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Polícia investiga vereador mineiro por homofobia e rachadinha

Um assessor afastado do gabinete por problemas de saúde acusa o vereador Joaquim Rufino de praticar rachadinha e discriminá-lo por sua sexualidade

Vereador de Lagoa Santa é acusado de rachadinha e homofobia no gabinete

A Polícia Civil de Minas Gerais instaurou um inquérito para investigar o vereador Joaquim Rufino (Republicanos), de Lagoa Santa, na região metropolitana de Belo Horizonte, denunciado por um ex-assessor por homofobia, assédio moral e rachadinha. As denúncias foram feitas pelo assessor parlamentar Nicolas Guimarães Diniz, que registrou boletim de ocorrência contra o político e acionou o Ministério Público.

Na noite dessa terça-feira (1º) a Câmara dos Vereadores aprovou, por unanimidade, a abertura da comissão para iniciar investigação, e a Promotoria de Justiça de Lagoa Santa informou, nesta sexta-feira (4), que instaurou uma Notícia de Fato para realizar a devida apuração.

Atualmente, o assessor parlamentar Nicolas Diniz está afastado por problemas médicos psíquicos, causados, segundo ele, por uma perseguição que sofreu no gabinete do vereador. Ele conta que era discriminado por Joaquim Rufino e seus assessores devido a sua sexualidade, e que sofria com jornadas de trabalho excessivas.

“Eu me sentia muito humilhado, por eu ser o diretor eu tinha uma superioridade hierárquica e os servidores tinham que responder a mim, mas eles se recusavam a cumprir as tarefas devido a minha homossexualidade. Até o próprio vereador me tratava com falta de dignidade. Eles tentavam me exorcizar como se ser gay realmente fosse uma doença, tentavam praticar a ‘cura gay’ dentro do gabinete. Inclusive o vereador também já praticou assédio moral não só comigo, mas com outros servidores”, revela o assessor.

Esquema de rachadinha e funcionários fantasmas

Cerca de uma semana após assumir o cargo de diretor do gabinete, Nicolas Diniz conta que foi chamado pelo vereador Joaquim Rufino, que lhe explicou o sistema de rachadinha. O político revelou ao assessor que recebeu favores de membros da igreja durante a campanha. Em troca, o político deveria empregá-los no gabinete. No entanto, ficaram faltando duas vagas, e por isso os servidores precisariam dividir o salário para poderem pagar os dois membros da igreja restantes.

“Existia um servidor nomeado como chefe gabinete que ganhava o valor de R$3.600, ele ia lá meia hora por dia e nunca cumpria a jornada de trabalho porque tinha outro emprego, mas o vereador mandava pagar integralmente e não cortar o ponto dele. O vereador pagava um salário maior para ele poder fazer esse repasse, ele tinha que ficar sacando valores para poder fazer o repasse para dois apoiadores do vereador, que ele não tinha vaga para colocar no gabinete. Na época, cada um recebia mil reais”, conta Diniz.

Outros servidores também eram coagidos a fazerem repasses e saques, segundo Nicolas Diniz. Ele conta que já fez repasses de R$300 a R$930 para membros da igreja que não haviam sido nomeados no gabinete. Além disso, o assessor ainda alega que já precisou pagar contas pessoais do vereador Joaquim Rufino com o próprio salário. A Itatiaia teve acesso aos comprovantes de pagamentos e saques feitos por Nicolas Diniz.

A situação só teria sido regularizada em 2022, quando o gabinete de Joaquim Rufino recebeu um aumento de verbas e ele conseguiu nomear os outros dois membros da igreja. Ainda assim, Diniz acusa que eles seriam funcionários fantasmas e não frequentavam a Câmara de Vereadores de Lagoa Santa.

Ameaças

Após ter feito a denúncia, Nicolas Diniz alega que tem sofrido ameaças e perseguições. Ele aponta vídeos publicados nas redes sociais por pastores que apoiam o vereador Joaquim Rufino pedindo para “rezarem por sua alma”.

“Pedir para os irmãos uma oração a favor do vereador Joaquim Rufino e os demais que foram citados. Eu quero pedir aos irmãos que evitem comentários e que olhem, porque todos nós estamos sujeitos. Alguém fica insatisfeito com uns uma hora e fala coisas que não procede”, diz um pastor em vídeo publicado nas redes.

Diniz conta, ainda, que já recebeu ligações rápidas contendo ameaças no meio da noite;

“Essas ameaças eu recebi por telefone, através de número suprimido. Foi uma ligação rápida de mais ou menos 5 segundos ou 6 segundos, por volta de 23 horas. Eu fiquei desesperado, fiquei até com medo de ficar no meu apartamento”.

Posicionamento

A reportagem Itatiaia procurou o vereador Joaquim Rufino, mas não recebeu retorno. Este espaço continua aberto para um posicionamento.

A Câmara de Vereadores de Lagoa Santa também foi procurada, mas não respondeu. O Ministério Público afirmou, por meio de nota, que “a Promotoria de Justiça de Lagoa Santa instaurou uma Notícia de Fato para realizar a devida apuração”.

Já a Polícia Civil de Minas Gerais confirmou que “instaurou um inquérito para a apuração dos crimes de ameaça e homofobia, denunciados no município de Lagoa Santa” e que “mais informações poderão ser repassadas com o andamento das investigações”.