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‘Coisa de maluco’, ‘esculacho’ e ‘golpe fantasioso': o que disse Bolsonaro após depoimento à Polícia Federal

Ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) depôs por 35 minutos na sede da Polícia Federal (PF) em Brasília sobre suposta trama golpista para grampear Alexandre de Moraes

Ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) falou à imprensa após prestar depoimento na sede da Polícia Federal

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) não poupou adjetivos ao tratar das polêmicas que o cercam após prestar depoimento à Polícia Federal (PF), em Brasília, na tarde desta quarta-feira (12), sobre a suposta trama golpista denunciada pelo senador Marcos do Val (Podemos-ES) em entrevista à revista Veja em fevereiro.

O político classificou como ‘coisa de maluco’ a alegação de que ele participaria de plano para grampear o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF) e também afirmou ser ‘um esculacho’ a operação da polícia em sua residência no Jardim Botânico, em Brasília. E, na saída da PF, o ex-presidente também criticou as ações da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8/1 que mira os culpados pelos ataques e invasões às sedes dos Três Poderes em janeiro.

Bolsonaro negou vínculo com Marcos do Val

A investigação da Polícia Federal (PF) sobre a suposta trama golpista à qual estaria atrelado o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) partiu de uma denúncia de Marcos do Val. À época, o parlamentar alegou ter participado de uma reunião na Granja do Torto em 8 de dezembro, na qual Bolsonaro e o então deputado Daniel Silveira (PTB-RJ) teriam avaliado a possibilidade de grampear o ministro Alexandre de Moraes para provar que ele estaria extrapolando os limites da Constituição. O objetivo, segundo do Val, seria suspender o resultado das eleições que deram vitória ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Veja:

Após o depoimento desta quarta-feira, o ex-presidente confirmou a existência da reunião, mas contradisse a versão do senador e indicou que o encontro aconteceu no Palácio da Alvorada. Bolsonaro também negou ter feito qualquer citação ao nome do ministro do STF na ocasião e garantiu ter permanecido em silêncio durante a visita. “Nada foi tratado. Nenhum plano para gravar o ministro Alexandre de Moraes foi discutido naquela reunião que durou, aproximadamente, vinte minutos. Fiquei em silêncio”, declarou.

Fábio Wajngarten, advogado e ex-secretário do governo Jair Bolsonaro, corroborou a declaração do ex-presidente e desmentiu a existência de ‘planos conspiratórios’ contra Alexandre de Moraes. “Repito: foi uma reunião curta no Palácio da Alvorada, e o nome do ministro jamais foi citado. Pode ter ocorrido alguma discussão sobre mudança partidária, mas, não foi discutido nenhum ato preparatório, nenhum plano conspiratório”, atestou.

Apesar da alegação feita por do Val, Bolsonaro garantiu que não irá processá-lo por denúncia caluniosa. “Não direi se ele inventou ou se não inventou. Ele que responda pelos próprios atos”, disparou.

Mensagens no WhatsApp. Wajngarten apresentou à Polícia Federal (PF) uma cópia de uma mensagem no WhatsApp trocada entre o senador Marcos do Val e o ministro Alexandre de Moraes. Na conversa, o parlamentar informa ao ministro que o então deputado Daniel Silveira estaria se preparando para atacá-lo.

“Quem está fazendo toda movimentação com objetivo de levá-lo à perda da função de ministro e até ser preso é o DS [Daniel Silveira]. O PR [presidente da República] não está fazendo nenhum movimento nesse sentido”, diz a mensagem. A captura de tela é usada pela defesa de Bolsonaro para atestar que ele não estaria relacionado ao estratagema.

Depoimentos em série na Polícia Federal e perseguição

O ex-presidente também criticou o volume de ações da Polícia Federal (PF) que o têm como alvo e indicou ser perseguido. A ida à sede da corporação hoje é a quarta desde o início do ano; Jair Bolsonaro depôs aos investigadores sobre os seguintes casos: fraude na carteirinha de vacinação, joias enviadas pela Arábia Saudita e apreendidas no Aeroporto de Guarulhos e os ataques aos Três Poderes em 8 de janeiro; além, é claro, da trama golpista alarmada por Marcos do Val.

“Virão outros depoimentos”, declarou na saída do depoimento desta quarta-feira (12) antes de classificar como ‘esculacho’ o cumprimento de um mandado de busca e apreensão na residência onde mora em Brasília em maio. “Foi um esculacho! Eu não roubei nada! Nunca conspirei contra nada! É esculachar... É gerar constrangimento perante a opinião pública... É desgastar. Se eu não tivesse nenhum capital político, não fariam isso contra mim”, disparou.

Prisão de Mauro Cid e críticas à CPMI do 8/1

Bolsonaro não poupou opiniões sobre a atuação da CPMI que investiga os atos antidemocráticos de 8/1 e a respeito da prisão de seu ex-ajudante de ordens. O tenente-coronel Mauro Cid está detido há 71 dias no âmbito da investigação sobre fraude no cartão de vacinação do ex-presidente e inserção de dados mentirosos no sistema do Ministério da Saúde.

Cid, que prestou depoimento à CPMI nessa terça-feira (11), teria fraudado dados para indicar que o então presidente teria se vacinado contra a Covid-19, o que não aconteceu. “Não tem justificativa para essa prisão preventiva do Cid. É um ato contra o Estado Democrático de Direito. Estão fazendo agora o que acusam os outros de tentar fazer”, disparou.

Ainda em relação às invasões dos prédios públicos após a posse do presidente Lula (PT), Bolsonaro declarou não haver nenhum indício de tentativa de golpe no Brasil. “Não existe terrorismo ou tomada de poder em um domingo. Como tomar o poder com pessoas com bíblias debaixo dos braços? Orando? Rezando? Sem uma arma? Sem um canivete? Essas pessoas queriam dar o golpe?”, atacou em referência aos suspeitos dos ataques que permanecem presos no Distrito Federal.

“Parece que criaram [governistas] a figura do golpe e agora estão tentando construir algo para dar credibilidade ou sustentação para esse hipotético ou fantasioso golpe de 8 de janeiro”, concluiu.

Repórter de política em Brasília. Na Itatiaia desde 2021, foi chefe de reportagem do portal e produziu série especial sobre alimentação escolar financiada pela Jeduca. Antes, repórter de Cidades em O Tempo. Formada em jornalismo pela Universidade Federal de Minas Gerais.