Ouvindo...

Velho e rabugento

Sempre ouvi pessoas mais jovens reagirem a uma ação dos mais experientes

Sempre ouvi pessoas mais jovens reagirem a uma ação dos mais experientes com a surrada frase “você está ficando velho e rabugento”. Como ficar velho é inevitável, preparei meu bolso, minha cabeça e minha capacidade de administrar o etarismo para quando me aproximasse dos 70. Já em relação à rabugem, admito: não será possível evitar, me precaver. Já fiquei.

A cada segundo acho que entendo menos de jornalismo, que diminui minha capacidade de percepção sobre o que é importante de verdade.

Na semana passada, a doutora Mariângela Hungria ganhou o World Food Prize, o Nobel da Agricultura, que até aqui agraciou apenas 57 pessoas, dois brasileiros e agora ela, a primeira mulher de nosso país. Tem o reconhecimento mundial por seu trabalho de fixação biológica do nitrogênio para substituir fertilizantes químicos, especialmente na soja, da qual o Brasil é o maior produtor do planeta.

E mais um cheque de cerca de 3 milhões de reais. Sabe por que teve pouca repercussão entre nós? Provavelmente, você, caro leitor, nem sabia dessa alegria brasileira. É que no dia de anúncio do prêmio o Brasil inteiro estava preocupado com Virginia Fonseca das Bets.

Nossos senadores, que deveriam estar em sessão solene homenageando a brilhante cientista, “tietavam” a influencer que, claro, tem seu valor, mas, convenhamos, não muda o mundo como doutora Hungria.

Esse é o país. Ednaldo, da CBF, ganhava 5 milhões de reais por ano e saiu de tanta bandalheira. Aliás, por corrupção, assédio sexual e suspeita de fraude, 5 dos últimos seis comandantes de nosso futebol foram afastados. O que conseguiu concluir o mandato, José Maria Marin, foi preso meses depois em Nova Iorque, internacionalizado o vexame brasileiro.

Nos últimos cinco anos, seis ex-governadores do Rio foram afastados ou presos. Um deles, condenado a 400 anos de cadeia, passeia na praia.

Enquanto nossa democracia engatinha, nos últimos quarenta anos, tivemos impeachment de dois presidentes, prisão de outros dois e um quinto está sendo processado por tentativa de golpe de Estado.

Quem dá a palavra final sobre safadeza é o Supremo Tribunal que, por inúmeras razões e pesquisas, não tem a confiança da maioria dos brasileiros.

É impossível não ser rabugento

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Antes de trabalhar no rádio, Eduardo Costa foi ascensorista e office-boy de hotel, contínuo, escriturário, caixa-executivo e procurador de banco. Formado em Jornalismo pelo UNI-BH, é pós-graduado em Valores Humanos pela Fundação Getúlio Vargas, possui o MBA Executivo na Ohio University, e é mestre em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Agora ele também está na grande rede!

A opinião deste artigo é do articulista e não reflete, necessariamente, a posição da Itatiaia.