Um mês depois de o presidente da Câmara Municipal de Belo Horizonte,
No dia 3 de setembro, o presidente da Câmara apresentou quatro boletins de ocorrência que foram registrados por ele e vereadores aliados denunciando ameaças como forma de pressionar os vereadores a votar a favor da cassação de Azevedo.
Na oportunidade, Gabriel enviou um ofício ao vice-governador Mateus Simões (Novo) e à ouvidora-geral do Estado, Simone Deoud, acusando o secretário de Estado de Casa Civil, Marcelo Aro (PP), e pedindo escolta policial para os 14 vereadores.
Um mês depois, questionada por nossa reportagem, a Presidência da Câmara voltou a afirmar que 14 vereadores sofreram algum tipo de ameaça:
Gabriel Azevedo
Gilson Guimarães (Rede)
Loíde Gonçalves (Podemos)
Cleiton Xavier (PMN)
Fernanda Altoé (Novo)
Marcela Trópia (Novo)
Ciro Pereira (PTB)
Bráulio Lara (Novo)
Irlan Melo (Patriota)
Henrique Braga (PSDB)
Jorge Santos (Republicanos)
Ramon Bibiano (PSD)
Sérgio Fernando (PL)
Fernando Luiz (PSD)
Destes, apenas quatro registram boletim de ocorrência: Gabriel Azevedo, Gilson Guimarães, Loíde Gonçalves e Cleiton Xavier.
Do grupo de 10 vereadores que não registraram boletim de ocorrência, cinco disseram assertivamente que não receberam ameaça de nenhum teor ou que não justificava o pedido de escolta policial. O restante disse que recebeu ameaças que classificaram como " políticas eleitorais” e outros não quiseram dar detalhes sobre o assunto.
Ameaças
No dia 1º de setembro, em uma sessão plenária da Câmara Municipal em que a denúncia contra si não foi votada pelos vereadores, Gabriel Azevedo disse que ele e seus colegas registrariam boletins de ocorrência por ameaça. “Inclusive, de vida”, afirmou o presidente da CMBH.
Confira o que ele disse na ocasião:
Quatro vereadores relataram ameaças à PM
Nos documentos registrados junto à polícia e aos quais a Itatiaia teve acesso, os quatro parlamentares alegam que sofreram pressões políticas, coação e intimidação por parte de integrantes da chamada “família Aro”, grupo político encabeçado por Marcelo Aro.
Dos quatro, apenas dois quiseram gravar entrevista sobre o assunto. Pouco mais de 30 dias após dar uma coletiva falando das ameaças no plenário da Câmara, em entrevista à Itatiaia, Azevedo adotou um tom mais discreto e evitou dar detalhes sobre o caso.
“Eu tenho em contato, neste momento, um diálogo com a Polícia Militar e o governo estadual. Quero agradecer muito o vice-governador Mateus Simões por todo o apoio. E todas as orientações quanto a isso estão sendo seguidas. A gente não quer se manifestar a respeito publicamente. Infelizmente, estamos em um Brasil em que as pessoas acham que a política não é o caminho, que o diálogo não é o caminho e tentam agir pela força, pela intimidação e pela ameaça. E isso, ainda bem, encontra amparo e respaldo nas instituições de Estado e quero agradecer muito pessoalmente, à Polícia Militar do Estado de Minas Gerais”, declarou.
O vereador Gilson Guimarães (Rede) adotou uma postura semelhante à do Presidente da Casa e também não quis falar que tipo de ameaça teria sofrido.
“Nós fizemos um registro porque a gente sentiu que teve uma ameaça e a continuidade desse processo eu estou resolvendo junto aos meus advogados”, resumiu.
Questionado se chegou a ser ameaçado de morte, o parlamentar disse o seguinte:
“No processo que nós ficamos em uma transição que a gente fez para apoiar o presidente da Casa, podemos dizer que quase foi isso mesmo. Pela provocação, a insistência, a gente ficou um pouco inibido”, afirmou ao negar se responder se está com escolta policial.
Gilson registrou um boletim de ocorrência alegando que foi ameaçado. No documento ao qual a Itatiaia teve acesso, Gilson alega que o vereador Wesley Moreira (PP), que faz parte da chamada “Família Aro”, o chamou para ir no “cafezinho” da Casa e disse pra ele que “a vida política dele poderia ser muito prejudicada, caso ele votasse contra a abertura do pedido de cassação do vereador Gabriel Azevedo.
Entre as ameaças, Gilson diz que ouviu do vereador Wesley que a “Família Aro”, com forte influência na Prefeitura de Belo Horizonte, poderia deixar de realizar melhorias no Aglomerado da Serra, base eleitoral de Gilson. O vereador alegou que, no sábado, dia 2 de setembro, ouviu movimentações estranhas no entorno de sua casa e pessoas passaram a procurá-lo. No entanto, o grupo político ligado a Wesley Moreira classificou os relatos como “fofocas de corredor”.
Nos bastidores, fontes da Itatiaia, inclusive alguns vereadores, confirmam que o vereador Gilson deixou a casa onde morava no Aglomerado da Serra e se mudou para um outro imóvel. No entanto, o vereador não comentou na entrevista se isso tem relação com algum tipo de ameaça ou se foram motivos pessoais que o levaram a tomar esta decisão.
A vereadora Loíde Gonçalves (Podemos), que não quis gravar entrevista para falar sobre o assunto, registrou boletim de ocorrência alegando “coação” por parte de Wellington Aguilar, chefe de gabinete da vereadora Professora Marli (PP), mãe de Marcelo Aro. Segundo relata no documento, ele teria levado a ela um comunicado do seu partido determinando que ela deveria votar a favor da abertura do processo de cassação do mandato do vereador Gabriel Azevedo, sob pena de incorrer em ato de infidelidade partidária, caso ela não cumprisse a ordem. A vereadora alega que passou a ser procurada pelo assessor em dependências da Câmara em dias posteriores, o que fez com que ela se sentisse vigiada e ameaçada.
O vereador Cleiton Xavier também registrou boletim de ocorrência alegando que foi ameaçado de ter um processo de cassação aberto contra ele. No boletim, Xavier alega que ouviu do vereador Wesley Moreira (PP) a frase: “esse será o próximo a ser cassado”. Segundo ele, após a suposta ameaça, passou a circular na Câmara a informação de que o chefe de gabinete da vereadora Professora Marli teria um processo por quebra de decoro pronto para ser apresentado contra ele. Xavier alegou que se sentiu “coagido e ameaçado com tudo que ouviu na reunião”, diz trecho do boletim de ocorrência.
Entre vereadores que não registraram boletim de ocorrências, para justificar a decisão, os parlamentares disseram para Itatiaia que foram alvos de “ameaças políticas eleitorais”. É o caso, por exemplo, do vereador Ciro Pereira.
“Eu não registrei Boletim de Ocorrência porque essas ameaças que eu, particularmente, senti foram ameaças políticas e não físicas ou contra a minha pessoa ou a minha família. Foram conversas mais no sentido de intimidar, sabe? Então, não há necessidade, no momento, de escolta da Polícia Militar porque, acredito eu, que minha integridade e dos meus familiares está resguardada”, diz.
Nenhum dos vereadores ouvidos quiseram confirmar se estão sob escolta policial.
Confira o que cada um deles disse à Itatiaia
1 - Vereadora Fernanda Altoé (Novo) - A vereadora disse que não teria como gravar entrevista sobre o tema, pois ela “não sofreu nenhum tipo de ameaça”. A vereadora chegou a estranhar a informação de que teria sido ameaçada por apoiar o Presidente da Câmara. “De onde saiu essa informação?”, questionou a parlamentar em contato com nossa reportagem.
2 - Vereadora Marcela Trópia Trópia (Novo) - A vereadora, que não quis gravar entrevista, afirmou que não registrou boletim de ocorrência. Trópia disse que não recebeu ameaças de morte. Sem dar detalhes, a parlamentar disse que recebeu “ameaças político-eleitorais” e confirmou que não está sob escolta policial.
3 - Vereador Ciro Pereira (PTB) - O vereador concedeu entrevista à Itatiaia. Ciro não registrou boletim de ocorrência. Em um tom semelhante ao da vereadora Marcela Trópia, o vereador disse que não recebeu nenhuma ameaça de morte e classificou o que recebeu como “ameaças políticas”. Segundo ele, as conversas foram no “sentido de intimidar” e “nada contra ele ou contra a família”. O vereador afirmou que ele e a família se sentem seguros. “Não há necessidade de escolta da Polícia Militar”, ressaltou.
4 - Vereador Bráulio Lara (Novo) - O vereador, que não quis gravar entrevista, afirmou que não registrou boletim de ocorrência. Questionamento se havia sido ameaçado, o vereador limitou-se a dizer que “o problema envolve a inteligência da polícia militar e não pode ter detalhes divulgados”.
5 - Vereador Irlan Melo (Patriota) - Questionado sobre o assunto, o vereador enviou a mesma resposta do vereador Bráulio Lara: “Esse diálogo envolve a inteligência da polícia militar e não pode ter detalhes divulgados”, disse o político. O vereador informou ainda que foi “orientado a dizer somente isso”. A nossa reportagem questionou de onde partiu a orientação e o parlamentar informou que da “própria inteligência da PM”.
6 - Vereador Henrique Braga (PSDB) - Questionado se sofreu algum tipo de ameaça, o vereador disse “eu não tenho conhecimento disso” e a ligação foi interrompida. Na sequência, o parlamentar não atendeu mais aos nossos contatos.
7 - Vereador Jorge Santos Santos (Republicanos) - Em conversa com nossa reportagem, o vereador disse que não registrou boletim de ocorrência, pois não foi ameaçado. O vereador ressaltou que não pediu escolta policial.
8 - Vereador Ramon Bibiano (PSD) - O vereador não atendeu e nem respondeu às nossas tentativas de contato por mais de uma semana. No entanto, a Itatiaia apurou que não há nenhum registro de boletim de ocorrência no sistema da Polícia Militar feito pelo vereador em setembro de 2023, período que os outros parlamentares alegam que foram ameaçados e coagidos.
9 - Vereador Sérgio Fernando (PL) - O vereador não atendeu aos nossos contatos. Buscas realizadas pela Itatiaia no sistema da Polícia Militar apontaram que nenhum boletim de ocorrência foi feito pelo vereador no período em que os pares dele afirmaram que foram ameaçados e coagidos por apoiarem o Presidente Gabriel Azevedo.
10 - Vereador Fernando Luiz (PSD) - O vereador também não atendeu às ligações e nem retornou as mensagens enviadas pela Itatiaia durante mais de uma semana. A Polícia Militar disse para Itatiaia que não há nenhum boletim de ocorrência por ameaça ou coação registrado pelo parlamentar no período em que ocorreram as ameaças contra os vereadores que se posicionaram contra a cassação de Azevedo.
O que dizem Governo de Minas e Polícia Militar
Questionado pela Itatiaia se os vereadores estavam escoltados após o pedido do Presidente Gabriel Azevedo, o vice-governador Mateus Simões (Novo) disse que a decisão cabe ao alto comando da Polícia Militar.
Procurada, a PM, em nota, também não deu detalhes. “Os casos citados estão sendo apurados pelas autoridades de segurança competentes e que qualquer eventual ação da corporação deve aguardar as apurações”, disse a corporação.
A Itatiaia teve acesso a um documento enviado pelo alto comando da Polícia para a Presidência da Câmara. “Esclareço que estão sendo implementadas medidas de policiamento ostensivo geral, com tratativas alinhadas entre o Comandante de Policiamento da Capital e a Câmara Municipal.
O que dizem os citados por Gabriel e aliados
Vereadora Professora Marli
“Desde o começo do processo de cassação do Gabriel, o presidente tem patrocinado na câmara uma verdadeira guerra contra quem tem opinião divergente da dele e isso nada interessa à cidade. Vários pedidos de cassação foram protocolados, exonerações, acusações de assédio moral, manipulação do regimento interno, sessões com verificação de quórum relâmpago e até esses boletins de ocorrência que foram feitos na tentativa de intimidar vereadores. Tudo com objetivo de criar uma cortina de fumaça na mídia para encobrir as acusações que pesam contra ele e desviar o foco.
Essas ações são típicas da velha política, de quem acha que os fins justificam os meios e que vale tudo pelo poder. Eu, como mulher e cristã, não faço e não acredito nesse tipo de política, meu trabalho e minha história são focados em fazer o bem para as pessoas e resolver problemas de Belo Horizonte. Quero uma cidade melhor e é nisso que empreendo todos os meus esforços e tenho certeza que toda minha equipe também.
Um mês depois acho que já está evidente para todo mundo que não passou de cortina de fumaça. É triste que a Câmara esteja passando por isso, gastando dinheiro público para atender aos interesses de uma única pessoa que só quer se manter no poder custe o que custar. Fazer falsa comunicação de crime e mentir em boletim de ocorrência é crime previsto no código penal e todas as medidas judiciais já foram tomadas para que a justiça seja feita”, diz nota enviada para Itatiaia pela vereadora Professora Marli.
Assessor da vereadora Professora Marli, Wellington Aguilar
“Sobre a fala da vereadora Loide de se sentir coagida por mim, ela sabe que isso não é verdade, sempre tivemos uma relação republicana e respeitosa. Coagida e ameaçada ela deveria se sentir por ser aliada do presidente Gabriel que grava as pessoas, que grava inclusive os próprios amigos quem dirá seus aliados”.
“Em relação a fala do vereador Cleiton, Formular um boletim de ocorrência baseado em fofocas de corredor é no mínimo deplorável e o vereador deveria saber que comunicação falsa em boletim de ocorrência é crime. Essa prática de servidor da casa entrar com pedido de cassação contra vereador é bem típico de aliados do próprio vereador Cleiton, então não passa de narrativa vazias, mentirosas e infundadas, cortina de fumaça orquestrada em prol do presidente Gabriel Gravador, complementa Aguillar”, afirmou, em nota, o assessor da vereadora Professora Marli, Wellington Aguilar.
Secretário de Casa Civil, Marcelo Aro
Em entrevista à Itatiaia, o secretário do Governo Zema, Marcelo Aro, disse que que Gabriel procura um ‘antagonista’ para polarizar votação de cassação contra ele.
“O presidente faz uma tentativa de antagonizar comigo, de polarizar essa discussão, mas eu não vou fazer isso, porque o problema não é comigo. Gabriel tem a mania de gravar as pessoas e quando se grava alguém de maneira ilegal é crime. Ele tem essa prática de maneira repetida”, diz Aro.
“Os votos (para abrir o processo de cassação) não vieram apenas da Família Aro, vieram da esquerda, da base governista e também de vereadores independentes. Todos os vereadores que converso estão descontentes com a atuação de Gabriel Azevedo. Então, é a Câmara que vai avaliar se é passível de cassação ou não. Vou observar como cidadão, não vou antagonizar com Gabriel”, concluiu Marcelo Aro.
Posicionamento de Gabriel Azevedo
Procurado pela Itatiaia para comentar as acusações, o presidente da Câmara de BH, Gabriel Azevedo, disse que não comentaria as declarações.