Pergunte a um jovem de hoje se ele se vê trabalhando quatro anos em uma empresa. Acrescente que esse trabalho vai envolver sábado, domingo, feriado, enfim, o dia que precisar, na hora que o chefe mandar. Em 1000 pesquisados, não mais que dois ou três vão dizer que topariam, em nome do amor à profissão e à sobrevivência.
Estou pedindo licença para celebrar 40 anos de Itatiaia. Comecei aos 11, como office-boy e ascensorista de hotel; depois, contínuo, escriturário, caixa e procurador de banco; há 48 anos, repórter, 40 deles vividos aqui na Itatiaia. A carteira foi assinada no dia primeiro de junho de 1985. Treze anos depois, também num primeiro de junho, fui escalado para apresentar programa.
Quanta história entre esse locutor que vos fala e essa paixão chamada Itatiaia. Momentos de muita alegria, imensa dor, apreensão, orações e comemorações com missões cumpridas. Fui a 48 países, apertei a mão de Santo João Paulo II e Chico Xavier, entrevistei presidentes, cobri Assembleia Constituinte em Brasília, reunião da ONU no Rio, Fórum Social na Índia, visita de presidente na China, representei o Brasil na Voz da América, em Washington, numa reunião de 21 jornalistas de todas as partes do mundo para falar sobre drogas...
Quando Collor anunciou o confisco, estava lá. Quando Sarney admitiu sequestrar boi no pasto, também. Quando Fernando Henrique anunciou o Plano Real, estava lá, ao vivo, no apartamento funcional dele.
Quanta coisa chique, longe...
Quanta coisa feia, triste... Cobri enchentes no Arrudas, desmoronamento na Barraginha, sequestro do coronel em Juiz de Fora, julgamento do Vilarinho em Ituiutaba, enchentes pelas Minas Gerais... Quanta coisa! Quantas emoções quando conseguimos uma cirurgia para quem não tem recurso, um milagre para quem não tem remédio, essas coisas que o rádio faz no seu cotidiano, na ponte entre os desvalidos e os mandatários...
Engraçado porque a mídia eletrônica gera a tal da fama, essa exposição que nos faz conhecidos, festejados e bem tratados em quase todas as situações. Mas, se a televisão dá glamour, o rádio dá responsabilidade, nos torna mais humildes, dado que a lida envolve todas as camadas da população e revela que, cada um a seu modo e na sua hora, todos têm suas alegrias e tristezas. É... O rádio prova a quem o faz que dinheiro não traz felicidade porque num barraco de favela há mais sinceridade, amizade e sentido de família que em muitas mansões de ricos e famosos.
A Itatiaia me ajudou a formar duas médicas, estudar nas duas principais fundações do país, fazer mestrado em Ciências Sociais, crescer...
Se queres saber o que me faz mais feliz na Itatiaia, te direi que é o aprendizado, o tamanho de nossa pequenez, a certeza da finitude, a graça da vida, a verdade de Deus e o verdadeiro orgasmo por perceber que a vida vale a pena. Presta!