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Gabriel Azevedo diz que não se arrepende de chamar vereadores do PDT de ‘lambe-botas’; trabalhistas reagem

Crise aberta nessa quinta-feira (3), durante reunião com secretário de Governo, ganhou novos contornos nesta sexta-feira (4)

Reunião de comissão da Câmara de BH terminou em bate-boca nessa quinta

O presidente da Câmara Municipal de Belo Horizonte (CMBH), Gabriel Azevedo (sem partido), disse, nesta sexta-feira (4), que não se arrepende de ter chamado vereadores do PDT de “lambe-botas” da prefeitura. A crise entre Azevedo e os pedetistas começou após acusações feitas nessa quinta-feira (3), durante uma reunião dos parlamentares com o secretário municipal de Governo, Josué Valadão.

A fala de Gabriel sobre não retirar a acusação feita aos vereadores do PDT veio após o líder do prefeito Fuad Noman (PSD) na Câmara, Bruno Miranda — que é pedetista —, utilizar o microfone durante a sessão plenária desta sexta para pedir respeito ao partido. Ele manifestou “repúdio” e “tristeza” com expressões usadas pelo presidente do Legislativo. Além do termo “lambe-botas”, Azevedo chamou de “resto de ontem” o parlamentar Wagner Ferreira, também filiado ao PDT, e que exerce a vice-liderança do governo na CMBH.

“Nossa bancada foi atacada. Eu fui atacado e chamado de ‘lambe-botas’. Sou ‘lambe-botas’ do meu povo e da minha comunidade. É para eles que tenho de dar satisfação”, afirmou Miranda.

O líder de Fuad ainda defendeu o correligionário Wagner Ferreira. “Wagner, que é negro e periférico, foi chamado de ‘resto de ontem’. Não podemos partir para esse nível. É inadmissível. (Foi) um ataque violento e preconceituoso a um vereador que sempre lhe tratou com respeito, dever de todos nós”, protestou.

Instantes depois, após o discurso de Bruno Miranda, foi a vez de Gabriel Azevedo se pronunciar. Ele chamou os vereadores do PDT de “pelegos” e ironizou a possibilidade de a agremiação apresentar, à Câmara, pedido de abertura de processo disciplinar por quebra de decoro parlamentar.

“Se quer vir aqui protocolar pedido de quebra de decoro, venha já. Não fique de ameaças ou ladrando. Protocole agora. E coloque dois: um para pelego, outro para lambe-botas, porque não retiro”, falou.

Gabriel afirmou, ainda, ter se inspirado em Ciro Gomes, candidato do PDT ao Palácio do Planalto em 2018 e 2022. No telão do plenário, ele mostrou um vídeo do ano passado, em que Ciro chama de “lambe-botas” o hoje senador Sergio Moro (União Brasil-PR).

“Não ofendi o PDT. Falei que vocês são lambe-botas — e que são do PDT. E eu admiro o PDT”, garantiu.

Ao tratar das críticas a Wagner Ferreira, o presidente da Câmara afirmou ter utilizado a expressão “resto de ontem” porque o pedetista teria sido escolhido para ocupar a vice-liderança de Fuad após parlamentares de outros partidos terem recusado o convite.

Nessa quinta-feira, Wagner já havia rebatido o ataque que sofreu. “Você está desrespeitando nossa agremiação. Vossa excelência nem partido tem. Então respeite nossa agremiação. Respeite as pessoas que estão aqui”, cobrou.

‘Troca-troca’ de notas de repúdio

Ao instalar a sessão plenária desta sexta-feira, Gabriel Azevedo leu uma nota da Procuradoria-Geral da Câmara de BH com críticas à Procuradoria-Geral do Município de BH (PGM-BH), que, mais cedo, havia emitido comunicado para repudiar falas do presidente em direção a Fernando Couto, que acompanhava o secretário Josué Valadão na reunião que terminou nas críticas ao PDT.

“É inadmissível a interferência do Poder Executivo no Poder Legislativo. A separação de poderes é um princípio fundamental em muitos sistemas democráticos. Essa separação visa evitar o acúmulo excessivo de poder em um único órgão governamental e garantir um sistema de freios e contrapesos para proteger os direitos dos cidadãos”, lê-se em trecho do texto do Parlamento.

De acordo com a Procuradoria-Geral da Câmara, “não houve o cometimento de nenhum ato ilícito” por parte de Gabriel.

A PGM-BH, por sua vez, disse que Gabriel “atacou a honra e desrespeitou as prerrogativas” de Costa, violando o Estatuto do Advogado.

“O vereador, que sequer presidia a reunião, determinou o desligamento do microfone do advogado e chegou a chamar a segurança para retirá-lo do recinto. Além disso, o Vereador Gabriel Sousa Marques de Azevedo, ao invés de buscar refutar os argumentos do advogado, preferiu realizar ataque à própria advocacia, qualificando o profissional de ‘rábula’ e ‘atrevidinho’, esquecido de que a altivez diante do arbítrio e do abuso de autoridade é qualidade essencial da advocacia, integrante da melhor tradição mineira de Sobral Pinto e tantos outros que iluminam nossa atividade com os exemplos grandiosos do passado”, aponta o órgão.

Ainda segundo a nota da PGM-BH, a conduta de Gabriel nessa quinta-feira apontam para quebra de decoro parlamentar por parte dele. A conclusão foi ironizada pelo presidente.

Informo ao senhor prefeito: não precisa de intermediários, prefeito. Se o senhor quer me retirar dessa cadeira, vem cá e tente”, bradou.

Novo capítulo na crise entre os Poderes

O embate Gabriel-PDT acontece em meio aos crescentes desgastes entre a Prefeitura de BH e o poder Legislativo. Vereadores obstruem, desde o meio de julho, a pauta de votações do plenário da Câmara. O movimento tem impedido a análise de projetos de lei (PLs) considerados importantes para diversos setores sociais, como o texto que libera a Arena MRV, novo estádio do Atlético, e a proposta para a captação de empréstimo junto a um banco internacional para financiar obras de contenção de enchentes em Venda Nova.

Entre os vereadores adeptos da obstrução, o entendimento é que a equipe de Fuad Noman adotou predileção por parlamentares da base governista. Isso, segundo eles, impediria a prefeitura de atender demandas de mandatários oposicionistas ou independentes.

A tese é refutada pela prefeitura. Nesta semana, Fuad Noman garantiu ter a disposição de conversar com parlamentares das mais diferentes correntes.

“Não conheço um vereador que não conversa comigo. Que não foi lá e não foi atendido. Nenhum. Pode ser que a agenda de um e outro não combinem, mas converso com todos. Qualquer vereador que me procurar e pedir uma agenda, tem a agenda aberta”, assegurou.

Graduado em Jornalismo, é repórter de Política na Itatiaia. Antes, foi repórter especial do Estado de Minas e participante do podcast de Política do Portal Uai. Tem passagem, também, pelo Superesportes.