A narrativa do medo move uma parte significativa do nosso eleitorado. Parte dos eleitores vota pensando nos ganhos que terão com a implementação de políticas públicas. Outra parte, de tamanho considerável, faz suas escolhas temendo a instauração de um mal maior, como que está embutido na ilusão de uma possível chegada do comunismo ou mesmo na possiblidade de banheiros públicos serem iguais aos das nossas casas, frequentados individualmente por homens e mulheres com portas fechadas garantindo a privacidade de quem usa.
Como se não bastasse o medo, a narrativa da nova política também assombra com duas palavras que findam na própria máquina pública: austeridade e eficiência financeira. Governos estaduais colocam como narrativa de sucesso de suas gestões a economia feita na gestão pública, os lucros das estatais ou o tamanho do caixa do governo.
No Senado também imperam as narrativas da nova política. Tem Senador que incorpora o espírito fiscalizador e fica rodando por estradas esburacadas fazendo vídeos e cobrando ações do Executivo, esquecendo que ele também mobiliza recursos e interesses que, se bem aplicados, podem resolver os problemas que ele mesmo aponta.
Na Câmara dos Deputados, o campeão de votos vai à tribuna usando uma peruca, faz chacota e diz que vai assegurar o direito de esportistas femininas de garantirem competitividade frente à ameaça de que atletas transexuais poderiam tomar seus postos e quebrarem seus recordes.
Na Assembleia Legislativa, deputados e deputadas quase chegam às vias de fato nas discussões sobre temas como linguagem neutra ou liberdade de expressão, como se isso fosse legislado internamente nos estados.
Nas câmaras municipais, radicais de toda ordem ganham seguidores e likes, fazendo do espaço de discussão das cidades uma oportunidade de implementação de narrativas em defesa dos costumes.
A nova política trouxe junto dela a desvalorização da essência da política e da necessidade de governos. Um governo deveria ser avaliado por sua capacidade de atender de forma eficiente e duradoura as demandas das pessoas no que tange à instauração de políticas públicas que possam trazer melhorias na qualidade de vida das pessoas.
Os tempos atuais, regidos pela nova política, geram ganhos para as empresas gestoras das redes sociais, geram likes e seguidores para os políticos e permitem a ascensão destes a cargos de representação de maior relevância e com acesso a mais recursos e, em contrapartida, deixam cada vez mais órfãos de políticas públicas os cidadãos que vivem nas cidades, contribuem com tributos para o estado e para a União.
Na nova política a guerra de narrativas gera mais narrativa e deixa de lado a implementação de políticas públicas.