Em debates sobre feminismo, frequentemente me deparo com questionamentos sobre a necessidade de proteger os direitos das mulheres. A dúvida central costuma ser: “Se homens e mulheres são iguais, por que elas reivindicam direitos diferenciados?”. A filósofa francesa, Simone de Beauvoir, diria que o próprio mundo, como representado, é obra dos homens, uma vez que o descrevem a partir do seu ponto de vista – o que muitas vezes confundem com a verdade absoluta.
Na realidade, tanto biológica, quanto social, homens e mulheres não são iguais. Existem diferenças fisiológicas, como força física, estrutura hormonal e papéis na reprodução. No entanto, além dessas distinções naturais, existem também construções sociais, que foram impostas historicamente, resultando em desigualdade estrutural.
A título ilustrativo, Simone de Beauvoir, filósofa e feminista, argumentava que a mulher é condicionada a certos papéis, como o de cuidadora, quanto o homem é incentivado à liderança. Como resultado, durante séculos, as mulheres foram excluídas de espaços de poder, educação e trabalho, o que ainda reflete nas possibilidades que lhes são oferecidas. Ocorre que, quando projetamos um mundo funcional para todos, precisamos ter mulheres inseridas no debate, à frente da tomada de decisões.
Diante dessa realidade, qual é a verdadeira luta das mulheres? A busca não é por privilégios, mas por equidade. A igualdade de gênero não significa tratar homens e mulheres como se fossem idênticos, mas sim garantir que suas diferenças não se tornem barreiras para seu desenvolvimento, garantindo a igualdade de direitos. O objetivo é assegurar que todos, independentemente do gênero, tenham as mesmas oportunidades e direitos na prática, e não apenas na teoria.
Ao definir o feminismo como um movimento de luta pela liberdade e pelo direito de decisão, Beauvoir enfatizava que as mulheres devem ter autonomia para escolher seus próprios caminhos, sem serem limitadas por padrões impostos – sejam eles relacionados aos seus corpos, a sobrecarga com o trabalho doméstico e não remunerado, ou até a violência de gênero – que pode até, em algumas situações, não deixar marcas físicas, mas que deixam sempre danos psicológicos. Assim, feminismo não é uma oposição aos homens, mas uma luta por liberdade e igualdade de oportunidades para elas.
Isso significa garantir que as mulheres tenham direito à autodeterminação sobre si, à participação ativa na sociedade e na política, à liberdade de expressão e identidade e, sobretudo, à independência econômica. O acesso igualitário ao mercado de trabalho, a equiparação salarial e a possibilidade de construir uma carreira sem depender financeiramente de um homem são passos fundamentais para uma sociedade mais justa.
Portanto, questionar a luta das mulheres sob a ótica da “igualdade absoluta” ignora o fato de que a sociedade sempre tratou homens e mulheres de forma desigual. O feminismo não nega as diferenças biológicas, mas sim os obstáculos que foram historicamente criados para que essas diferenças se traduzissem em opressão. A verdadeira igualdade só será alcançada quando as mulheres tiverem total liberdade para viver suas vidas sem limitações impostas pelo gênero. Afinal, ser diferente nunca deveria significar ter menos direitos.
Não se trata de rivalidade. Nem de comparação ou igualdade absoluta. Trata-se de equidade, do reconhecimento das diferenças individuais para que sejam feitos os ajustes necessários a fim de garantir um equilíbrio real. Isso significa criar condições para que mulheres possam exercer sua liberdade plena, sem limitações impostas por uma sociedade historicamente desigual.
Quando garantimos equidade, criamos um mundo onde as escolhas não são determinadas pelo sexo com que alguém nasceu, mas sim pelos sonhos, capacidades e desejos individuais. Afinal, a verdadeira evolução de uma sociedade não está na manutenção de privilégios, mas na construção de um futuro onde ninguém precise lutar para ser tratado com justiça.