Brasileiros intrigados se perguntam: “Quem matou Odete Roitman?”. Americanos ressabiados se indagam: “Por que Warren Buffet está vendendo suas ações?”.
Buffet, um ícone do mercado internacional e um dos maiores bilionários do planeta, está há dez trimestres seguidos vendendo os valiosos papéis que acumulou ao longo dos anos em empresas como Apple, Bank of America, Citigroup, HP e Chevron, entre outros nomes de ponta das bolsas de valores.
Muitos se perguntam se ele sabe (ou desconfia) de algo que os outros não sabem, como uma possível correção de preços das ações depois de um longo período de valorização. Ou se ele teme que a inflação americana suba demais depois da imposição das altas tarifas nas importações e que isso possa trazer momentos de instabilidade. Outros dizem tratar-se apenas do momento de vida de um senhor de 95 anos que está se aposentando e pretende agora realizar os lucros proporcionados por investimentos feitos ao longo de uma vida (ele possui patrimônio superior a 148 bilhões de dólares).
Mas os movimentos de Buffet não são a única pulga atrás da orelha dos americanos.
E nem estamos falando aqui das incertezas em relação a um 2026 que mostrará mais claramente os efeitos das novas políticas comerciais e tarifárias de Donald Trump; ou do jogo de xadrez geopolítico que a Casa Branca colocou em prática e já levou a adversária China a também mexer suas peças no tabuleiro visando defender posições.
A outra pulga atrás da orelha diz respeito a uma frase de efeito saída de uma boca poderosa cuja voz costuma sempre ser ouvida. Chairman e CEO do JPMorgan desde 2006, Jamie Dimon declarou esta semana uma preocupação com as “baratas” nos bancos regionais nos Estados Unidos e suas implicações para os negócios de dívida privada no mercado financeiro. Ele comentou, em teleconferência de resultados trimestrais sobre a baixa contábil de US$ 170 milhões que o JP Morgan (maior banco americano) precisou fazer na esteira das falências da First Brands e da Tricolor Holding, a primeira uma financiadora de veículos e a outra, importante fornecedora de autopeças.
As turbulências em ambas as empresas foram um choque para o mercado de crédito dos EUA, onde empréstimos vêm sendo concedidos em ritmo recorde. Em paralelo, negócios com dívida privada (instrumentos financeiros como debêntures e CDBs emitidos por empresas e instituições privadas para captar recursos) vêm oferecendo enorme retornos aos investidores.
E é esse alto nível de excitação e energia no ar que preocupa Jamie Dimon. “Quando você vê uma barata, provavelmente há mais”, acrescentando ainda que nem “deveria dizer isso” publicamente. Observou que fica “antenado quando coisas assim acontecem” e avalia que “todos deveriam estar atentos sobre isso.”
Um dia depois do alerta de Dimon, um novo susto: dois bancos regionais dos EUA, Western Alliance e Zions, divulgaram problemas com empréstimos e levaram mais mau humor ainda a Wall Street.
Como se estivessem pisando em ovos, mercados do mundo todo terminaram a semana temendo que “baratas” estejam voando para outros lugares territórios, ainda que os eventos de crédito em risco pareçam restritos aos EUA. Mas investidores não costumam baixar a guarda e seguem desconfiados.
Cada nova baixa contábil, problema de crédito ou novo ruído no ambiente financeiro já nervoso nos EUA pode gerar preocupações exageradas e indesejadas, em cenário onde a aversão ao risco se espalha rapidamente. Os investidores tentam separar os rumores da realidade, mas o medo é difícil de espantar.
O chamado “efeito manada” é um fantasma sempre presente quando indicadores econômicos oscilam demais. Ele pressupõe a percepção (correta ou equivocada) de um suposto perigo iminente que pode levar a um estado de irracionalidade coletiva. Este, por sua vez, é capaz de ditar comportamentos capazes de transformar meras teses ou temores em efetivos prejuízos financeiros, consumando assim a última etapa de uma profecia autorrealizada.