O diretório nacional do partido Patriota expulsou o vereador Sandro Fantinel da legenda, um dia depois de o parlamentar ter
Em discurso na tribuna da Câmara Municipal de Caxias do Sul, a 40 km de Bento Gonçalves, cidade onde os trabalhadores foram resgatados, Fantinel recomendou que agricultores gaúchos não contratassem “aquela gente lá de cima”.
“Agora, com os baianos, que a única cultura que eles tem é viver na praia tocando tambor, era normal que fosse ter esse tipo de problema. Que isso sirva de lição: deixem de lado aquele povo que é acostumado com Carnaval e festa para vocês não se incomodarem novamente”, completou.
Ele também defendeu que trabalhadores baianos fossem preteridos pelas empresas agrícolas gaúchas, que deveriam optar pela mão-de-obra argentina.
“Não contratem mais aquela gente lá de cima. Conversem comigo, vamos criar uma linha e contratar argentinos. Por que todos os agricultores que têm argentinos trabalhando hoje só batem palma. São limpos, trabalhadores, corretos, cumprem o horário, mantém a casa limpa e no dia de irem embora ainda agradecem o patrão pelo serviço prestado e pelo dinheiro que receberam”, disse.
As declarações também motivaram uma investigação por parte do Ministério Público do Trabalho (MPT).
“A fala minimiza, indevidamente, a extrema gravidade da escravidão contemporânea, busca culpabilizar as próprias vítimas pelos ilícitos sofridos, tem conteúdo preconceituoso e, para piorar, estimula a discriminação nas relações de trabalho, em ofensa à Constituição da República, à legislação e a compromissos internacionais assumidos pelo Brasil”, afirmou o procurador do Trabalho e vice-coordenador nacional de erradicação do Trabalho Escravo no MPT, Italvar Medina.
Discurso ofende a dignidade humana
Para o Patriota, as falas de Fantinel desrespeitam a dignidade humana e que ele tratou de forma vil “seres humanos tristemente encontrados em situação degradante”.
A Câmara de Caxias do Sul também se manifestou sobre o episódio, e disse que “não compactua com nenhuma manifestação de preconceito, discriminação, racismo ou xenofobia”. O Legislativo também pediu desculpas ao povo baiano pelas declarações.
O governador do Rio Grande do Sul,
“O discurso xenófobo e nojento de vereador de Caxias contra o nordeste não representa o povo do Rio Grande do Sul. Não admitiremos esse ódio, intolerância e desrespeito na política e na sociedade. Os gaúchos estão de braços abertos para todos, sempre”, escreveu Eduardo Leite.
Trabalhadores resgatados
Contratados por uma empresa terceirizada para prestar serviços para as maiores vinícolas do país, como Aurora, Salton e Garibaldi, os trabalhadores foram resgatados em situação degradante.
De acordo com relatos obtidos pelo Ministério Público do Trabalho (MPT), os funcionários, que vieram em sua maior parte da Bahia, tiveram pagamentos de salário atrasados, foram submetidos a violência física, longas jornadas de trabalho e foram forçados a comer alimentos estragados.
Eles ainda afirmaram que foram ameaçados de pagar multa por rompimento de contrato caso deixassem o local de trabalho. Ao menos uma pessoa foi presa.
Em audiência, o MPT propôs que os trabalhadores recebam R$ 600 mil por danos morais, além de R$ 1 milhão em verbas rescisórias.