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Política e futebol: uma ligação inconveniente

A política nunca será tão apaixonante como o futebol, mas pode gerar uma felicidade muito mais duradoura do que a efêmera alegria de uma vitória do time de coração

A política nunca será tão apaixonante como o futebol, mas pode gerar uma felicidade muito mais duradoura do que a efêmera alegria de uma vitória do time de coração.

Nos últimos dias vazou na imprensa nacional uma conversa entre os corintianos o apresentador Datena, o deputado Boulos e o comentarista Neto, que tratavam da sucessão de um outro corintiano, o presidente Lula. Em uma mesa, eles falavam de táticas, jogadas e bastidores que poderiam levar ao sucesso ou ao fracasso na empreitada de alguém que fosse dirigir a cidade de São Paulo e, sucessivamente, o Brasil. Como bons cornetas, apontavam a escalação de melhores quadros, colocando eles mesmos como alternativas para entrar em campo e decidir o futuro de todos nós.

Aqui em Belo Horizonte, política e futebol também andam muito juntas, desde que Alexandre Kalil se tornou prefeito a partir da fama conquistada pela gestão no Clube Atlético Mineiro. É fato que Kalil entregou à massa atleticana o seu maior sonho, ser campeão da Copa Libertadores. A coragem e a ousadia do dirigente deram ao clube a possibilidade de sonhar alto, mas nem por isso podemos considerar que Kalil teve uma gestão responsável no Atlético.

No futebol, o título pode significar quase tudo. Uma vez conquistado os personagens tornam-se imortais e entram para história de uma nação de apaixonados, mesmo que tenham acontecidos gols irregulares, lances de sorte ou mesmo a irresponsabilidade financeira. A conquista se sobrepõe a tudo.

Na prefeitura da Capital, o estilo do ex-dirigente Alexandre Kalil foi o mesmo, comportando-se como uma autoridade máxima, desdenhando de adversários, comunicando diretamente para os seus da maneira que lhe convinha. Kalil, enquanto foi prefeito, ampliou a lista de inimigos, mas agradou à ‘torcida’ e saiu bem avaliado pelos cidadãos.

Quem conhece os bastidores do Atlético critica a administração de Alexandre Kalil. Quem sabe fazer contas, quem quer uma administração impessoal e isenta de interesses e quem pensa no futuro, comemora o título, mas não coloca o dirigente no mesmo patamar daqueles que apenas acompanham os jogos e comemoram ou sofrem com os resultados das partidas.

Quem conhece os bastidores da Prefeitura de Belo Horizonte também critica a falta de impessoalidade, transparência e até as vantagens pessoais obtidas pelo ex-prefeito na condução da cidade.

Política e futebol são temas apaixonantes. Dizem que entre as coisas menos importantes, o futebol é a mais importante delas. Mas podemos dizer também que entre as coisas mais importantes, a política é uma delas.

A política precisa se separar do futebol. A violência, a manipulação de resultados, o desdém pelos adversários, as vantagens pessoais tão presentes no futebol precisam se afastar de vez da política.

A política nunca será tão apaixonante como o futebol, mas pode gerar uma felicidade muito mais duradoura do que a efêmera alegria de uma vitória do time de coração.

Doutor em Ciência Política, professor da PUC Minas, diretor do Instituto Ver Pesquisa e Estratégia e comentarista político da Rádio Itatiaia. Marido, pai de família, atleta amador e apaixonado por lugares, pessoas e aventuras.