O título desse artigo reproduz a frase sempre atribuída ao general americano Dwight Eisenhower, comandante supremo das forças aliadas na Europa durante a Segunda Guerra Mundial e considerado um estrategista de primeira linha. Mentor do Dia D, o bem-sucedido desembarque na Normandia que mostrou ser a derrota dos nazistas inevitável, seu sucesso na carreira militar o levou às urnas e de lá para a presidência dos Estados Unidos, que ocupou de 1953 a 1961.
O aparente paradoxo da frase de Eisenhower embute uma visão crua da realidade: planos específicos correm o risco de serem inflexíveis e capturarem apenas uma fração dos cenários disponíveis, tornando-se assim pouco efetivos. Ao contrário, planejamento pressupõe visão mais ampla e análise permanente sobre diferentes variáveis, caminho este mais sólido para se desenharem alternativas e se tomarem decisões.
Hoje Estados Unidos e China estão envolvidos em contencioso comercial e tecnológico que espelha a disputa pelo território da influência e do protagonismo globais. A Casa Branca abrigou movimentos pendulares nas estratégias políticas, econômicas, sociais, diplomáticas e ambientais ao longo do primeiro mandato (2017-2020) de Donald Trump, da presidência de Joe Biden (2021-2024) e na volta de Trump ao Salão Oval. O que se viu nesse período foi a exacerbação dos tradicionais contrastes entre as agendas de republicanos e democratas quando no poder.
Se nos Estados Unidos o pêndulo trabalhou, na China prevaleceram os movimentos lineares.
Em 2015 Pequim lançou Made in China 2025, um amplo e ambicioso programa destinado a colocar o país na posição de liderança em atividades chave de um mundo crescentemente tecnológico e competitivo. Os resultados, dez anos depois, são mais do que expressivos.
O programa selecionou dez setores para investimentos do governo. Entre eles estavam os semicondutores, os conteúdos de alta tecnologia, automação e energia. Os objetivos eram modernizar processos produtivos; diminuir a dependência de itens importados; ampliar a presença das empresas chinesas nos mercados globais; aumentar o peso da manufatura nacional em diferentes setores.
Hoje a China já é responsável por cerca de 1/3 de toda a manufatura do planeta, mais do que a soma de Estados Unidos, Alemanha, Japão e Coreia do Sul.
Maior produção industrial, porém, não pode ser absorvida apenas pelo mercado interno, ainda que de consumo crescente. Por isso as exportações ganharam importância adicional. Pouco antes da pandemia de Covid-19, um terço de todos os contêineres que transportavam produtos exportados ao redor do mundo continham itens montados ou processados na China. Atualmente, a participação da China nos contêineres de exportação globais é superior a 36%, segundo a revista inglesa The Economist.
Em sua estratégia de maior protagonismo econômico Pequim apoiou suas empresas com subsídios, crédito barato e incentivos fiscais. Hoje a China lidera o mundo em veículos elétricos, painéis solares e geração de energia limpa, por exemplo. E se destaca de forma crescente em áreas como automação industrial, produtos eletrônicos, telecomunicações, segurança e aeronáutica (produz jatos para uso civil e militar), entre tantas outras.
O país tem grandes reservas das chamadas terras raras, definição que abarca 17 elementos químicos fundamentais para a transição energética e a fabricação de produtos de alta tecnologia. Tais elementos estão presentes em carros elétricos, turbinas eólicas, telas de celulares e TVs, lâmpadas de LED e equipamentos médicos. Não menos relevante do ponto de vista estratégico, são essenciais também na fabricação de radares, mísseis e aeronaves avançadas (segundo a Agência Internacional de Energia 90% da produção de terras raras está na China, que também domina a produção e refino de outros minerais críticos como lítio e cobalto).
E, finalmente, o país já mostrou sua musculatura no desenvolvimento de chips de última geração e ferramentas de inteligência artificial, terrenos onde novas disputas ocorrerão.
O chamado modelo chinês, ainda que bem-sucedido, ainda levanta dúvidas. Uma delas diz respeito ao volume de funding necessário para sustentar uma expansão que hoje leva grande número de marcas locais a concorrer entre si, em diferentes setores, e lutar para serem lucrativas. Em paralelo, não faltam interrogações sobre o nível de endividamento de um significativo número de empresas do país que se beneficiaram de crédito abundante e barato em anos anteriores.
Essas preocupações, no entanto, não limitam a velocidade do avanço tecnológico e do protagonismo da China. A política industrial de Pequim teve sucesso não apenas porque os planejadores escolheram a dedo os setores merecedores de apoio. Funcionou porque o Estado apostou em um ecossistema de inovação alimentado por vinte milhões de engenheiros e cientistas, além de uma força de trabalho habilitada para operações avançadas em manufatura.