Azeredo se orgulha da trajetória política. Ele foi de técnico da área de informática a governador. “Acho que valeu a pena. Qualquer homem público tem como um grande sonho poder governar a sua cidade e o seu estado. E ter sido governador de Minas Gerais, na história são 47 pessoas que já governaram Minas, é (marcante)”, diz o tucano, que cita a greve da Polícia Militar (PM) de 1997 como um dos momentos mais difíceis da sua gestão.

O ex-governador lembra do dingle da campanha de 1994, que dizia ‘para colocar o x no lugar, Eduardo Azeredo pra governador’. Na época, a votação ocorria em cédulas de papel. “Até hoje encontro pessoas que brincam comigo. Nos cursos de publicidade, eles citam como um dos dingles, que pegou mesmo”, lembra.

Apesar das boas lembranças, Eduardo garante que não pensa em voltar a disputar uma eleição. “Eu gosto de política, não há como negar isso, e faço política. Mas voltar, não. Já estou com meus 76 anos, já fui governador, senador, prefeito, deputado. Acho que já participei bastante, mas quero continuar ainda dando retaguarda, que seja”, disse.

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Polarização e internet

Para Azeredo, a polarização entre esquerda e direita que toma conta do Brasil atualmente prejudica o debate político. “Isso piorou muito. A gente conseguia, no tempo passado, uma boa relação, uma boa conversa. Assuntos que, às vezes, eram mais difíceis eram discutidos com mais calma. Hoje é um festival de irresponsabilidade, eu diria”, analisa o ex-governador, que também cita ‘dois lados’ da internet.

“Ela (internet) ajuda, mas precisa de mais regras. Na época que era senador, defendi a questão que chamava crimes cibernéticos. O povo nem sabia o que era isso. Lembro de senadores, colegas meus, me perguntando o que era isso. Realmente, junto com o lado bom, das informações, a gente consegue qualquer informação, mas veio o lado ruim. E aí as pessoas põe o que quer. E isso é muito complicado”.


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Jornalista formado pela Newton Paiva. É repórter da rádio Itatiaia desde 2013, com atuação em todas editorias. Atualmente, está na editoria de cidades.