Ouvindo...

Desafios para o Dia Internacional das mulheres

A desigualdade na renda gera um outro efeito perverso: a dependência econômica e a falta de autonomia coloca as mulheres em situação inferior nas relações domésticas

Dia da Mulher

Estrear esta coluna no dia 8 de março é simbólico em relação às desigualdades que se fazem presentes em nosso país. No Dia Internacional das mulheres temos muito mais a lamentar do que a comemorar.

No Brasil, as mulheres têm renda média menor do que os homens e, pior, à medida em que se aumenta a renda dos indivíduos, menor é a participação das mulheres. As mulheres têm mais dificuldades para entrar no mercado de trabalho e estão muito menos presentes percentualmente entre os trabalhadores mais ricos do que entre os mais pobres.

A desigualdade na renda gera um outro efeito perverso: a dependência econômica e a falta de autonomia coloca as mulheres em situação inferior nas relações domésticas, favorecendo até mesmo o abuso por parte dos homens. Esse abuso está dentro dos domicílios e fora deles e a violência ou o risco iminente é constante no universo feminino.

Mas com todas essas dificuldades, quando falamos de política públicas, as mulheres sabem muito mais do que os homens. Mesmo com jornadas de trabalho similares à dos homens, mesmo gastando mais tempo no sistema de transporte público, as mulheres ainda conseguem acompanhar familiares nos atendimentos médicos, participar mais das reuniões nas escolas ou mesmo fazer visitas no sistema prisional. Elas são muito mais presentes na vida familiar.

As mulheres, exatamente pela maior experiência no uso das políticas públicas, são muito mais capazes de fazer avaliações. E essa capacidade, no que se refere à política, deveria ser reconhecida seja na hora do registro das candidaturas seja no resultado da votação.

Contudo, ainda vivemos na política a pior das desigualdades – a de representação. Quem elabora o arcabouço legislativo e quem implementa as políticas públicas ainda são, em sua grande maioria, os homens.

Já temos incentivos na legislação eleitoral para aumentar a representação feminina, mas a gestão dos processos de distribuição de recursos segue a mesma assimetria. Basta ver que, dos 31 partidos estão registrados no TSE, apenas três são comandados por mulheres.

O enfrentamento a essa situação deveria ser prioridade de mais da metade de nossa população, afinal, 52% dos brasileiros são mulheres. Some-se a esse percentual parte considerável dos homens que não se conformam com essa forma de desigualdade.

Significa que a parcela capaz de mudar essa realidade é ampla maioria. Então, vamos à luta.

Doutor em Ciência Política, professor da PUC Minas, diretor do Instituto Ver Pesquisa e Estratégia e comentarista político da Rádio Itatiaia. Marido, pai de família, atleta amador e apaixonado por lugares, pessoas e aventuras.