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O que é gastronomia molecular? Conheça as técnicas que unem química e física para inovar nos pratos

Técnica da alta gastronomia impressiona clientes com sabor, texturas e visual e mostra que dá sim para “brincar com comida”

Marquise de Chocolate com caviar de morango e espuma de especiarias / Esse é um spaghetti de tomate, com mussarela de búfala e caviar de manjericão / Frango com esfera de pimentão

A gastronomia molecular é uma das áreas da alta gastronomia que usa táticas da química para inovar nos pratos e mostrar que, além do sabor da comida, a técnica e o visual contam muito para uma verdadeira experiência gastronômica.

A Chef e professora de gastronomia, Flávia Leonel, explica que a gastronomia molecular nasceu em meados de 1980, na Europa, a partir de estudos científicos sobre fenômenos culinários realizados por dois estudiosos: Nicholas Kurti e Hervé This.

“Eles entenderam que quando a gente coloca um determinado insumo frente a exposição de elementos, que não são naturais, eles mudariam a estrutura física que a gente conhece”, explica a chef mineira.

Ou seja, a partir de mudanças físicas no alimento, é possível “desconstruir” o ingrediente e assim consumi-lo de diferentes maneiras.

Técnicas

“Por exemplo, eu conheço uma melancia da forma que a melancia é, mas se eu colocar ela em algum processo de transformação juntando algo químico ou até mesmo através de uma intervenção física, de calor ou de congelamento, eu vou poder servir essa melancia de um jeito que eu acabe brincando com os olhos. A pessoa enxerga algo que não é a melancia, rotineira”, exemplifica Leonel.

O que tem dentro de uma cozinha? Fogão, geladeira, forno, liquidificador ou talvez uma batedeira, mas para trabalhar com gastronomia molecular é necessário mais que isso. Há algumas técnicas que precisam de maquinário específico como um termocirculador, por exemplo.

Esse equipamento é responsável por cozinhar os alimentos por meio de uma técnica chamada sous vide. Essa técnica consiste em cozinhar alimentos embalados a vácuo, em baixa temperatura e por um longo período de tempo, assim preserva-se o sabor, a textura e a umidade do ingrediente.

Uma carne, por exemplo, se feita em um termocirculador, é cozida em uma temperatura de aproximadamente 50° e pode levar de 4 a 5 horas para ficar pronta. Segundo a chef Flávia, dessa maneira a carne apresenta uma textura diferente: “ela fica extremamente suculenta no ponto certo, porque as fibras quebram de forma correta e não de uma forma brusca, quando colocada em uma grelha, numa frigideira ou até mesmo numa panela de pressão”.

Outra técnica usada na gastronomia molecular é a esferificação, usada para criar pequenas esferas com película fina, se assemelhando a um caviar. Flávia Leonel usa essa técnica em sua receita de galinhada, ou melhor, uma re-leitura de galinhada, em que ela adiciona pequenas esferas de hortelã no prato para diferenciar o sabor.

“Passei a criar, então, o caviar de hortelã que vem em cima da galinhada para a pessoa na hora que dá a garfada, morder o caviar de hortelã e o líquido sair desse caviar e molhar a boca. Então, ou seja, criar uma outra experiência”, detalha.

Para fazer espuma, usa-se a técnica de aeração, que utiliza-se de um sifão culinário. Uma técnica parecida, porém diferente, é a emulsificação, que também forma uma espuma, porém sem o uso do sifão, mas sim pela incorporação de ar na receita, feita por meio de uma mistura com uma substância chamada lecitina.

O gás nitrogênio é usado na técnica da gelificação, que diferente da membrana fina feita na esferificação, forma um gel mais estável. Para essa produção é necessário também o agar-agar, que é uma espécie de gelatina vegetal, porém ainda mais potente que a gelatina animal.

Confira imagens de alguns pratos feitos pela Chef Flávia Leonel:

Dificuldades

Belo Horizonte já teve cinco restaurantes especializados em gastronomia molecular, porém todos já fecharam. Flávia diz que essa área da gastronomia é muito cara em relação aos insumos, além de haver dificuldade para manter o público, também exige tempo e mão de obra especializada.

Alta gastronomia

Para a professora, a alta gastronomia atualmente não consiste apenas em utilizar ingredientes caros, mas sim em criar uma experiência gastronômica completa, que envolva olfato, visão, paladar e entregue várias texturas em um só prato. “Então a gastronomia molecular ganha força porque ela transforma o comer, algo simples que seria o alimentar, numa experiência dos cinco sentidos [...] a gastronomia molecular traz maior sustentação e visibilidade para a alta gastronomia”, finaliza.

*Estagiária sob supervisão de Marcello Pereira.

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Graduanda em Jornalismo pela PUC Minas. Interessada por redes sociais e editorias de cultura, entretenimento e cidades. Atualmente está na editoria de Redes Sociais.