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Denúncia de ex-chefe de segurança do Twitter pode ajudar Elon Musk

Documento enviado à SEC, ao Departamento de Justiça e à FTC chega em momento delicado para a plataforma

Elon Musk pode se beneficiar de acusações contra a plataforma

O combate a spam e hackers do Twitter tem deficiências extremas, segundo Peiter Zatko, ex-diretor de segurança da empresa. Segundo ele, as políticas de segurança, privacidade e moderação de conteúdo são de 2011. Ele avalia que essa negligência é um risco para a democracia, a segurança nacional e as informações dos usuários.

Zatko, um hacker ético conhecido na comunidade de segurança como Mudge, entrou no Twitter em novembro de 2020 e foi desligado pela empresa em janeiro de 2022. Suas denúncias foram encaminhadas à Comissão de Valores Mobiliários dos EUA (Securities and Exchange Commission – SEC) em 6 de julho.

No documento, ele acusa o Twitter, seu CEO Parag Agrawal e outros executivos e diretores de violações legais, como declarações enganosas a usuários e falsas a investidores, bem como “negligência e até cumplicidade” em relação aos esforços de governos estrangeiros para se infiltrar na plataforma. O especialista destaca que o Twitter prioriza o crescimento em vez do combate a spam e tem procedimentos insuficientes para controlar os perfis falsos. Além disso, os executivos não têm ideia de quantas contas falsas há na plataforma.

Os advogados de Elon Musk estão interessados em investigar as alegações de Zatko. “Já o intimamos e avaliamos que sua saída e as de outros funcionários-chave são curiosas”, informa Alex Spiro, advogado do empresário. As alegações de Zatko chegam em um momento delicado para o Twitter, que trava uma disputa judicial com Musk, que tenta se afastar do acordo de US$ 44 bilhões para adquirir a plataforma.

Alguns dos apontamentos de Zatko são semelhantes às alegações de Musk — a equipe jurídica dele, no entanto, informa que ele não teve contato com o empresário e iniciou as denúncias antes de Musk se interessar em comprar a rede social. Talvez a mais prejudicial, se for verdade, seja a alegação de que o Twitter viola o acordo de 2011 com a Comissão Federal de Comércio (Federal Trade Comission – FTC) sobre a proteção das informações do usuário. Zatko diz que o Twitter “nunca esteve em conformidade” com o decreto nem estava a caminho de fazê-lo.

Em maio, a FTC e o Departamento de Justiça multaram a rede social em US$ 150 milhões por violar o acordo. Isso porque a plataforma disse que coletava e-mails e números de telefone para proteger as contas dos usuários, mas não informou que os dados eram usados para anúncios direcionados.

Comunicações enganosas

Zatko conta, ainda, que em 2021 testemunhou executivos sêniores se envolverem em comunicações enganosas várias vezes. Ele diz que, em 14 de dezembro de 2021, por exemplo, Agrawal o “instruiu explicitamente a fornecer documentos que ambos sabiam serem enganosos”. Já em janeiro de 2022, ele passou a documentar evidências de fraude e o diretor de conformidade do Twitter abriu uma investigação com base em suas alegações.

Uma seção do documento intitulada “Mentindo sobre bots para Elon Musk”, Zatko menciona tuítes de Agrawal sobre o número de contas falsas na plataforma como um “exemplo de deturpação do Twitter”. Os executivos da companhia “não são incentivados a detectar spam com precisão” em razão de como eles medem a base de usuários do site para fins publicitários.

Zatko destaca que “ignorância era a norma” entre os executivos da empresa. Pouco depois de ingressar na companha, perguntou a um colega executivo sobre o número de contas falsas na plataforma e “a resposta foi ‘realmente não sabemos’”. Ele diz, ainda, que o Twitter é mal administrado e milhares de funcionários têm acesso a controles centrais e a informações confidenciais sem supervisão adequada.

As alegações de que o Twitter é incapaz de combater contas falsas podem ser benéficas para Musk, que tenta se livrar do acordo de compra que tem com a empresa. Zatko acusa Agrawal de mentir quando tuitou, em maio, que a empresa estava “empenhada em detectar e remover o máximo de spam possível”. Até agora, Musk tinha poucas evidências de suas afirmações, mas a denúncia do ex-executivo ajudam a reforçar seu argumento — desde que haja provas.

O que diz o Twitter

O Twitter afirma que o desligamento do profissional se deu em razão de desempenho ruim, mas Zatko fala que houve retaliação. Isso porque ele diz que tentou informar o conselho de administração sobre os lapsos de segurança antes de tornar a situação pública. “O Sr. Zatko foi desligado de seu cargo de executivo sênior no Twitter em janeiro de 2022 por liderança ineficaz e desempenho ruim”, diz comunicado oficial enviado à reportagem da Itatiaia.

Segundo a companhia, o profissional tem usado uma narrativa falsa sobre o Twitter e suas práticas de privacidade e segurança de dados. “Está repleta de inconsistências e imprecisões, e precisa de contexto importante: as alegações e o momento oportunista parecem destinados a chamar a atenção e infligir danos ao Twitter, seus clientes e acionistas. Segurança e privacidade têm sido prioridades de toda a empresa e continuarão sendo.”