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Nova técnica de colheita deve revolucionar produção de vinhos tintos no Brasil; entenda

Novidade chega no momento em que um estudo revela que número de apreciadores da bebida no Brasil saltou de 22 milhões para expressivos 44 milhões, entre 2010 e 2022

Pesquisadores brasileiros e espanhois acabam de anunciar o desenvolvimento de uma análise científica que promete revolucionar a produção de vinhos tintos no Brasil. É que a nova técnica permite uma colheita mais precisa das uvas destinadas à elaboração dessas bebidas.
Estamos falando da Cromatografia Líquida Bidimensional Abrangente, que é uma técnica que separa e identifica componentes em amostras complexas, como os alimentos, por exemplo. Ela usa dois mecanismos de separação independentes que, quando combinados, aumentam a resolução, o que melhora a detecção, a separação e a capacidade de pico.

No caso da colheita das uvas, o estudo da evolução das antocianinas durante seu amadurecimento fornece informações cruciais para a definição do momento ideal da colheita.

As antocianinas são compostos fenólicos encontrados principalmente em verduras e frutas. Eles podem ser tanto naturais quanto sintéticos. São substâncias químicas multifuncionais que dão cor, aroma e estabilidade aos alimentos. No caso dos vinhos tintos, eles são responsáveis pela cor característica da bebida e considerados essenciais para sua qualidade, influenciando propriedades sensoriais, como sabor, adstringência e amargor.

Também possuem propriedades antioxidantes, anti-inflamatórias, cardioprotetoras e anti-hipertensivas, trazendo outros benefícios adicionais para a saúde dos consumidores.

Quanto maior tempo de maturação, maior concentração de antocianinas

Pesquisa realizada com uvas Malbec, na vinícola Vale das Colinas, em Garanhuns (PE), revelou tendências significativas na concentração de antocianinas ao longo do processo de maturação. Segundo o estudo, esse tipo de composto benéfico alcança seu pico na sexta semana após o início da maturação e, posteriormente, sofre redução. Essa descoberta oferece aos viticultores dados valiosos para determinar o momento ideal da colheita, visando à produção de vinhos tintos de excelente qualidade.

A afirmação é do professor da Universidade Federal do Agreste de Pernambuco (UFAPE) Mairon Moura da Silva, responsável pela seleção das uvas estudadas.

No início da maturação, muita acidez

A pesquisadora da Embrapa Meio Ambiente, Aline Biasoto Marques, explica que entender essas nuances bioquímicas é fundamental para os produtores. “Saber como esses compostos se comportam ao longo do ciclo de vida da uva nos permite otimizar o momento da colheita e maximizar tanto os aspectos sensoriais do vinho quanto seu potencial saudável”, explica.

Participante no desenvolvimento do método inovador, durante seu doutorado no Instituto de Investigação em Ciências da Alimentação (CIAL) em Madri, a aluna da pós-graduação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Laura Oliveira Lago enfatiza a relevância do estudo pioneiro.

Ela explica que no início do processo de maturação, as uvas têm alta acidez, mas, conforme a maturação avança, há um aumento nos sólidos solúveis e uma diminuição na acidez. Assim, a evolução dos metabólitos secundários durante a maturação da uva é um processo dinâmico e complexo que influencia significativamente a qualidade final do vinho.

Compostos diversificados

  • A riqueza dos compostos fenólicos em uvas abrange várias categorias com características bioquímicas e muitos benefícios.
  • Os flavonoides são cruciais para as propriedades de cor e sabor dos vinhos. Eles também têm propriedades antioxidantes.
  • Os estilbenos, dentre os quais o resveratrol é o mais famoso, e têm atraído atenção considerável devido a seus potenciais efeitos anticancerígenos e cardioprotetores.
  • Os ácidos fenólicos, derivados dos ácidos cinâmicos e benzoicos, também participam na composição dos vinhos, contribuindo para o sabor e a estabilidade do produto.
  • Já os taninos são polímeros de fenólicos que têm um papel significativo na textura e no envelhecimento do vinho.

Cresce produção e consumo de vinhos

No Brasil, o setor de vinhos tem experimentado um crescimento notável nos últimos anos, tanto em produção quanto em consumo. A diversificação de terroirs em regiões como o Vale dos Vinhedos no Rio Grande do Sul e áreas emergentes, a exemplo do que ocorre em Pernambuco e Bahia, apontam para um cenário promissor. A qualidade dos vinhos nacionais vem ganhando reconhecimento em competições internacionais, o que eleva o perfil do país no mercado global.

Segundo um levantamento recente, realizado pela consultoria Wine Intelligence, o Brasil figura entre os principais apreciadores de vinho na escala global. O país ascendeu para a 14ª posição no ranking dos mercados de vinho mais atrativos em termos mundiais, registrando um avanço impressionante de 12 posições.

Outro estudo, conduzido pela mesma consultoria, levantou que o número de brasileiros que adotam o consumo regular dessa bebida experimentou um crescimento significativo. O contingente de apreciadores da bebida saltou de 22 milhões para expressivos 44 milhões, entre 2010 e 2022.

Investimentos em pesquisas e desenvolvimento, como os estudos focados na maturação da uva e nos perfis fenólicos, estão contribuindo para aprimorar ainda mais a qualidade dos produtos.

Contudo, a infraestrutura para exportação ainda precisa ser aprimorada, e questões relacionadas às mudanças climáticas estão cada vez mais no centro das discussões, exigindo adaptações e inovações constantes por parte da pesquisa e dos produtores.

Mesmo considerando os desafios, a perspectiva para o setor de vinhos no Brasil é positiva, embora requeira atenção contínua aos detalhes. Em se tratando de vinhos finos, a perfeição mora nos detalhes, garantem os pesquisadores.

(*) Com informações da Embrapa.

Maria Teresa Leal é jornalista, pós-graduada em Gestão Estratégica da Comunicação pela PUC Minas. Trabalhou nos jornais ‘Hoje em Dia’ e ‘O Tempo’ e foi analista de comunicação na Federação da Agricultura e Pecuária de MG.



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