Pesquisa recente do think tank independente americano Pew Research, intitulada “How People Around the World View AI” (ou “Como as Pessoas ao Redor do Mundo Veem a Inteligência Artificial”) e realizada em 25 países aponta que a preocupação com o rápido avanço da inteligência artificial no dia a dia se sobrepõe claramente ao nível de entusiasmo proporcionado pela adoção daquela ferramenta. A pesquisa foi feita em dez países da Europa, cinco da região Ásia-Pacífico, três da África, além de Estados Unidos, Canadá, Brasil, México, Argentina, Turquia e Israel.
Uma média de 34% dos adultos em todos aqueles países já ouviu ou leu muito sobre o tema, enquanto 47% ouviram pouco e 14% dizem que não ouviram nada. No Brasil, afirmam ter lido ou ouvido falar muito sobre o assunto 34% dos entrevistados na faixa 18-34 anos; 18% na faixa 35-49 anos; 13% acima dos 50 anos.
Na média dos 25 países, 34% dos entrevistados estão mais preocupados do que animados com o aumento do uso da IA, enquanto para 42% há um equilíbrio entre as duas condições. E 16% estão mais animados do que preocupados. No Brasil, os mesmos três segmentos mostram os seguintes números: 48%; 37%; 10%.
Segundo o Pew Research metade dos adultos nos Estados Unidos, Itália, Austrália, Brasil e Grécia se mostra desconfiada com o rápido avanço da IA, enquanto na Coreia do Sul apenas 16% da população estão na mesma situação.
Em vários países pesquisados uma parcela maior de pessoas está igualmente entusiasmada e preocupada com o uso crescente da IA. Em nenhum país pesquisado mais de três em cada dez adultos se dizem especialmente entusiasmados.
A pesquisa do Pew Research também aponta uma clara correlação entre a renda de um país (medida pelo produto interno bruto per capita) e a conscientização sobre os diferentes aspectos relacionados a inteligência artificial. As pessoas em países mais ricos tendem a ter ouvido mais sobre IA do que aquelas em economias de menor renda. Por exemplo, cerca de metade dos adultos nos países desenvolvidos como Japão, Suécia, Alemanha, França e EUA já ouviram falar muito sobre IA, mas os números caem para apenas 14% e 12% na Índia e no Quênia, respectivamente.
O Pew Research quis saber também a opinião sobre o nível de confiança dos entrevistados para que o uso da IA seja regulamentado de forma eficaz por um dos agentes mencionados. Alternativas sugeridas pela pesquisa: seu próprio país; União Europeia; Estados Unidos; China.
A maioria das pessoas se sente confortável com a hipótese de seu próprio país regular a IA. Isso inclui 89% dos adultos na Índia, 74% na Indonésia e 72% em Israel. No outro extremo do espectro, apenas 22% dos gregos acreditam que seu próprio país é a melhor opção para isso. Os americanos estão quase igualmente divididos entre a confiança em seu país para regular a IA (44%) e a desconfiança (47%).
Geralmente, as pessoas mais entusiasmadas com a IA são mais propensas a apostar em sua terra natal para o papel de regulador daquela tecnologia. Em vários casos essa questão está relacionada à filiação partidária ou ao nível de apoio à coalizão governante.
Nos EUA, por exemplo, a maioria dos republicanos e eleitores independentes que se inclinam para o Partido Republicano (54%) confiam nos EUA para regular a IA de forma adequada, em comparação com uma parcela menor de democratas e apoiadores do Partido Democrata (36%).
Quando se trata de outros possíveis reguladores, as pessoas em todo o mundo tendem a preferir a UE (53%) do que os EUA (37%) ou a China (27%).
A aposta na UE varia muito entre os países membros da organização: indivíduos da Alemanha e da Holanda são os mais confiantes, enquanto seus colegas na França, Grécia, Itália e Polônia se distanciam desse comportamento. No geral uma média de 54% dos respondentes nos nove países membros da UE pesquisados se dizem seguros diante da possibilidade de autoridades do bloco virem a regular a IA. O número cai para 48% nos países não-membros pesquisados (entre os quais Inglaterra).
A confiança do público nos vários atores políticos para regular a IA está intimamente ligada à forma como as pessoas os veem. Geralmente as pessoas com uma percepção mais positiva da UE, dos EUA ou da China são mais propensas a enxergar em cada um deles a melhor opção para regulamentar a IA de forma eficaz.
A pesquisa mostra que em países como a Indonésia e a África do Sul – onde as opiniões sobre a China são mais positivas do que as opiniões sobre os EUA – as pessoas são mais propensas a confiar em Pequim do que em Washington para aquela missão.
Por sua vez, os EUA são vistos como o melhor regulador de IA entre as pessoas da direita ideológica e entre os europeus que apoiam partidos populistas de direita. Em contrapartida, jovens adultos em 19 países dos 25 países pesquisados apoiam a China como a opção mais adequada.
Indivíduos com níveis mais altos de educação em 19 países se mostram mais confortáveis com a possibilidade de ter a UE como eventual órgão regulador. Europeus que apoiam partidos populistas de direita são menos propensos do que os não apoiadores a confiar na UE neste assunto, conclui a pesquisa do Pew Research.