Os vinhos brancos, com sua vasta gama de aromas e sabores, conduzem os apreciadores em uma viagem sensorial pelo mundo da enologia, ciência dedicada à produção e conservação do vinho. Desde os leves e frutados até os mais encorpados e complexos, os vinhos brancos oferecem uma versatilidade que se encaixa perfeitamente em diversas ocasiões e acompanha uma ampla gama de pratos.
Ao mergulhar nos aromas dos vinhos brancos, somos envolvidos por uma riqueza de notas que variam de frutas cítricas e tropicais a flores brancas e ervas frescas. Variedades como Chardonnay, Sauvignon Blanc, Riesling e Gewürztraminer revelam perfis aromáticos distintos, refletindo as características únicas das uvas e dos terroirs onde são cultivadas.
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Carlos Henrique de Faria Vasconcelos, professor do Curso de Gastronomia da UNA, destaca à Itatiaia a importância do equilíbrio na harmonização, considerando o peso, a acidez, os sabores e até mesmo as origens e elementos culturais envolvidos nos pratos e vinhos. “O objetivo é criar harmonias que complementem a intensidade, textura e gordura dos pratos com os elementos presentes no vinho, garantindo um equilíbrio perfeito”, explica.
Produção e consumo
De acordo com o professor, entre os países que se destacam na produção e consumo de vinho branco, encontramos principalmente países europeus. A França lidera o mercado, seguida pela Alemanha, Itália e Espanha, além dos Estados Unidos. Esses países têm contribuído significativamente para a diversidade e qualidade dos vinhos brancos disponíveis globalmente.
Em relação aos vinhos brancos mais conhecidos e consumidos, Carlos Henrique diz que ‘’o céu é o limite porque temos uma infinidade de vinícolas e de produtores, mas podemos considerar que os mais conhecidos são produzidos com as uvas mais cultivadas no mundo’. Nesse sentido, ele destaca Chardonnay e Sauvignon Blanc, que são uvas amplamente plantadas na Europa, América Latina (Brasil, Chile e Argentina), Estados Unidos, Europa e Austrália. Além da Pinot Grigio, que, apesar de ser uma uva francesa, tem uma popularidade muito grande na Itália, assim como Moscato Branco, lembra o professor.
Em relação aos custos, os vinhos brancos variam conforme a origem, qualidade das uvas e técnicas de produção. Espumantes feitos pelo método tradicional tendem a ser mais caros, enquanto impostos e demanda por produtos influenciam os preços. Sendo assim, o universo dos vinhos brancos têm produtos de entrada a partir de R$ 50 e podem chegar a R$ 1 mil.
Estrutura dos vinhos brancos
A estrutura do vinho branco é influenciada pela acidez, tipo de uva, clima, solo e técnica de produção, além do teor alcoólico e possível presença de açúcar residual, que contribuem para a composição do corpo da bebida.
Segundo Carlos Henrique, a diferença na validade entre o vinho tinto e o vinho branco reside na presença de taninos, predominantes no vinho tinto devido ao contato das cascas da uva durante a fermentação. No entanto, os vinhos brancos dependem principalmente do teor alcoólico e da acidez para sua longevidade.
O professor ainda conta que é possível fazer vinhos brancos com uvas tintas, ‘’porque o processo de produção dos vinhos brancos é feito com o esmagamento das uvas e, depois disso, a gente deve separar o mosto obtido, que é a mistura do suco da uva com a polpa da fruta das cascas da uva. E são as cascas que contém pigmentação’’. Dessa forma, ao realizar o esmagamento de uvas brancas ou de uvas tintas e separá-las das cascas, é obtido um mosto, no qual não estarão contidos os elementos de pigmentação. Ao verificar o mosto, será obtido um vinho de tonalidade branca. ‘’Já o inverso não é possível. Eu não consigo produzir um vinho tinto usando uvas brancas porque essas uvas não trazem a pigmentação’’, explica.
Harmonização
A harmonização por si só já é um princípio de tentar buscar equilíbrio entre dois tipos de alimentos. Segundo Carlos Henrique, ''quando a gente pensa no vinho branco na culinária, a gente vai perceber que pratos leves e frescos vão combinar melhor. Se esse prato trouxer mais intensidade ou até condimentação, talvez ele possa ultrapassar um pouco vinho branco. E se esse vinho é seco, ele combina muito bem com queijos frescos, com frutos do mar e peixes e até massas leves e aves. Já os vinhos brancos suaves, por exemplo, que têm para dar mais adocicado eles vão combinar muito bem com sobremesas’’, explica.
Diferenças entre champanhe e espumante
Carlos Henrique explica que espumante é um vinho com gaseificação, enquanto champanhe é um tipo de vinho espumante produzido numa região específica no nordeste da França. Ou seja, somente os vinhos produzidos nessa região do nordeste da França é que podem receber a denominação de origem champanhe. ‘’Já o espumante é o vinho com gás produzido em qualquer outra localidade. Os champanhes, como são vinhos gaseificados, são também vinhos espumantes. Então nem todo espumante é champanhe, mas todo champanhe é um vinho espumante’’, completa.
A partir desta distinção, fica mais evidente que vinhos podem ser produzidos por técnicas diferentes. Existe o método tradicional, o Champenoise, que também pode ser utilizado para outros espumantes. Há também o Charmat, um método mais moderno. ‘’Independentemente do tipo ou da origem, o vinho espumante pode ser produzido tanto com uvas brancas quanto com uvas tintas, bastando para isso que não haja o contato das cascas da uva com o mosto durante a fermentação’’, explica o professor.
Por que os brasileiros preferem o vinho tinto?
A preferência do brasileiro por vinhos tintos vem desde o Brasil colônia, aponta o professor. ‘’Talvez porque seja um vinho mais conhecido pelo brasileiro. Desde o período colonial, é o vinho mais produzido e consumido no Brasil. Tem muito a ver também com a influência portuguesa e a migração italiana, porque são povos que têm preferência pelo vinho tinto’’, lembra.
Na ótica gastronômica, no entanto, o vinho branco tem grande versatilidade, sendo possível estabelecer uma gama de harmonização com diferentes pratos.
‘’Pessoalmente, sou um apaixonado por vinhos brancos e acho que o brasileiro deveria conhecer mais os vinhos brancos por se tratar de um vinho leve, refrescante e com notas bem frutadas, além de ter tudo a ver com o nosso clima tropical. Um país de clima mais quente como o Brasil pede bebidas mais refrescantes’’. Essa leveza e versatilidade é comprovada à mesa, quando se percebe que vinho branco pode ser harmonizado com frutos do mar, camarões, peixes e até com churrasco.
Ou seja, os vinhos brancos conseguem proporcionar uma jornada única de descoberta sensorial e cultural, convidando os apreciadores a explorar uma ampla variedade de aromas, sabores e harmonizações em cada taça.