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Bertha Maakaroun | Tarcísio recua e Bolsonaro tenta retomar o controle de seu campo político

O recuo de Tarcísio de Freitas na disputa nacional afeta as composições do processo eleitoral em Minas

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) tenta recuperar o controle do seu campo político e conter as articulações do Centrão para a construção de uma chapa ao Planalto em 2026 sem o sobrenome Bolsonaro, encabeçada pelo governador de São Paulo Tarcísio de Freitas (Republicanos). Tarcísio de Freitas recuou. Declarou nesta segunda-feira que será candidato à reeleição. E fez isso depois de visitar Jair Bolsonaro em Brasília. A narrativa orientada por Bolsonaro, manifesta por Tarcísio, é seguir a defesa da anistia ampla no Congresso – que neste momento tem baixa probabilidade de prosperar, substituída que foi pelo projeto de redução de penas. Tarcísio afirmou que o candidato ao Planalto em 2026 será Jair Bolsonaro. No meio político, poucos apostam nisso. O próprio Jair Bolsonaro sabe que o momento não lhe é favorável. O governo Lula esboça recuperação da avaliação positiva nas pesquisas. Algumas lideranças do Centrão consideram retardar o desembarque do governo, que já havia sido anunciado. Além disso, bolsonaristas se sentem ameaçados pelo breve aceno de Donald Trump a Lula. Tentam reverter essa aproximação, focada em aspectos comerciais da relação. Trump é o principal ativo com que contam bolsonaristas para colocar pressão sobre as instituições, em busca de uma anistia a Bolsonaro e para a reversão da inelegibilidade.

O recuo de Tarcísio de Freitas na disputa nacional afeta as composições do processo eleitoral em Minas. Sem Tarcísio, o PP do senador Ciro Nogueira (PI), um dos principais articuladores da unidade do campo bolsonarista, terá dificuldade em manter essa unidade no plano nacional e nas composições nos estados. O PSD segue com a candidatura da Ratinho Junior, do Paraná; o Novo, com a de Romeu Zema, de Minas, o União com a de Ronaldo Caiado, de Goiás. Nos estados, a federação União Progressista fica menos engessada. Em Minas, PP e União estão hoje na base do governo Zema, mas poderão se deslocar a depender de quem concorrerá ao Palácio Tiradentes. O vice-governador Mateus Simões (Novo) e seus interlocutores, que nos bastidores já marcam data para a filiação dele ao PSD, tentam convencer os pré-candidatos senador Cleitinho (Republicanos) e também, agora, o deputado federal Nikolas Ferreira (PL) a desistir da pré-candidatura. Mas Mateus Simões não está conseguindo essa unidade. Neste momento Mateus Simões surfa na indefinição do campo não bolsonarista em Minas, organizado em torno da da pré-candidatura do senador Rodrigo Pacheco (PSD). O senador mineiro segue pressionado pela eventual antecipação da aposentadoria do ministro Luís Roberto Barroso – que quer deixar a Corte, mas hesita quanto à data. Mateus Simões aposta em cenário sem Rodrigo Pacheco na disputa, sonhando em ter por osmose, algum quinhão dos votos do centro e da esquerda. Talvez esteja se esquecendo que o outro lado também pensa e não está morto.

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Jornalista, doutora em Ciência Política e pesquisadora

A opinião deste artigo é do articulista e não reflete, necessariamente, a posição da Itatiaia.