A briga entre Neymar e Luana Piovani ganhou um novo capítulo na última semana, após a Justiça de São Paulo aceitar, em 21 de fevereiro, a queixa-crime do jogador por difamação e injúria, diante da recusa da atriz de se retratar publicamente para que ele desistisse da ação. O embate teve início em maio de 2024, quando Luana chamou o atleta de mau-caráter, estrupício, péssimo exemplo e ignóbil, em desentendimento causado pela polêmica PEC da privatização das praias.
Indignado, Neymar rebateu com comentários agressivos, afirmando que “abriram as portas do hospício”, sugerindo que a atriz deveria “colocar um sapato na boca”. Ele também destacou a idade de Luana, dizendo que ela tinha 50 anos e que seu “tempo já havia acabado”, insinuando que suas críticas visavam apenas “lacrar” na internet. As declarações rapidamente provocaram discussões nas redes sociais sobre machismo, etarismo e violência simbólica.
Sem adentrar o mérito jurídico ou ético da troca de ofensas entre os envolvidos, é fundamental destacar o pano de fundo estrutural que permeia esse tipo de situação: o machismo arraigado em nossa sociedade. Comentários que desqualificam uma mulher por sua idade ou aparência física não são meras agressões pessoais — são reflexos de um sistema que constantemente reduz o valor das mulheres a atributos estéticos e as silencia quando ousam expressar opiniões contundentes.
O machismo estrutural está profundamente enraizado nas normas sociais e culturais brasileiras, perpetuando desigualdades de gênero e formas sutis (e nem tão sutis) de violência. Essa opressão vai além de atitudes isoladas, manifestando-se em instituições, discursos públicos e comportamentos cotidianos. Um de seus efeitos mais danosos é justamente a normalização de agressões psicológicas e simbólicas, muitas vezes minimizadas como “opiniões” ou “brincadeiras”, mas que contribuem para um ambiente social hostil às mulheres.
Não é coincidência que mulheres que se posicionam publicamente — especialmente aquelas que fogem dos padrões esperados de juventude e docilidade — sejam alvos frequentes de ataques que envolvem sua aparência, idade ou caráter. É uma tática recorrente para deslegitimar suas vozes e reforçar estereótipos que limitam o espaço feminino nos debates sociais.
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Portanto, quando uma mulher se recusa a se calar diante de situações e insultos machistas ou não aceita ser reduzida a padrões etários e estéticos, ela realiza um ato político. Esse gesto vai além da defesa pessoal — desafia as estruturas sociais que sustentam essas opressões. Discutir casos midiáticos como o de Luana e Neymar não é apenas fofoca ou entretenimento: é uma oportunidade para questionar a forma como naturalizamos comportamentos tóxicos e como podemos, coletivamente, desconstruí-los.
Enfrentar o machismo estrutural exige coragem, empatia e, sobretudo, consciência política. Porque, no fim das contas, dizer “basta” nunca é apenas uma opinião — é uma posição de resistência contra um sistema que insiste em calar vozes femininas. E toda resistência é, por si só, um ato político.