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Fabiana de Lemos | O mapa da dor

A dor miofascial, causa mais frequente de dor musculoesquelética em consultório, pode ter diagnóstico facilitado com uso de um mapa

A dor miofascial causa mais frequente de dor musculoesquelética

Veja se você tem ou já teve algumas dessas dores descritas abaixo!

Uma dor de cabeça que segue, desde a região posterior do pescoço até as têmporas, pode gerar sensibilidade no couro cabeludo, e não é pressão arterial elevada.

Uma dor fina, tipo agulhada, na região do tórax, muito incômoda à inspiração profunda, e não é pneumonia.

Uma dor de ouvido e de garganta, que aparece, normalmente, de um único lado, se intensifica ao bocejar, e não é infecção local.

Uma dor nas costas, que atrapalha o sono e te acorda quando você muda de posição na cama.

O que todas elas dores podem ter em comum? São causadas por pontos gatilhos ou trigger points, da chamada síndrome miofascial. Mio, de músculo, e fascial, de fáscia muscular - membrana fibrosa do tecido conjuntivo que envolve músculos, cápsulas articulares, tendões e ligamentos, em todo nosso corpo.

Essa é a causa mais frequente de dor musculoesquelética nos consultórios, de acordo com a Sociedade Brasileira de Reumatologia. É mais comum nas mulheres, de meia-idade, e com hábitos sedentários, apesar de poder acometer qualquer pessoa.

Mesmo sendo frequente nos consultórios, nem todo profissional de saúde a conhece, por ser uma condição mais estudada nas especialidades médicas da Acupuntura, da Medicina de Família e da Reumatologia ou na área da Fisioterapia.

O que é a dor miofascial?

A síndrome miofascial é caracterizada pela presença de pontos dolorosos em fibras musculares com tensão aumentada, que causam dor local ou referida (a distância), rigidez e até limitação funcional, explica o fisioterapeuta Juliano Lopes, mestre em Ciências da Saúde pela UFMG e especialista em Fisioterapia Esportiva.

Esses pontos dolorosos podem estar inativos e causar incômodo somente quando comprimidos ou podem estar ativos e gerar dor constante, que pode ser localizada ou, na maioria dos casos, irradiar para outras áreas do corpo (veja as ilustrações) (a marca em x preta é o local do nódulo miofascial, a parte em vermelho demonstra a região onde o paciente percebe a dor).

Juliano Lopes relata que a dor miofascial, muitas vezes, é confundida com dores nos nervos, tendões ou articulações. E o pior é que pode recidivar, ou seja, retornar após um período de melhora.

Qual exame devo fazer para identificar a dor miofascial?

O diagnóstico é feito por exame físico, não necessitando de investigação por imagem. Quando o profissional de saúde desliza a mão pela região da musculatura que está tensionada, o próprio paciente percebe e informa a ocorrência de uma dor forte e aguda no local. Algumas vezes, chega a retirar o ponto doloroso da mão do examinador ou expressa a dor em sua face.

Dessa forma, o ponto gatilho é identificado. Cada um desses pontos produz uma dor específica, que, na maior parte das vezes, ocorre a certa distância do local apertado.

Existem diversos livros e mapas que demonstram a localização desse tipo de dor. Alguns deles já estão próximos da 40ª edição, como o dos autores Janet G. Travell, David G. Simons e Lois S. Simons, que apresentam o assunto com uma visão multidisciplinar. Basta procurar na internet para encontrar diversos desses mapas da dor.

Pelos mapas, verificamos que a dor é muito frequente na região do pescoço e dorso, mas podem acontecer nas coxas e nas nádegas.

O que pode gerar essa dor?

Diversos fatores de risco foram descritos e devem ser evitados pelos pacientes, sobretudo os que tem tendência a apresentar tal dor.

Sobrecarga muscular ou sedentarismo;

Movimentos repetitivos;

Traumas locais;

Má posição corporal, no dia a dia;

Falta de ergonomia no trabalho;

Longos períodos de trabalho assentado ou em pé;

Horas seguidas no celular com extensão da região do pescoço;

Bruxismo, causado quando o paciente aperta ou range involuntariamente dos dentes, durante o sono ou em situação de estresse.

Como devo tratar essa dor?

Diversos recursos são utilizados para aliviar o quadro, melhorar a circulação local e restaurar a funcionalidade do paciente.

“A reeducação dos padrões de movimento é essencial para promover a qualidade de vida e evitar a cronificação do quadro”, reforça o fisioterapeuta Juliano Lopes.

Entre as técnicas utilizadas estão:

Acupuntura;

Fisioterapia;

Melhorar a posição corporal;

Ajustar a mesa, a cadeira e o apoio de pé, durante o trabalho ou estudo;

Fazer pequenas pausas, durante o trabalho ou estudo;

Utilizar compressas mornas na musculatura acometida;

Usar alguns medicamentos, após devida prescrição, como relaxantes musculares e antidepressivos, em alguns casos;

Utilizar técnicas, com os devidos profissionais, de pressão local dos pontos ou mesmo injeção nos nódulos com anestésicos.

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Fabiana de Lemos é jornalista e médica. Membro da Sociedade Brasileira de Clínica Médica. Trabalhou no Caderno Gerais do Jornal Estado de Minas, de 1997 a 2003. Foi concursada da Prefeitura de Belo Horizonte e atuou como médica no SUS, de 2012 a 2018. Foi professora de Medicina pelo UniBH, até 2023. Atualmente, atende em consultório.

A opinião deste artigo é do articulista e não reflete, necessariamente, a posição da Itatiaia.