Horas antes da reunião com presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) marcada pelo ministro Fernando Haddad (PT) no Palácio do Planalto, o presidente do Banco Central do Brasil, Roberto Campos Neto, foi à Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados prestar esclarecimentos sobre a política monetária vigente no país. A reunião nesta quarta-feira (27) ocorreu com acirramento das tensões entre aliados do governo Lula e o economista, contrariando o movimento de alívio do mal-estar feito por Campos Neto ao solicitar a reunião com o presidente da República.
A indisposição começou com as indagações do deputado federal Lindbergh Farias (PT-SP), autor do requerimento que convidou o presidente do Banco Central a comparecer à comissão, e se estendeu nas perguntas de Guilherme Boulos (Psol-SP) e Gleisi Hoffmann (PT-SP). Logo no início, Farias questionou se Campos Neto possuía fundos offshores e fechados de investimento. “Vim à comissão para comemorar com vocês o que está acontecendo com o crescimento revisado para cima, o desemprego revisado para baixo com vários dados positivos e menções positivas ao Brasil. Mas, não tenho problema em responder”, começou Campos Neto. “Minhas offshores estão declaradas no sistema do Senado Federal. Tenho há 15 ou 20 anos. Já mostrei todos os certificados que atestam que nunca movimentei. Já está resolvido. Fui, inclusive, a favor de taxar mais o fundo exclusivo de investimento”, declarou.
Erro contábil. O presidente Roberto Campos Neto também foi questionado sobre o erro contábil cometido pelo Banco Central no ano passado, que diz respeito à série histórica do fluxo cambial, ou seja, a quantidade de dólares que entram e saem do país. As inconsistências foram constatadas entre outubro de 2021 e dezembro do ano passado e geraram uma diferença de US$ 14,5 bilhões.
O deputado Guilherme Boulos classificou o erro como ‘pedalada’. “O que o senhor [Campos Neto] chama de erro operacional, eu chamo de pedalada. Foram US$ 14,5 bilhões calculados de maneira equivocada. O erro bilionário do Banco Central afetou 15 meses do fluxo cambial, erro que pegou a eleição entre Lula e seu ex-chefe Jair Bolsonaro”, disse.
Campos Neto rebateu e argumentou que houve revisão técnica do processo após a falha para aprimorar as rotinas operacionais. “Temos vários tipos de erros de análise e erros de interpretação. O Banco Central não é perfeito. Foi um erro da equipe técnica. Quando foi detectado, avaliamos se alguma variável macroeconômica havia sido afetada e aumentado a confiança. Não aconteceu. Revisamos o processo, as rotinas operacionais, estamos usando sistemas mais evoluídos”, afirmou.
O mal-estar se acentuou com a ofensiva da deputada Gleisi Hoffmann, que atacou o posicionamento político do presidente do Banco Central. “As perguntas que o senhor não respondeu nos deixam dúvidas sobre sua autodeclarada autonomia”, disse. “O senhor não assumiu que foi votar de camiseta verde e amarela. Onde é que está a autonomia? O senhor também não respondeu sobre ter disponibilizado um agregador de pesquisa, um modelo matemático para agregador de pesquisa para Bolsonaro. Também não respondeu se participou de grupo de WhatsApp até o início do ano chamado ‘ministros de Bolsonaro’”, disparou a presidente nacional do Partido dos Trabalhadores (PT).
Em resposta, Campos Neto argumentou que conduz o Banco Central com transparência e citou que foi contra, por exemplo, a desoneração dos combustíveis decretada por Jair Bolsonaro (PL) às vésperas do segundo turno da eleição presidencial do ano passado.
Campos Neto elogia política econômica de Haddad
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, elogiou as medidas propostas pelo ministro da Fazenda Fernando Haddad (PT) para equilibrar as contas do governo e acelerar a economia. “Acho que a gente tomou várias decisões corretas”, citou. “Manter a meta fiscal em 3% é uma decisão correta. O arcabouço fiscal é uma decisão correta. Perseguir a meta fiscal é uma decisão correta”, ponderou. “Acho que, de fato, estamos em um bom caminho”, concluiu a avaliação.