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Troca de acusações e suposta fraude: a nova crise entre o presidente da Câmara de BH e prefeitura

Corregedor da Casa arquivou pedido de quebra de decoro contra Gabriel Azevedo; presidente da Câmara fala em pressão da PBH

Versões diferentes: Crispim diz que arquivamento foi fraudado por assessor de Gabriel, e presidente da Câmara alega que vereador foi coagido pela prefeitura

Está prestes a explodir a relação até então amigável entre o presidente da Câmara de Belo Horizonte, Gabriel Azevedo (sem partido), e o grupo político liderado pelo secretário de Estado de Casa Civil, Marcelo Aro. Desta vez, uma acusação de fraude supostamente cometida por um assessor de Gabriel para arquivar o pedido de quebra de decoro contra ele. Por outro lado, o presidente da Casa alega que a prefeitura coagiu o corregedor da Câmara para mentir sobre a situação.

A nova crise teve início na noite desta quarta-feira (23), quando o PDT ingressou na Câmara com um pedido de cassação de mandato contra Gabriel Azevedo por suposta quebra de decoro parlamentar ao discutir e atacar o vereador Wagner Ferreira (PDT).

Na quinta-feira (24), o corregedor da Casa, Marcos Crispim (PSC), teria arquivado o pedido. Aí começa a divergência: segundo Crispim, um assessor do presidente da Câmara teria fraudado a assinatura do documento que arquivou a denúncia contra Gabriel.

“Que foi informado pelo seu assessor que na data de ontem, o assessor Guilherme Barcelos (Guilherme Papagaio, assessor de Gabriel) se deslocou até o gabinete de Crispim, que estava ausente, e, agindo de má fé, solicitou ao assessor que utilizasse o token do vereador para que fosse assinado um documento de arquivamento de quebra de decoro parlamentar referente ao presidente da Câmara”, narra o boletim de ocorrência feito por Crispim.

Por outro lado, Gabriel Azevedo afirma, em nota, que foi o o secretário de Governo da Prefeitura, Castellar Neto, que teria coagido e convencido Crispim a voltar atrás e simular a situação. Segundo o presidente da Câmara, o corregedor da Casa teria o confidenciado todo o episódio.

“Segundo o Corregedor Vereador Marcos Crispim narrou ao presidente, ao saber que a Corregedoria tinha rejeitado a denúncia contra Vereador Gabriel, o integrantes de seu grupo político se enfureceram e o obrigaram a tomar uma série de medidas das quais ele discordou, incluindo atribuir a responsabilidade da decisão a assessores, citando ainda a situação atual do Vereador Wilsinho da Tabu, que sofreu um pedido de cassação hoje. O Corregedor confidenciou ao Presidente da Câmara de Belo Horizonte estar muito constrangido e disse que pensou em até deixar a função, ou de até mesmo renunciar ao mandato. Pressões também ocorrem na avaliação do pedido de cassação de Wilsinho da Tabu (PP), do mesmo grupo político do Secretário Municipal de Governo Castellar Neto”, diz o texto enviado por Gabriel.

A crise instaurada nesta sexta-feira tem potencial para estremecer de vez a Câmara. No acordo firmado entre Gabriel e o grupo político de Marcelo Aro, em janeiro, ficou estabelecido que Gabriel ficaria um ano como presidente da Casa e, em janeiro, renunciaria para dar a presidência ao vice, Juliano Lopes (Agir), aliado de primeira hora de Aro.

Aguarde mais informações.

Lucas Ragazzi é jornalista investigativo com foco em política. É colunista da Rádio Itatiaia. Integrou o Núcleo de Jornalismo Investigativo da TV Globo e tem passagem pelo jornal O Tempo, onde cobriu o Congresso Nacional e comandou a coluna Minas na Esplanada, direto de Brasília. É autor do livro-reportagem “Brumadinho: a engenharia de um crime”.