‘Os Corações de Florim’: conheça as obras vindas de Brumadinho que encantam o Brasil

Renan Florindo é capixaba, mas, filho de mineira, vive em Minas Gerais desde 2013; suas obras se destacaram na Festuris Gramado 2025

Renan Florindo começou a produzir seus corações em 2014

O artista plástico contemporâneo Renan Florindo, de 36 anos, esteve entre os destaques do estande do Governo de Minas Gerais na 37ª edição da Festuris – Feira Internacional de Turismo de Gramado – realizada entre os dias 6 e 9 de novembro, no município de Gramado, no Rio Grande do Sul. Ele apresentou ao público seus ‘Corações de Florim’, esculturas desenvolvidas em seu ateliê.

As obras são esculturas de corações realistas, porém, com detalhes que transmitem seus sentimentos, ideias, pensamentos e percepções mais íntimos. Na Festuris, por exemplo, Florindo apresentou peças que transmitiam “mineiridade”, como aquela inspirada na lobeira, planta que dá a fruta-do-lobo, e é um símbolo do Cerrado.

Também foi exibido o coração colocado em um oratório, o que possuía uma jabuticabeira brotando de si e a interatividade do “Coração em Branco”, onde as pessoas puderam personalizar uma obra com cores, traços e emoções próprias.

O artista mostra suas obras e processo criativo em seu Instagram pessoal.

Renan Florindo com alguns dos seus ‘Corações de Florim’

Origens e inspiração

Renan é capixaba, nascido em Iúna, município localizado na divisa entre Espírito Santo e Minas Gerais, porém vive em terras mineiras desde 2013. Seu pai é capixaba e sua mãe mineira.

Atualmente, Florindo é morador de Brumadinho, na Grande BH, para onde se mudou em 2021. O artista contou o processo que levou ao batismo de seu trabalho e explicou no que consistem suas obras, que bebem de sua formação acadêmica: a Farmácia.

“É uma brincadeira com o meu sobrenome, Florindo Amorim. E nas minhas andanças por Minas, fui descobrindo que Florim foi a primeira moeda do Brasil, então acho que tem tudo a ver com essa questão da mineiridade e o meu trabalho também, foi um nome que se encaixou perfeitamente”, contou.

E foi além:

“Meu trabalho é uma fusão de arte e ciência. Eu tenho uma formação acadêmica em Farmácia, pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Em Minas Gerais, fiz mestrado em neurociências, e trouxe muito dessa questão mais metódica do laboratório da Universidade para a arte.

E, ao mesmo tempo, trazendo toda essa bagagem do entorno, de vida, os passeios, a contemplação que eu posso fazer em Minas Gerais, trazendo todos esses elementos da natureza para o coração e, com isso, criar uma simbiose entre humano e vegetal, ambiente, arte, ciência”, explica Florindo.

Renan busca, também, uma retomada do trabalho manual e simbólico.

“Quero trazer uma arte que seja simbólica para a casa das pessoas que apreciam isso. Elas que estão deixando cada vez mais de lado o produzido de forma industrial, autônoma, automática, e buscando um trabalho mais manual, com simbolismo e com significado”, completa ele.

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O símbolo do coração

Renan Florindo iniciou a produção dos corações em 2014, porém, de forma mais tímida. E os onze anos de confecção ficam mais curtos quando ele revela que sua atuação nas artes plásticas, em modelagem, começam muito antes, quando tinha apenas quatro anos.

Os ‘Corações de Florim’

“Tenho memórias a partir dos sete anos, de fazer as modelagens, criar as peças. E chegou um momento em que eu quis transformar todo esse trabalho em uma arte mais autoral. Então, tento resgatar esse símbolo, o coração, não de uma forma apenas romântica, como ele foi colocado de séculos pra cá, mas trazendo uma versão um pouco mais anatômica, mais para a realidade, mas, ao mesmo tempo, trazendo a poesia da parte botânica junto dessas peças”, explica.
Florindo conta que o início do projeto com os corações se deu em um momento de incertezas e que a obra da pintora mexicana Frida Kahlo o inspirou.

“Foi um momento de reflexão. Eu sempre gosto de brincar que conheci a Frida Kahlo muito tardiamente. Descobrir a potência do trabalho dela de 2013 para 2014. Gosto muito da cultura mexicana, de como eles ressignificam a morte, como trazem isso para o dia a dia e uma coisa que era muito presente no trabalho da Frida são os corações, o sagrado coração e aquilo ali me chamou muito a atenção”, começou ele.

E continuou.

“Quando comecei, foi muito tímido, fazendo um pingente, um coração que eu colocava numa plaquinha, escrevia uma frase e deixava na geladeira, mas de uma forma bem despretensiosa. Então, fui entendendo que o coração é um símbolo universal e muitas pessoas compraram essa ideia, gostaram, e com o passar dos anos fui melhorando o formato da modelagem, da escultura, e acabei entrando para um coletivo de artes do Libertas, em Belo Horizonte”, prosseguiu Florindo.

A experiência do “Coração em Branco”, apresentada em Gramado, foi desenvolvida após ele se mudar para Brumadinho, quando conheceu o projeto Destino Veredas.

“O símbolo do coração pode remeter ao apaixonado, ao amor romântico, mas também tem esse outro simbolismo, uma voz interna que traz conhecimento, de repente, o norte”, avalia.

Renan valoriza o trabalho manual utilizado na produção de suas obras

Corações ‘mineiros’

O artista contou, ainda, sobre as obras escolhidas para serem exibidas no estande mineiro da Festuris Gramado 2025. Segundo Florindo, ele buscou exibir corações que trouxesse a “raiz mineira”.

Um coração no oratório: “Minas é muito reconhecido pela religiosidade e a arte tem esse papel de trazer uma reflexão, um incômodo, não só o belo. Esse coração tem pregos, sangue, é um pouco mais intenso, e traz essa reflexão. Assim como o Guimarães Rosa fala que viver é um rasgar-se e remendar-se, tenho uma peça assim também, e trago esses autores mineiros. Ele é de Cordisburgo, que é terra do coração. Então, isso tudo vai entrelaçando assim com o meu trabalho”.

O coração jabuticabeira: “Ele traz essa carga enorme de memória afetiva da família, dos quintais, dos avós”.

Renan Florindo segura o coração de jabuticabeira

O coração com a lobeira: “É uma planta do nosso cerrado, muito importante para a alimentação do lobo-guará, para a manutenção da nossa fauna. E essa simbiose que o coração mostra entre o humano e o reino vegetal, se mostra também no lobo-guará, pois a lobeira o alimenta e ele faz esse papel de dispersão. Os dois se ajudam e têm uma coexistência de benefício mútuo”.

“Trouxe esses elementos justamente para mostrar esse ponto de observação, de calma, de contemplação. Minas Gerais nos convida a caminhar por ela, a conhecer”, finalizou Renan Florindo.

Maic Costa é jornalista, formado pela UFOP em 2019 e um filho do interior de Minas Gerais. Atuou em diversos veículos, especialmente nas editorias de cidades e esportes, mas com trabalhos também em política, alimentação, cultura e entretenimento. Agraciado com o Prêmio Amagis de Jornalismo, em 2022. Atualmente é repórter de cidades na Itatiaia.

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