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Moraes derruba sigilo de depoimentos em inquérito por suposta tentativa de golpe de Estado

São oitivas de militares e de civis, incluindo o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL)

O ministro Alexandre de Moraes, do STF

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), derrubou nesta sexta-feira (15) o sigilo dos depoimentos de pessoas suspeitas de articular um golpe de Estado para manter Jair Bolsonaro (PL) na presidência da República. Vinte e sete depoimentos foram tornados públicos após a decisão do ministro; são declarações de militares e civis que teriam participação na suposta articulação golpista.

Todos eles estavam entre os alvos da operação Tempus Veritatis, da Polícia Federal (PF), em fevereiro. A ação mirou Bolsonaro e importantes aliados do político — entre eles Walter Braga Netto e Valdemar Costa Neto. A investigação reúne indícios de que o grupo se propôs a invalidar o resultado das eleições antes mesmo da vitória do atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Eles se dividiam em grupos para atacar o sistema eleitoral, incentivar atos extremistas e violentos e impedir a saída de Bolsonaro do Palácio do Planalto.

  1. Carlos de Almeida Baptista Junior, tenente-brigadeiro do Ar e comandante da Força Aérea Brasileira (FAB) no Governo Bolsonaro;
  2. Marco Antonio Freire Gomes, general e comandante do Exército Brasileiro entre março e dezembro de 2022;
  3. Ailton Gonçalves Moraes Barros, capitão reformado do Exército;
  4. Almir Garnier Santos, almirante e comandante da Marinha brasileira entre 2021 e 2022;
  5. Amauri Feres Saad, advogado apontado como autor da minuta do golpe entregue a Jair Bolsonaro;
  6. Anderson Gustavo Torres, ministro da Justiça de Jair Bolsonaro, delegado da Polícia Federal e ex-secretário de Segurança Pública do DF;
  7. Angelo Martins Denicoli, major da reserva do Exército alvo de operação da Polícia Federal sobre a tentativa de golpe; demitido da Prodesp, em São Paulo, após vazamento do escândalo;
  8. Augusto Heleno Ribeiro Pereira, general da reserva do Exército Brasileiro e ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) de Bolsonaro;
  9. Bernardo Romão Correa Netto, coronel dos Kids Pretos do Exército, também preso na operação sobre a tentativa de golpe de Estado;
  10. Walter Souza Braga Netto, tenente-brigadeiro do ar, comandou a Força Aérea Brasileira, filiado ao Partido Liberal, foi ministro-chefe da Casa Civil e ministro da Defesa durante o Governo Bolsonaro; concorreu à vice-presidência na chapa de Bolsonaro derrotada em 2022;
  11. Cleverson Ney Magalhães, comandante e oficial do Comando de Operações Terrestres dante o Governo Bolsonaro; investigado por participação na trama do golpe de Estado;
  12. Eder Lindsay Magalhães Balbino, dono de empresa de tecnologia da informação sediada em Uberlândia que teria apoiado o PL na elaboração de um estudo que contestava a segurança das urnas após o segundo turno; apelidado de ‘gênio de Uberlândia';
  13. Estevam Cals Teophilo Gaspar de Oliveira, general e chefe do Comando de Operações Terrestres durante o governo Jair Bolsonaro; teria preparado plano para cumprir ordens após decreto golpista com intervenção no TSE e prisão de ministros;
  14. Filipe Garcia Martins Pereira, assessor especial para assuntos internacionais da Presidência da República no Governo Bolsonaro;
  15. Guilherme Marques de Almeida, tenente-coronel do Exército e líder do Batalhão de Operações Psicológicas do Exército, em Goiânia;
  16. Helio Ferreira Lima, tenente-coronel e comandante da 3ª Companhia de Forças Especiais, em Manaus, exonerado após operação da Polícia Federal | Companhia é considerada a unidade de elite do Exército Brasileiro na Amazônia;
  17. Jair Messias Bolsonaro, ex-presidente da República;
  18. José Eduardo de Oliveira e Silva, pároco que teria participado de reunião para tratar de plano golpista, segundo a Polícia Federal;
  19. Laércio Vergílio: coronel reformado do Exército Brasileiro, também alvo da operação da Polícia Federal;
  20. Marcelo Costa Câmara, coronel da reserva do Exército e assessor especial de Jair Bolsonaro durante a presidência; está preso preventivamente desde a operação da Polícia Federal;
  21. Mario Fernandes, ex-ministro substituto da Secretaria-Geral da Presidência;
  22. Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, ministro da Defesa de Jair Bolsonaro;
  23. Rafael Martins de Oliveira, tenente-coronel do Exército e integrante das Forças Especiais, grupo de elite do Exército no Brasil; também alvo da operação da Polícia Federal;
  24. Ronald Ferreira de Araújo Júnior, tenente-coronel do Exército suspeito de atuar na elaboração da minuta do golpe;
  25. Sérgio Ricardo Cavaliere de Medeiros, tenente-coronel do Exército; também alvo da operação da Polícia Federal por disseminação de informações falsas e ataques ao sistema eleitoral; segundo a PF, integrava o ‘Núcleo de desinformação e ataques ao sistema eleitoral’ do grupo golpista;
  26. Tércio Arnaud Tomaz, assessor especial de Jair Bolsonaro, administrou as redes do político durante a eleição de 2018 e atuou no gabinete do vereador Carlos Bolsonaro, no Rio de Janeiro;
  27. Waldemar Costa Neto, presidente do Partido Liberal (PL);
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Conteúdos liberados (até o momento):
Ex-comandante diz que se Exército desse anuência para minuta, Bolsonaro ‘tentaria um golpe de Estado’
O ex-comandante da Aeronáutica Carlos de Almeida Baptista Júnior afirmou que caso o comando do Exército tivesse apoiado a minuta de golpe em conversa com Jair Bolsonaro (PL), o ex-presidente poderia ter tentado um golpe de Estado no final de 2022.

“Indagado se confirma que o então comandante do Exército, general Freires Gomes, não anuiu com a proposta de golpe de Estado, respondeu que sim. Indagado se o posicionamento de general foi determinante para que uma minuta do decreto que viabilizasse um golpe de estado não fosse adiante respondeu que sim; que, caso o comandante tivesse anuído, possivelmente a tentativa de golpe de Estado teria se consumado”, diz o ex-comandante em depoimento à PF.

Ex-comandante do Exército diz que ameaçou prender Bolsonaro se ele insistisse em plano de golpe
Freire Gomes ameaçou dar voz de prisão a Bolsonaro quando ele mencionou a possibilidade de dar um golpe de Estado para se manter no poder após ser derrotado nas urnas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A cena teria sido presenciada em uma reunião no Palácio da Alvorada pelo ex-comandante da Força Aérea Brasileira (FAB) tenente-brigadeiro Carlos Baptista Junior.

Marinha pôs tropa à disposição de Bolsonaro em plano de golpe de Estado
Baptista Junior disse ainda que o almirante Almir Garnier Santos, ex-comandante da Marinha, colocou suas tropas à disposição de Bolsonaro no planejamento de golpe de Estado em 2022 para manter o ex-presidente no poder. Tal posicionamento da Marinha, segundo Baptista Junior, foi dissonante das demais forças. De acordo com o tenente-brigadeiro, tanto ele quanto o general Freire Gomes tentavam convencer Bolsonaro a não usar os institutos (GLO, Estado de Defesa ou Estado de Sítio).

Almirante ficou em silêncio em depoimento sobre suposta tentativa de golpe de Estado
O almirante Almir Garnier Santos não quis responder às perguntas da Polícia Federal (PF) durante depoimento prestado no mês passado. O comandante da Marinha durante o Governo Bolsonaro (PL) optou por permanecer em silêncio, segundo consta no termo de declaração assinado por ele e liberado por despacho de Moraes.

Carla Zambelli cobrou apoio da Aeronáutica a um golpe de Estado
Baptista Júnior citou também uma “pressão” da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) para que os militares “não deixassem o então presidente Jair Bolsonaro na mão” no fim de 2022. No depoimento, o militar disse ter entendido que a fala de Zambelli foi uma tentativa de conseguir apoio para um golpe de Estado.

É jornalista formado pela Universidade de Brasília (UnB). Cearense criado na capital federal, tem passagens pelo Poder360, Metrópoles e O Globo. Em São Paulo, foi trainee de O Estado de S. Paulo, produtor do Jornal da Record, da TV Record, e repórter da Consultor Jurídico. Está na Itatiaia desde novembro de 2023.
Repórter de política em Brasília. Na Itatiaia desde 2021, foi chefe de reportagem do portal e produziu série especial sobre alimentação escolar financiada pela Jeduca. Antes, repórter de Cidades em O Tempo. Formada em jornalismo pela Universidade Federal de Minas Gerais.